Saúde

EXCLUSIVO: À beira do colapso na saúde, Ministério desabilita 82,5% dos leitos de UTI no Paraná

O Paraná volta a registrar seu pior momento na pandemia, com o sistema de saúde à beira do colapso e sem condições de expansão. Apesar disso, o Estado teve 82,5% dos leitos exclusivos para tratar covid-19 desabilitados pelo SUS

EXCLUSIVO: À beira do colapso na saúde, Ministério desabilita 82,5% dos leitos de UTI no Paraná

Alas Covid

 

Ministério desabilitou 82,5% dos leitos de UTI do Paraná

 

Curitiba – A 20 dias de completar um ano do registro dos primeiros casos, o Paraná volta a viver um momento crítico da pandemia do novo coronavírus. Em algumas regiões do Estado, a exemplo da Macrorregional Oeste, o sistema de saúde está na iminência do colapso, com UTIs lotadas e sem estrutura física e humana para expansão.

E, no auge da pandemia, o Paraná lida ainda com outro problema. O Ministério da Saúde desabilitou 82,5% dos leitos de UTI exclusivas para covid-19, reduzindo substancialmente a ajuda de custo. Em dezembro, o número de leitos habilitados pelo MS para todo o Estado (Sesa e municípios em conjunto) era de 746. Em fevereiro, 130. E não há previsão nem garantia de manutenção da habilitação para o mês de março.

Em termos financeiros, o corte é na mesma proporção. Em dezembro, o Estado recebeu R$ 35,808 milhões, parcela similar em janeiro (R$ 32,448 milhões), mas em fevereiro ela despencou para R$ 6,624 milhões.

Segundo a Sesa (Secretaria de Estado de Saúde), a habilitação de leitos para o Paraná é feita pelo Ministério da Saúde, com repasses tanto para o Estado quanto para os municípios que detêm gestão do teto financeiro da média e alta complexidade, caso de Foz do Iguaçu. Sendo assim, independe se o recurso seja para um ou outro ente federativo, ele é repassado de acordo com o número de leitos, à razão de R$ 1.600 a diária, e é utilizado para a manutenção dos leitos exclusivos covid-19 nos hospitais. A diferença é custeada pelo Estado (ou pelo município, em caso de gestão plena). Em média, a diária de UTI pode chegar a R$ 4 mil.

Esse corte do Ministério ocorreu em todo o País, e vem sendo alertado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), sem sucesso de reversão.

Apesar do significativo corte, o número de leitos no Paraná não reduziu, fisicamente. A conta é que foi ampliada ao governo estadual. Em dezembro, por exemplo, havia 1.182 UTIs SUS no Estado, e, em 19 de fevereiro, eram 1.248.

Conforme a Sesa, não há planejamento de redução de leitos no Paraná caso o MS pare de financiar. “O Estado procurará manter o financiamento, porém, pode se tornar inviável do ponto de vista orçamentário. Se isso ocorrer, leitos serão de fato desativados, e haverá grande impacto na assistência”, informa a secretaria, em nota.

A reportagem tem procurado o MS a respeito do assunto, mas não há resposta.

 


Colapso na saúde: Momento é considerado caótico e deve piorar nas próximas semanas

 

Cascavel – A situação dos hospitais da Macrorregional Oeste é considerada caótica e o sistema de saúde está na iminência do colapso. Nessa sexta-feira (19), a taxa de ocupação de UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) chegou a 92,3% e a ocupação de enfermarias atingiu 74,4%.

“Este é o momento mais delicado do nosso sistema de saúde desde o início da pandemia. Estamos passando por um momento muito difícil em relação aos internamentos de pacientes com covid-19. Os hospitais estão completamente cheios”, declarou o diretor-geral do Hospital de Retaguarda de Cascavel, Lísias Tomé. Nessa sexta, os 14 leitos de UTI estavam ocupados e havia apenas cinco leitos de enfermaria vagos.

