Agronegócio

Fertilizantes: “não existe desespero”, mas é preciso planejamento, alerta Dilvo Grolli

Agora com esse alerta da falta desta matéria prima, o Governo Federal está lançando um Plano Nacional de Fertilizantes, que será uma flexibilização de liberação de exploração de minas

Importação de fertilizantes segue em alta nos portos do Paraná - Paranaguá, 10/12/2021
Importação de fertilizantes segue em alta nos portos do Paraná - Paranaguá, 10/12/2021

 

Cascavel – A guerra entre a Ucrânia e a Rússia que completou um mês nesta quinta-feira (24) colocou uma grande alerta na questão do abastecimento dos fertilizantes no mundo todo, e se tornou uma das principais preocupações para os produtores brasileiros. O Brasil necessita de cerca de 45 milhões de toneladas ao ano de fertilizantes e 85% vem de fora, grande parte da Rússia. Com o assunto em evidência, a reportagem do Jornal O Paraná conversou com o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, que falou sobre a situação mundial, nacional e local.

Dilvo Grolli que sempre está com um olho na cooperativa e outro no mercado externo, reforçou que o problema dos fertilizantes hoje é grave no Brasil e no mundo, já que a Rússia e a Bielorrússia são dois países que são grandes fornecedores da matéria prima dos fertilizantes para muitos países, entre eles, o Brasil, como o potássio, fósforo e o nitrogênio. “Sempre foi mais barato trazermos essa matéria prima de fora, por causa da burocracia da liberação das minas deste tipo de processo, que estão mais concentradas na região do Pará, Minas Gerais e Amazônia”, explicou.

Agora com esse alerta da falta desta matéria prima, o Governo Federal está lançando um Plano Nacional de Fertilizantes, que será uma flexibilização de liberação de exploração de minas por empresas que tiverem interesse neste tipo de mercado, já que com os preços em alta, terá que se pensar em uma forma de resolver o problema a médio prazo. Atualmente a Rússia é responsável por cerca de 20% da matéria prima dos fertilizantes no Brasil, mais 17% da Bielorrússia, outros 30% são do Canadá e da China.

O presidente deu o exemplo de minas que podem ser exploradas no Brasil, mas que estão abaixo 800 metros do solo, ou seja, não é do dia para a noite para começar a explorar, mas que o plano sinaliza que o país estará mais flexível para tentar resolver o problema. “Mesmo que a guerra termine agora e tenha um acordo de paz, este ano já é certo que teremos uma deficiência de material, já que o fluxo interno de produtos dos dois países está muito prejudicado”, relatou.

Um dos reflexos é o aumento no preço, já que do ano passado para este aumento em 120% o preço dos fertilizantes, por isso agora, é mais viável que ocorra a exploração desses minerais no Brasil, já que começa a ficar mais caro trazer de fora. “Assim como foi feito na época do ferro, o governo federal deve incentivar a extração dos insumos, alterando as duas leis e reduzindo a burocracia”, salientou Dilvo.

Solo fértil

Uma das alternativas para a região Oeste e toda a região sul do país, conforme Dilvo, é uma análise do solo, já que é um solo fértil e bem adubado. Além disso, existe na região um aproveitamento de adubação orgânica de nutrientes da produção de aves e suínos, que acabam em parte substituindo o fertilizante mineral. A região sul do país é responsável pela a produção de 65% das aves e de 70% dos suínos do Brasil.

Dilvo explicou que em pronunciamento oficial a ministra Tereza Cristina disse que o país tem fertilizantes em estoque até outubro deste ano, que garantem a segunda safra de milho e de trigo, uma área de cerca de 17 milhões de hectares no país, mas já que a safra de verão, um total aproximado de 55 milhões deve faltar pelo menos uns 20%. Nesse sentido é que deve ser planejado e a partir de agora esse aporte no solo da adubação orgânica para substituir a mineral.

“Não existe desespero, mas é importante a gente definir estratégias para que isso seja o menos prejudicial possível para o produtor e que tenha reflexos na produção”, disse Dilvo.

