Agronegócio

Exportações de grãos param e silos começam a ficar cheios

Com 35% da safra anterior armazenada, preocupação agora é espaço para o milho

Cascavel – Há praticamente dois meses a região oeste do Paraná praticamente parou a exportação de grãos, principalmente soja, segundo item da pauta da balança comercial. Quase 35% do que foi colhido na última safra de soja continua estocado. São quase 1,3 milhão de toneladas da oleaginosa que esperam compradores às vésperas do início da colheita do milho safrinha, cuja produção estimada é de 720 mil hectares, sendo 4 milhões de toneladas apenas na região. Grãos que precisam de espaços em silos e armazéns. O problema agora é o impasse em torno da nova tabela do frete mínimo, que encareceu em até 100% o valor do transporte.

O Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) já prevê que não haverá como acomodar as safras de inverno no Paraná, de trigo e de milho. Segundo o especialista em logística do sistema, Nilson Hamk Camargo, a alternativa será a adotada nos ciclos 2012/2013, quando o Estado colheu uma supersafra e não havia capacidade de estocagem. A alternativa será manter os grãos a céu aberto com riscos iminentes de perdas e de queda de qualidade com excesso de umidade e de baixas temperaturas.

Para o especialista, o caos já está implantado e a tendência é para novas complicações se alternativas imediatas não forem anunciadas. “Nesta semana entrei em contato com o porto [de Paranaguá] e me disseram que havia dificuldades para carregar alguns navios, que parte desafogou com o transporte via ferrovia, mas, se considerarmos que na última safra 82% do transporte foi feito por rodovias, o porto pode parar em poucos dias e os navios não serão embarcados”, alerta.

O especialista destaca que a expectativa é de que algumas definições sejam tomadas ainda nesta semana. “Caminhoneiros e embarcadores precisam ganhar dinheiro, pagar as contas, uma solução é necessária, mas, se a situação perdurar por mais duas semanas, um mês, o caos total estará definitivamente implantado no Paraná porque é preciso cumprir contratos”, completou, ao avaliar que, de modo geral, as medidas anunciadas tendem a ser paliativas, sem grandes mudanças em infraestrutura e logística no País, uma vez que o governo caminha para seus últimos meses de gestão.

O que interfere nas transações

Uma série de fatores tem afetado as vendas da soja em um ano que se esperava recordes mensais de exportação e, por enquanto, o mercado não conta com recuperação imediata.

Primeiro o fator que influenciou foi a desaceleração das transações no início do mês de maio, quando o produto teve uma supervalorização na Bolsa de Chicago. Para equilibrar os preços, os chamados prêmios foram readequados e no mercado interno o que se viu foi uma paralisação dos contratos após recordes de embarques no Porto de Paranaguá nos meses de março e abril.

O que o segmento não contava era com a greve dos caminhoneiros, que durou dez dias e parou o País no fim do mês passado. Para agravar o quadro, veio a tabela de preços mínimos do frete divulgada como MP (Medida Provisória) em Resolução do dia 30 de maio, na qual os valores impostos são classificados como “impraticáveis”.

No caso da região oeste, o aumento médio para o transporte da soja chega a 55% rumo ao porto e a tonelada durante a safra, que antes custava de R$ 110 a R$ 120 para desembarcar nos navios, hoje não sai por menos de R$ 170 a R$ 180.

Com o propósito de readequar os valores, o governo chegou a anunciar na semana passada uma nova tabela, mas recuou horas depois após pressão dos transportadores autônomos.

No meio do caminho estão entidades de classe como Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) e CNI (Confederação Nacional das Indústrias), além de uma série de outras, que já recorreram à Justiça pedir a derrubada da tabela, sob a alegação de interferência do governo na lei de livre mercado e tabelamento de preços. A CNA foi direto ao Supremo pedir a suspensão da medida provisória, mas a decisão ainda não foi anunciada.

Mercado travado

Segundo o especialista de mercado Camilo Motter, lá se vai um longo período com mercado estagnado. “São poucos os que têm fechado contrato, menos ainda os que têm transportado. A maioria relata que os valores dos fretes estão altos demais e se praticar os preços antigos pode haver multas”.

As multas, neste caso, referem-se à reparação dos valores mínimos de frete previstos na resolução.

Colheita do milho: produção de 4 milhões de toneladas

Para o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, o fator mais preocupante agora é a indecisão sobre os processos logísticos do transporte. "Nossa produção é de dez a 12 milhões de toneladas por ano e temos capacidade de armazenamento de pelo menos 10 milhões de toneladas. Mas há grande demanda do mercado interno nas cadeias de aves e suínos e, como boa parte da safra passada já foi vendida, capacidade para estocar nós temos”, explica.

Segundo Dilvo, o que preocupa é com o transporte, pois apenas metade do movimento normal está saindo da região. “Existem contratos que precisam ser cumpridos e é isso o que tem ido”.

Os caminhões que têm rodado, prioritariamente, são as frotas próprias de frigoríficos e cooperativas. A maioria dos terceirizados estão parados.

No oeste, em torno de 35% das carnes refrigeradas – aves e suínos – chegam ao porto via ferrovia. Quanto aos grãos, somente 5% seguem via ferrovia e o restante vai por caminhões.

Porto de Paranaguá tem melhor maio da história

O Porto de Paranaguá fechou o mês de maio com 4,39 milhões de toneladas de cargas movimentadas, a maior marca da história para o mês. A marca, que é 4,8% superior à registrada no ano passado, foi alcançada mesmo com os dez dias de paralisação dos caminhoneiros pelo Brasil inteiro.

O recorde atesta o aumento de produtividade do Porto de Paranaguá, além da diversidade modal e a capacidade de armazenamento do complexo portuário. “Investimos mais de R$ 635 milhões nos últimos anos e nos tornamos um porto muito mais ágil”, afirmou o diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Lourenço Fregonese. “Os 21 dias em que pudemos operar normalmente foram suficientes para garantir uma movimentação recorde no mês”, acrescentou.