Cotidiano

Festival do Vale do Café combina música e cachaça no interior do Rio

INFOCHPDPICT000060083428VASSOURAS – Este fim de semana será de música, cachaça e visitas a fazendas históricas no 14º Festival Vale do Café, que teve início na semana anterior. Uma interessante novidade desta edição do evento é a entrada de cachaçarias da região no roteiro de visitação, que ainda mantém as deslumbrantes fazendas onde acontecem concertos e shows. Afinal, o Vale do Café há muitas décadas é mais conhecido por suas cachaças do que pela bebida que lhe dá nome. As premiadas Magnífica e Werneck, que estão na rota, são os exemplos mais célebres. A primeira receberá visitantes nesta sexta, enquanto a segunda abrirá às portas no sábado.

? Este ano, comecei a exportar para a Califórnia e a Inglaterra. Já exportei para a China, mas desde que criaram lá uma lei anticorrupção, o comércio de bebidas de luxo diminuiu. Descobri que os chineses davam bebidas finas de presente a funcionários públicos em troca de favores ? conta o proprietário da Werneck, Eli Werneck, que, além de histórias divertidas como essa, narra o processo de fabricação de suas cachaças enquanto mostra o maquinário aos visitantes.

BV Vale do Café

No mesmo município da Werneck, Rio das Flores, fica a Fazenda União, onde o violonista Turibio Santos se apresenta nesta sexta, às 11h, junto com o flautista Celso Woltzenlogel e o violonista Rafael Nogueira. A visita à propriedade, de 1836, é feita com guias vestidos com roupas de época e passa pela casa-grande, onde há itens como uma coleção de louças do tempo do Império, e pela senzala, que guarda instrumentos de tortura usados nos escravos (e bonecos em tamanho real, que tornam a experiência mais vívida). No jardim, é realizado um “sarau afro”, com músicas dançadas pelos escravos na senzala. A casa senhorial, que pertenceu ao Visconde do Rio Preto, hoje abriga um hotel fazenda.

Por falar em música “afro”, a Fazenda da Taquara, uma das poucas da região que ainda produz e comercializa café, será o cenário, na manhã de sábado, do show ?Afrosambas?, do cantor Marcos Sacramento e do violonista Zé Paulo Becker. Essa fazenda, construída nos anos 1830, ainda está na família de seu proprietário original, o comendador João Pereira da Silva, e guarda móveis e retratos antigos. Os participantes do festival podem visitar duas fazendas por dia, de sexta a domingo, sempre com shows nos locais. Ou podem abrir mão da fazenda programada na faixa das 11h para fazer a visita a duas cachaçarias (Magnífica e Pilão na sexta; Werneck e Vilarejo no sábado; e Carvalheira e Ribeirão no domingo).

Uma das fazendas mais rica em histórias naquela região hospedou um concerto do festival no fim de semana passado (são 12 fazendas em seis dias de programação; ou seja, duas por dia, sem repetições), mas permanece aberta aos interessados que desejem explorá-la (com taxa de entrada a R$ 45) ou que desejem se hospedar ali (R$ 350, a diária). Trata-se da Vista Alegre, que tem como dono e guia Délio de Mattos Filho, um apaixonado pela história do café.

Piscina - Gisele Kosminsky.jpg? De 1820 até a Lei Áurea, o Brasil respondia por 55% do café consumido no mundo. Esta região era muito próspera. A Fazenda Vista Alegre foi dada, em 1852, ao Visconde de Pimentel como herança. Ele era um homem de mentalidade liberal e avançada. Construiu, na propriedade, a Escola dos Ingênuos, que alfabetizou e deu formação profissionalizante a pobres e escravos, e fundou uma casa da música, que chegou a ter uma orquestra, formada pelos trabalhadores. Nem sei se podemos chamá-los de escravos. O visconde não estava muito interessado em explorar mão de obra e produzir café em grandes quantidades para enriquecer. Ele tinha preocupações humanitárias e alforriou muitos escravos ? conta Mattos, que tirou as informações de publicações do século XIX, como o ?Jornal do Commercio?. ? A fazenda recebeu vários convidados ilustres, como a família imperial e o compositor americano Louis Moreau Gottschalk, autor da “Grande fantasia triunfal sobre o hino nacional brasileiro”.

Mais informações sobre hospedagem e eventos do festival podem ser encontradas no site festivalvaledocafe.com.br.

Eduardo Fradkin viajou a convite do Festival do Vale do Café.