 

Fábrica misturadora terá déficit de matéria-prima

 

A Coopavel completa este ano 30 anos desde a inauguração da Fábrica Misturada de Fertilizantes, uma das únicas cooperativas do Paraná que tem este tipo de fábrica. De acordo com o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, a fábrica produz cerca de 180 mil toneladas por ano, sendo que cerca de 110 mil fica na região oeste o restante vai para outras regiões, mas para propriedades de produtores que são cooperados com a Coopavel.

Dilvo disse que como eles fazem a mistura dos fertilizantes, precisam comprar a matéria prima de fora, mesma situação do país e por isso, terá também um déficit de material de cerca de 20% para a produção. “Já estamos pensando então nas alternativas que é intensificação do adubo orgânico, com restos de aves e de suínos e, para isso, temos dois projetos para um curto prazo de construir duas fábricas”, explicou.

Segundo o presidente, uma das unidades será em anexo a unidade de produção de leitões, no distrito de Juvinópolis, em Cascavel, que também será ampliada, passando de 12 para 20 mil matrizes e uma segunda unidade na área industrial de suínos, projetos que devem ser iniciados no próximo ano, para construção em 2024. “Este ano já temos o plano de investimentos fechado, mas vamos começar a planejar esses investimentos que são necessários, ainda mais com o cenário atual”, completou.

Dilvo reforçou ainda que paralelo a isso, a cooperativa já começou um trabalho mais intensificado na análise da qualidade do solo das propriedades, que é feito pelos técnicos da cooperativa em parceria com os próprios produtores. “Eles conhecem o seu solo e tem informações muitos importantes da rotação de culturas e do que a terra precisa, mas estamos sempre ajudando nisso”, salientou.

Crédito: Paulo Eduardo

 

Paraná orienta sobre o uso dos fertilizantes

 

Nesta semana a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) emitiram notas técnicas sobre a importância do fertilizante, particularmente o importado da Rússia, para a agricultura nacional e paranaense. As análises econômica e técnica tecem um panorama atual e projetam alternativas e estratégias de uso, tendo em vista o conflito estabelecido no Leste Europeu e a dependência brasileira em mais de 80% da importação do insumo.

nota preparada por economistas e residentes técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Seab, aponta que a importação de fertilizantes pelo Brasil atingiu o volume máximo em 2021, com crescimento de 45,4% em comparação a 2017. No entanto, houve diversificação na cadeia de países exportadores. No caso do Paraná, por exemplo, a participação russa apresenta tendência de queda.

Em 2019, 40% das compras era da Rússia, em 2020 caiu para 27%, e em 2021 houve mais uma redução de 20%, ficando na média de participação em 23% ao longo dos anos. O menor percentual se deve à concorrência estabelecida com outros exportadores, como Canadá e China que, em 2021, tiveram participação de 17% cada um, e Belarus, que contribuiu com 15% do fertilizante paranaense.

O Estado investiu US$ 908,4 milhões no ano passado com esse insumo. Até fevereiro de 2022, a Rússia enviou ao Paraná 105,14 mil de toneladas em fertilizantes, com predominância do cloreto de potássio. Os principais fertilizantes minerais são aqueles à base de nitrogênio, fósforo e potássio. No Brasil, as maiores indústrias produzem os dois primeiros, mas em quantidade insuficiente. Segundo a Seab, o investimento, por meio de projeto de pesquisa e desenvolvimento, na indústria de transformação de matéria-prima mineral em fertilizantes faz-se necessário para fortalecer a produção nacional. “Além disso, é fundamental o aprofundamento em relação ao estudo das questões ambientais ligadas à exploração mineral com a finalidade de produzir fertilizantes”, diz a nota técnica.

Altos preços

Por outro lado, a análise mostra que os preços dos fertilizantes seguem tendência de crescimento acelerada por conta do cenário conflituoso entre Ucrânia e Rússia e o apoio de Belarus aos russos, afetando o fornecimento de dois dos maiores exportadores de fertilizantes para o Estado. Situação preocupante, visto que o aumento médio em 2021 já foi de 125% em relação ao ano anterior, o que colocou esse insumo na dianteira quando se analisa os custos de produção agropecuária paranaense, na qual variou de 16% para a segunda safra de soja até 31% na primeira safra de milho.

“Dado o contexto de cancelamento das importações dos fertilizantes russos, nos próximos meses espera-se um aumento no nível de preços, que vai recair fortemente sobre a receita do produtor paranaense”, estima a Nota Técnica da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento.

