Cotidiano

Ferrugem põe produtores em alerta

Doença traz mais preocupação ao campo que já sofreu com estiagem, excesso de chuva e desenvolvimento ruim

Toledo – O aparecimento de pelo menos oito casos de ferrugem asiática na soja em estados como o Rio Grande do Sul (sete casos) e o vizinho Mato Grosso do Sul, um caso na cidade de Dourados, coloca, mais uma vez, os produtores do Paraná em alerta. Por aqui a doença ainda não atacou, mas se sabe que é apenas uma questão de tempo se não houver prevenção.

Segundo o Consórcio Antiferrugem, todos os registros são em lavouras voluntárias, em plantas que nasceram sem ser cultivadas propositadamente e se devolveram pela falta de manejo, e são registros da doença com aparecimento também voluntário, ou seja, o fungo encontrou condições climáticas propícias para se alojar, se desenvolver e começar a proliferação.

O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro onde há o maior número de registros nesse ciclo. Em seguida está o Mato Grosso, com cinco registros e Goiás, com três.

Para o aparecimento da doença o que se precisa, basicamente, é de umidade ao amanhecer e ao anoitecer, temperaturas mais amenas nesses mesmos períodos e o calor mais intenso durante o dia.

Um dos aspectos que mais preocupam é que o contágio entre lavouras ocorre muito rapidamente pela deriva. Como o vento pode carregar o fungo, se o produtor não estiver atento, mantiver a vigilância para comunicar a assistência técnica sobre qualquer sinal de amarelamento das folhas e bem preparado para combatê-lo, pode ter comprometimento total e perder áreas inteiras. “A doença é a que mais preocupa no ciclo da soja”, afirma o engenheiro agrônomo de Toledo Itamar Leandro Suss.

Aplicações preventivas iniciam na próxima semana

Como a doença já é uma velha conhecida e extremamente temida pelos sojicultores, a orientação técnica prevê que as primeiras aplicações de fungicidas ocorram a partir da próxima semana. Trata-se de dosagem preventiva que deve começar pelas lavouras plantadas mais cedo, ainda no mês de setembro. “E é preciso manter a vigilância. O mais indicado é que cada produtor converse com os técnicos da sua área para saber o momento mais adequado para fazer a aplicação”, destacou Itamar Leandro Suss.

No ano passado a região contabilizou cerca de 20 casos da ferrugem, todas na reta final do ciclo, o que contribuiu para não ter comprometimento e perda de produtividade, pois os grãos já haviam se desenvolvido e estavam prontos para a colheita. Ocorre que, se a doença atacar as plantas, ação que inicia pelo caule e só então sobe à parte superior da planta, no início e no meio do desenvolvimento, as perdas podem ser irreversíveis, tendo em vista que o fungo inibe o enchimento de grãos.

Lavouras já sofreram com seca e enxurrada

A ferrugem é só mais uma preocupação nesta safra de verão. Nos Núcleos Regionais da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Toledo e de Cascavel, em 48 municípios, são cultivados pouco mais de 1 milhão de hectares, onde a expectativa inicial era colher quase 4 milhões de toneladas. Inicialmente o que se sabe é que essa marca dificilmente será alcançada tendo em vista uma soma de fatores e nenhum deles favoráveis. Um levantamento preliminar de redução na produção deve ser divulgado nos próximos dias.

Dentre os influenciadores estão, em primeiro lugar, a seca. Sem condições favoráveis para o plantio no início do ciclo, quando ocorreu o fim do vazio sanitário, no dia 10 de setembro, muitos agricultores precisam protelar o cultivo. No fim daquele mês, quando muitos se viram pressionados para iniciar o cultivo sob o risco de comprometer a safrinha de milho, começaram a semeadura no pó, em um ambiente árido e sem qualquer umidade. A partir daí foi esperar ansiosamente pela chuva para que os grãos fecundassem no solo. “Plantei 100 hectares e fiquei torcendo para que a chuva viesse. Dormia e amanhecia olhando para o céu”, conta o agricultor Danielo Klaus.

A precipitação veio apenas no começo de outubro para alívio de muitos e desesperos de outros que tiveram de replantar porque as sementes morreram debaixo da terra pela falta de umidade no tempo certo. “Algumas áreas passaram por isso e tiveram de ser replantadas”, afirmou o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) Paulo Oliva.

700 mm de chuva

Quando tudo caminhava para certa normalidade, após longos períodos de estiagem, veio a enxurrada. Em apenas um mês, em outubro, foram registrados na região 700 milímetros de chuva, quando a média histórica era de 200 milímetros. “Mais uma vez houve casos em que os produtores tiveram de replantar, só que então porque as lavouras foram levadas embora em decorrência do excesso de chuva”, lembra o técnico José Pértille, do Deral em Cascavel.

Entre seca e chuva, o cultivo ficou atrasado em quase um mês. Isso significa que essas condições deverão influenciar lá na frente, no plantio da safra de inverno, no qual a cultura predominante na região é a de milho e o cultivo deve ser feito, impreterivelmente, até 28 de fevereiro, quando se encerra o zoneamento agrícola na maior parte das cidades do oeste paranaense.

Torcida contra o La Niña

Segundo o técnico Paulo Oliva, em torno de 30% das lavouras de soja na região, ou seja, cerca de 300 mil hectares, já deveriam estar em floração. Ocorre que 100% do cultivo ainda está em desenvolvimento vegetativo. “Acreditamos que para chegar aos 30% de floração vá ainda uns 20 ou 25 dias”, prevê.

Em média, as plantas estão bem menores do que deveriam estar neste período e o déficit de crescimento pode chegar a cerca de dez centímetros. “Isso significa que o desenvolvimento está atrasado”, completa o técnico do Deral.

Isso ocorre, essencialmente, porque as condições climáticas não estão colaborando. A soja precisaria de mais calor e neste mês de novembro o que se viu até então são temperaturas médias mais baixas que o usual para o período. “Esperamos que nesta semana, com a promessa de sol, sem chuva e com os termômetros mais elevados, o desenvolvimento adiante um pouco e caminhe para a normalidade”, reforça Paulo Oliva.

Além de tudo isso, a torcida é para que o fenômeno La Niña não se confirme: “Isso também pode influenciar no desenvolvimento das plantas, pois o La Niña para o Sul do País promove uma escassez de chuva. No ciclo 2016/2017 estávamos em um período de neutralidade climática, sem fenômenos em vigência, havia um temor de que as lavouras sofressem com as condições climáticas, no fim, tudo deu tão certo que tivemos a melhor produtividade média dos últimos 20 anos, a safra foi excepcional e recorde. Fica agora a torcida”, concluiu.