Cotidiano

Festival do Rio terá abertura na Cidade das Artes e telão no Boulevard Olímpico

RIO ? O público do Festival do Rio, aquele povo cinéfilo que corre maratonas e pula obstáculos para assistir a filmes filipinos de 4 horas, terá um percurso bem diferente nesta edição de 2016. A mudança começa já na sessão de abertura, em 6 de outubro, que pela primeira vez será realizada na Cidades das Artes, na Barra da Tijuca ? em 2015, o palco foi o Odeon, no Centro. Outra diferença significativa acontece na mostra Première Brasil, a dos filmes nacionais. Suas noites de gala deixam o Cinépolis Lagoon, fechado, e se mudam para o Cine Roxy, em Copacabana. Não muito longe dali, uma nova tela de cinema será erguida especialmente para o evento, no Boulevard Olímpico, no Centro, para exibições gratuitas. Links FestRio

No total, o Festival do Rio passará por 21 salas da cidade, mais duas do recém-inaugurado Reserva Cultural Niterói, exibindo filmes internacionais como ?A mulher que se foi?, de Lav Diaz, Leão de Ouro em Veneza, ?Eu, Daniel Blake?, de Ken Loach, Palma de Ouro em Cannes, e ?Personal shopper?, de Olivier Assayas, melhor direção em Cannes. O filme de abertura, porém, até ontem ainda não havia sido confirmado pela organização do evento.

As mudanças desta 18ª edição do festival são uma adaptação para o momento por que passam a cidade e o país. A crise financeira não é novidade, mas segue forçando um redimensionamento. Para fechar as contas, o evento trará menos convidados internacionais para o Rio, terá menos filmes e será mais compacto, segundo a organização. Desde sua estreia, em 1999, o festival sempre foi realizado durante 15 dias ininterruptos. Em edições passadas, a programação já chegou a 500 filmes ? em 2015, foram 320. Em 2014, o orçamento foi de R$ 8,5 milhões.

Desta vez, porém, a verba disponível é de cerca de R$ 6,5 milhões; o festival durará apenas 11 dias, de 6 a 16 de outubro; e terá 250 filmes.

? Todos os eventos estão se ajustando aos novos tempos ? diz Ilda Santiago, diretora-executiva do Festival do Rio. ? Passada a Olimpíada, temos uma cidade profundamente orgulhosa de si mesma. Mas todos os olhos e boa parte dos recursos foram voltados para o esporte, então não foi fácil fechar o orçamento. Nossa batalha é para que o público não sinta a diferença. Os grandes festivais internacionais, por exemplo, acontecem em 11 dias e funcionam muito bem assim.

Também em decorrência da Olimpíada, o festival perdeu o Cinépolis Lagoon, onde a competição da Première Brasil foi realizada nos últimos dois anos. O espaço da Lagoa Rodrigo de Freitas em que se localiza o cinema foi utilizado para as provas de remo e, portanto, ficará fechado até o fim de outubro. Seu substituto, o Roxy, é um cinema de rua e tem a vantagem do acesso mais fácil por transporte público, mas perde para o Lagoon no quesito capacidade: são três salas e 817 lugares no total em Copacabana, contra seis salas e 1.114 lugares na Lagoa. Já o Odeon (uma sala de 550 assentos), sede original da Première, alternará sua programação entre filmes nacionais, à tarde, e estrangeiros e alguns brasileiros mais disputados, à noite.

A passagem da abertura para a Cidade das Artes, por sua vez, é a concretização de um namoro antigo entre o festival e a gigantesca casa de concertos da Barra. Lá, serão destinados ao público 1.050 lugares, sendo que pela primeira vez 200 ingressos serão vendidos ? até o ano passado, as sessões de abertura eram restritas para convidados. O desejo da direção do festival é que se possa aproveitar a estrutura de transporte recém-construída para que as pessoas cheguem com mais facilidade à Cidade das Artes. Da mesma forma, há uma expectativa grande de que as sessões no já concorrido Boulevard Olímpico fiquem lotadas. De acordo com a organização, a tela montada será maior do que a que transmitia as disputas da Olimpíada e receberá filmes com caráter mais ?família?.

Entre as outras salas que receberão a programação cinéfila estão o Museu de Arte Moderna, o Ponto Cine, o Cinemark Downtown, o Oi Futuro Ipanema, o Instituto Moreira Salles e o Kinoplex São Luiz. Mais uma vez, como aconteceu no ano passado, boa parte dos cinemas do Grupo Estação, cujos sócios estão entre os organizadores do Festival do Rio, ficará de fora da mostra: apenas o Estação Botafogo 1 e as duas salas do Estação Ipanema terão exibições do evento.

? À medida que se reajusta o número de filmes, é natural que se readeque o circuito ? explica Ilda Santiago. ? O festival é um evento de convivência, de troca de experiências. As pessoas querem compartilhar os filmes, e isso não vai se perder. A ida da Première Brasil para o Roxy, por exemplo, é ótima para valorizar o cinema de rua do Rio.

Também como em 2015, a sede dos seminários e debates do RioMarket, o braço do Festival do Rio voltado ao mercado audiovisual, será o casarão do Colégio Brasileiro de Altos Estudos, no Flamengo. Com convidados como o argentino Armando Bó, vencedor do Oscar de roteiro por ?Birdman? (2014), suas atividades se concentrarão entre 5 e 12 de outubro e têm inscrições abertas no site www.riomarket.com.br. Já a data de início para a venda de ingressos para os filmes do festival ainda não foi definida.