Visão do IDR

Os técnicos do IDR-Paraná que assinam a outra Nota Técnica destacam a diversidade da agropecuária paranaense e a importância do Estado como produtor de grãos e proteínas animais. Acentuam, ainda, que o setor do agronegócio é um dos principais componentes da matriz econômica estadual. No entanto, ponderam que a maioria dos solos apresenta elevada acidez e baixos teores de nutrientes. “Portanto, a correção da acidez do solo e a adubação são as práticas que historicamente proporcionaram maiores incrementos na produtividade da maioria das culturas nessas condições”, diz a nota.

O documento propõe estratégias de curto, médio e longo prazo para aumentar a eficiência no uso de fertilizantes. Primeiramente, destaca algumas práticas aconselháveis para determinados tipos de solo. Uma delas é a calagem, técnica de preparo de solo com adição de calcário para neutralizar a acidez, ou a gessagem, que consiste no uso de gesso agrícola, rico em cálcio e sulfato, que melhora a exploração do solo pelas raízes. Com isso, aumenta a absorção de água e nutrientes pela planta.

Também ganha menção o manejo conservacionista do solo e da água, com uso de resíduos culturais e plantas de cobertura depositados na superfície para posterior incorporação biológica.

“A conservação do solo e redução do processo erosivo também são premissas para o bom manejo da fertilidade, uma vez que é necessário conter o escoamento superficial (sedimentos + água) que carreia nutrientes para fora da lavoura”, afirmam os técnicos do IDR-Paraná. Para garantir a fertilidade física do solo, a nota alerta sobre o risco que representa a compactação do solo proporcionada pelo tráfego inadequado de máquinas e equipamentos. “Promove a degradação da estrutura do solo, a qual compromete os fluxos de água e ar no perfil”.

A Nota Técnica orienta que se tenha conhecimento detalhado do solo e das exigências nutricionais das culturas para um adequado manejo de adubação. “A disponibilidade de nutrientes no solo é conhecida por meio da análise química, sendo a amostragem do solo a primeira etapa para recomendação de calagem, gessagem e adubação para qualquer cultura”, reforça.

Os técnicos também analisam fontes alternativas de nutrientes. “O uso de resíduos agroindustriais pode ser uma alternativa para substituição total ou parcial dos fertilizantes minerais, contribuindo para a fertilidade do solo e nutrição das plantas”, dizem.

Segundo eles, o uso de dejetos de animais é alternativa adequada, particularmente no Paraná, que é o maior produtor de frangos e o segundo na produção de suínos, além de ter uma destacada produção bovina. “Dessa forma, há grande geração de dejetos oriundos dessa concentração de animais alojados”, afirmam. “A utilização dos dejetos e a sua contribuição na fertilidade do solo e, consequentemente, na produtividade das culturas, tem sido positiva, tendo acréscimos nos teores de um ou mais nutrientes no solo.”

A nota acrescenta que, sob orientação técnica, também é possível utilizar resíduos agroindustriais orgânicos, provenientes de usina de açúcar e álcool (bagaço e palha de cana-de-açúcar, vinhaça, cinza de caldeira); abatedores (lodo de frigorífico tratado); fábrica de papel (lama de cal, cinza de caldeira, lodo biológico, casca de madeira); fecularia e lodo de esgoto tratado. Da mesma forma, pode-se usar bioinsumos, que são produtos com presença de microrganismos ou moléculas derivadas destes e/ou a ação microbiana.

Por fim, a Nota Técnica trata do Balanço de Nutrientes, uma ferramenta utilizada para avaliar o uso de fertilizantes na agricultura e possibilitar o planejamento e tomada de decisão do agricultor. “Para uma produção agrícola sustentável é necessário que os nutrientes removidos do solo pelas culturas sejam repostos pela aplicação de fertilizantes minerais ou orgânicos e estes alcancem elevados índices de aproveitamento”, diz a nota. “Nesse momento de escassez e altos custos dos fertilizantes, o Balanço de Nutrientes deve ser considerado para as próximas safras com objetivo de racionalizar o uso de fertilizantes a serem aplicados. Nesse caso, o produtor deve buscar a obtenção da máxima margem de lucro, associada ao menor risco financeiro possível.”