Saúde

Fabricante da ivermectina diz que dados não apontam eficácia contra covid-19

Merck diz em comunicado que há ausência preocupante de dados quanto à segurança da substância nesse contexto

Fabricante da ivermectina diz que dados não apontam eficácia contra covid-19

A farmacêutica MSD (MerckSharp&Dohme), responsável pelo desenvolvimento do medicamento ivermectina, informou em comunicado na quinta-feira (4) que não há dados que sustentem o uso do remédio contra a covid-19. A indicação da Ivermectina é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e a substância é recomendada também em um aplicativo desenvolvido pelo Ministério da Saúde com orientações de tratamento contra o novo coronavírus. Diversas prefeituras já chegaram a fazer a distribuição gratuita da substância como tratamento precoce, a exemplo de Toledo, no oeste do Paraná, no início deste ano, cuja prática foi suspensa após intervenção de farmacêuticos locais. A reportagem é de Marco Antônio Carvalho, de O Estado de S.Paulo.

Em seu comunicado, a empresa, que deteve a patente da ivermectina até 1996, disse que não há base científica para um potencial efeito terapêutico contra a covid-19 em estudos pré-clínicos. A empresa acrescentou, também, que não há evidência significativa de eficácia clínica em pacientes com a doença. Além disso, a farmacêutica ainda pontuou que há uma preocupante ausência de dados sobre segurança da substância nesse contexto na maior parte dos estudos.

“Não acreditamos que os dados disponíveis sustentem a segurança e a eficácia da ivermectina além das doses e dos grupos indicados nas informações de prescrição aprovadas por agências regulatórias”, declarou a Merck, que destacou que seus cientistas continuam a examinar cuidadosamente os achados de todos os estudos disponíveis.

Contra vermes

A recomendação original de uso da ivermectina presente em bula é voltada para tratamento de infecções causadas por parasitas. No Brasil, ao longo da pandemia, ganhou força a informação sem base científica de que o remédio seria eficaz contra a covid-19. Em agosto do ano passado, Bolsonaro anunciou que a Anvisa facilitaria o acesso ao remédio para uso contra a covid-19 ao não cobrar mais retenção de receita. As vendas do produto dispararam nas farmácias, já que o produto não exige prescrição médica.

Mas em julho, ou seja, um mês antes, a Anvisa já havia se pronunciado, sustentando que não existiam estudos conclusivos sobre o uso do medicamento nesse contexto. “As indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”, reforçou a agência de vigilância sanitária.

Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde lançou o aplicativo TrateCOV, para orientar o enfrentamento da covid-19, que recomenda o uso da ivermectina, além de outros medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina. O Ministério da Saúde afirma que o TrateCOV sugere o diagnóstico por meio de sistema de pontos que obedece “rigorosos critérios clínicos”. No dia seguinte, a plataforma foi retirada do ar. Dias depois, o próprio ministro Eduardo Pazuello disse à imprensa que nunca recomendou tratamento precoce para a covid-19.

 

Direito de resposta

Por meio de notificação extrajudicial, a Vitamedic Indústria Farmacêutica Ltda. solicitou a publicação do seguinte direito de resposta sobre o uso de ivermectina no tratamento precoce da covid-19:

“A VITAMEDIC INDÚSTRIA FARMACÊUTICA, produtora da Ivermectina no Brasil, esclarece que a declaração do grupo farmacêutico MERCK – MSD sobre a eficácia do medicamento Ivermectina no tratamento da COVID-19, reflete sua opinião isolada sobre o assunto. A empresa MERCK MSD não é produtora de Ivermectina para humanos no Brasil. Desconhece-se qualquer estudo pré-clínico que essa empresa tenha realizado para sustentar suas afirmações quanto a ação terapêutica no contexto da pandemia do COVID-19. Contrariamente ao que diz a empresa MERCK, existem evidências médicas e científicas ao redor do mundo demonstrando a ação antiviral do medicamento. Dezenas de estudos feitos em diversos países demonstram os benefícios do medicamento especialmente nas fases iniciais da doença e, por essa razão, a comunidade médica internacional e também do Brasil passou a inclui-la nos protocolos de tratamento da COVID-19. Trata-se de um medicamento de baixo custo e de reduzido impacto em termos de efeitos adversos.”

 

Texto editado às 18h57 para corrigir o nome da farmacêutica. Segundo a Merck, trata-se da “MSD (Merck Sharp&Dohme), uma empresa americana, totalmente diferente e não relacionada à Merck, empresa alemã. A Merck detém os direitos do nome e da marca Merck internacionalmente, exceto no Canadá e nos Estados Unidos, onde a empresa opera como EMD Serono, MilliporeSigma e EMD Performance Materials”.

Texto editado às 12h do dia 22 de fevereiro de 2021 para inclusão do direito de resposta da Vitamedic Indústria Farmacêutica Ltda.