Cotidiano

Falta de acessibilidade no PDI aciona MP

A Adefica (Associação dos Deficientes Físicos de Cascavel) se reúne com representantes do Ministério Público dia 21, às 9h, no escritório da Cettrans (Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito), para discutir um problema restringe direitos das pessoas com deficiência: a falta de acessibilidade.

Desta vez o tema são as obras do PDI (Programa de Desenvolvimento Integrado) em toda a extensão da Avenida Brasil.

Conforme o presidente da Adefica, Nelson Cabral, nas vagas de estacionamento exclusivas a deficientes não há recuo necessário para que motorista e passageiro saiam do veículo com segurança. Vale lembrar que o PDI está sendo bancado com recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), de cerca de US$ 28,7 milhões, mais contrapartida de valor igual do Município.

“Quando o cadeirante vai sair do carro pelo lado do motorista, ele precisa colocar a cadeira de rodas na rua e procurar uma rampa de acesso para chegar até a calçada, pois, na Avenida Brasil, a vaga de deficiente foi feita sem recuo e sem rampa. A rampa, neste caso, fica distante da vaga, trazendo mais dificuldades”, diz Cabral. “O ideal seria que, além do espaço para estacionar o veículo, houvesse ainda outros 90 centímetros para que o cadeirante pudesse retirar a cadeira de forma a preservar sua integridade física”, explica.

Cabral ressalta que, embora tenha sido planejada uma nova estrutura para a avenida, pouco se fez em relação à acessibilidade. “A revitalização da Avenida Brasil não levou em conta a necessidade dos deficientes físicos. Não há acessibilidade. É inadmissível isso, já que é algo previsto em lei”, lamenta o presidente da Adefica, que reforça: “Não é a gente que deve se adaptar ao meio, mas o meio deve se adaptar a todas as necessidades que existem hoje”.

Exemplo do descaso

Tadeu Janning tem uma rotina árdua. Todos os dias, ao estacionar o veículo adaptado nas vagas exclusivas a cadeirantes, ele se vê dependente da boa vontade de desconhecidos para ajudá-lo a sair do carro. “Sempre peço ajuda, pois quando tiro a cadeira de rodas do banco de trás do veículo preciso deixá-la na rua até que eu saia do carro. É neste momento que encontro sérias dificuldades, já que corro o risco de ser atropelado. Sem contar ainda com o desrespeito de alguns motoristas que, mesmo vendo a situação, preferem nos xingar dizendo que lugar de cadeirante não é na rua”, relata.

Janning lembra que já foi quase atingido por um veículo. “O trecho que eu estava passando não tinha rampas e precisei me deslocar pela rua, já que não conseguia subir na calçada. E foi aí que um carro quase me ‘fechou’. Se eu não tivesse desviado rapidamente, teria sido atropelado”, recorda.

Calçadas inclinadas

Embora a obra se muito recente, andar pelas calçadas da Avenida Brasil também não é tarefa fácil para os deficientes físicos. Uma idosa que pediu para não ser identificada considera um sofrimento ter de trafegar pela avenida. “Eu tenho cadeira manual e, como a calçada é inclinada e mais baixa para o lado da rua, a gente acaba perdendo o equilíbrio. É um esforço enorme andar por aqui, mas, como preciso trabalhar, tenho que dar um jeito”.

O presidente da Adefica, Nelson Cabral, tem problemas em uma das pernas e monta um verdadeiro quebra-cabeça antes de sair de casa. “Tenho a perna direita mais curta que a esquerda e quando sei que vou andar no Centro, pela calçada, preciso deixar a [perna] direita do lado mais alto da calçada para não mancar”, conta.

O que diz a prefeitura

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Cascavel para que alguém pudesse falar a respeito dos problemas e de possíveis soluções, especialmente sobre a falta de recuo nas vagas de estacionamento para cadeirantes na Avenida Brasil, mas não houve retorno.