Cotidiano

Ferrugem asiática: Perdas nas lavouras de soja já se aproximam dos 10%

Municípios do Oeste apresentam focos da doença; casos subiram 11%

Cafelândia – Em apenas uma semana, os casos de ferrugem asiática subiram 11% nas lavouras paranaenses, passando de 74 para 82 focos da doença. Esse acréscimo preocupa ainda mais os agricultores que apostaram na safra de soja, principalmente pelo excesso de chuvas e a dificuldade em aplicar fungicidas em solo alagado.

Conforme o departamento técnico de uma cooperativa em Cascavel que faz o monitoramento das lavouras de soja do município, estima-se que a ferrugem asiática já trouxe prejuízos às lavouras da região, com perdas que variam de 5% a 10%.

Os municípios mais afetados pela doença no Oeste são Cafelândia, com três ocorrências, Assis Chateaubriand, Cascavel, Toledo, Ouro Verde do Oeste, Marechal Cândido Rondon e Palotina, cada um deles com uma confirmação.

“O agricultor vive um drama, pois no mesmo dia em que consegue aplicar o fungicida, há registro de chuva, o que estraga todo o produto, perdendo sua eficácia. Para a agricultura esse é um ano excepcionalmente úmido, característico para o desenvolvimento da ferrugem asiática”, relata o pesquisador da Embrapa, Amélio Dall’Agnol.

Sem conseguir efetuar o controle necessário a partir da pulverização preventiva, os cultivares plantados mais cedo, na segunda quinzena de setembro, são os mais afetados pela doença.

“A ferrugem está explodindo na região, e o risco de perdas ainda maiores é iminente se não houver controle”, diz o agricultor João Nazari, que tem aproximadamente 150 hectares da oleaginosa cultivados e que teme queda em sua produção.

Ele ressalta que há possibilidade de lavouras apresentarem até 50% de quebra, visto a rápida disseminação do fungo.

“O monitoramento é fundamental para não deixar [a doença] evoluir, procedimento que faço a cada três dias na tentativa de garantir uma boa safra”, acrescenta Nazari.

O mais recente dos boletins da Seab (Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento) apontou que 2% da área plantada de soja em todo o Paraná já é considerada ruim, prejudicada em grande parte pela ferrugem asiática. Os locais mais atingidos estão em Ivaiporã, onde quase 30 mil hectares se encontram nessa situação, Cornélio Procópio (13,8 mil hectares) e Guarapuava (13,4 mil).

Entre os núcleos de Toledo e Cascavel, a Seab considerou 10% da área total – 1,03 milhões de hectares – como média. Isso representa 56.073 hectares em Cascavel e 47.377 na região de Toledo.

“Quanto a doença vai prejudicar as lavouras de soja ainda não se sabe, mas os produtores estão muito preocupados”, alerta Dall’Agnol.

No Paraná, por enquanto 86% das plantações de soja estão em boas condições, cerca de 4,52 milhões de hectares. Apesar disso, a presença do fenômeno El Niño é um forte indicativo de que a agricultura corre sérios riscos.

“O agronegócio é hoje o que ainda mantém a economia brasileira. Se realmente forem contabilizados grandes prejuízos, o País pode entrar em colapso”, afirma o pesquisador da Embrapa.

Outras pragas

Segundo levantamento da Seab, 34% das lavouras de soja estão em fase de floração, o que de acordo com o gerente técnico e econômico do Sistema Ocepar, Flávio Turra, se torna um período de alerta também as pragas conhecidas do agricultor, como os percevejos, o mofo branco e a lagarta.

“É importante o controle, a prevenção tanto da ferrugem quanto de outras doenças. Há indícios de uma boa safra, mas o excesso de chuva prejudica”.

O agricultor é hoje dependente de controles químicos, e em muitos casos, as opções estão cada vez mais escassas devido à rapidez com que as pragas, inclusive os fungos, adquirem resistência aos produtos.

(Com informações Marina Kessler)