“Os pacientes de municípios vizinhos também estão em estado grave, intubados, precisando de respiradores. Estamos incansavelmente procurando saídas em conjunto com a 10ª Regional, com o secretário de Saúde, Thiago Stefanello, com a administração do Hospital de Retaguarda, do Hospital Universitário, para ver o que conseguimos fazer para minimizar essa triste situação. O quadro se agravou bastante. Vivemos uma situação caótica e, infelizmente, a nossa projeção é que a situação fique ainda mais crítica e complicada nas próximas duas ou três semanas”, alerta.

Ainda pela manhã, a Prefeitura de Cascavel emitiu alerta de risco iminente da saúde. O secretário de Saúde, Thiago Stefanello, explicou: “Estamos em risco iminente de colapso no sistema de saúde da região e é impossível evitar isso e garantir atendimento aos pacientes sem a ajuda das pessoas. Pedimos encarecidamente que a população redobre os cuidados”, solicitou.

Em Cascavel, a partir de segunda-feira (22) o atendimento a pacientes com sintomas, suspeitas ou confirmação da covid-19 será ampliado. As unidades de saúde Floresta, Nova Cidade e Santa Cruz voltam ao atendimento exclusivo a esse público, das 7h às 22h, o Ambulatório do Hospital de Retaguarda estende o horário até a meia-noite, e as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimentos) darão suporte 24 horas.

Dos 13 hospitais que integram a Macrorregional Oeste, sete lotaram. Em Francisco Beltrão, não há vagas nem na enfermaria. Palmas e Chopinzinho estão sem UTI. A situação mais grave é de Pato Branco, onde havia dez internados em oito leitos. É que o hospital precisou usar duas vagas de outras alas para não deixar os pacientes desassistidos.

 

No Paraná

No Paraná, em geral, a ocupação também é recorde. Nessa sexta, 3.037 pessoas estavam internadas, das quais 1.287 em UTIs, cuja taxa chegou a 92% dos leitos SUS. “É a maior ocupação de leitos desde o início da covid-19. Estamos no segundo dia seguido com números chegando ao limite”, afirmou o diretor de Gestão em Saúde da secretaria estadual, Vinícius Filipak. “Há meses estamos alertando gestores, profissionais da saúde, e principalmente a população, que não basta a habilitação de mais leitos”.

Ele ressaltou que a covid-19 tem alta transmissibilidade e também alta taxa de letalidade: “Cerca de 20% dos internados vão a óbito. Por isso, nosso alerta é para que todas as medidas preventivas sejam mantidas, como o uso da máscara de proteção, a higienização constante das mãos e o distanciamento social”, afirmou Filipak.


Foz pede intervenção federal: barreiras e insumos

 

Em Foz do Iguaçu, a lotação de leitos completa duas semanas seguidas. Na fronteira, a situação se agravou ainda no início da segunda semana de fevereiro, com lotação máxima todos os dias, cenário que se repetiu mesmo após o Carnaval.

Segundo a secretária de Saúde de Foz, Rosa Maria Gerônymo, quase 30% dos atendimentos de triagem relacionados ao coronavírus no Hospital Municipal são de moradores do Paraguai e a prefeitura solicitou intervenção do governo federal para aplicação de medidas que diminuam a demanda de pacientes de fora, já que o sistema de saúde municipal está perto do colapso.

Em coletiva de imprensa na tarde dessa sexta, o prefeito Chico Brasileiro anunciou novas medidas de prevenção à covid-19 em Foz, entre elas o toque de recolher às 23h e a suspensão de bailes, confraternizações e atividades esportivas coletivas por um período de 14 dias, a partir deste domingo. Também haverá limitação de público em 30% da capacidade para atividades religiosas e de dez pessoas para reuniões domiciliares.

Desde o início da pandemia, Foz do Iguaçu já registrou 24.506 casos da doença e 378 óbitos.

O prefeito solicitou ao governo federal, por meio da Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, a instalação de uma barreira sanitária na Aduana Brasileira da Ponte da Amizade, onde deverá ser exigido das pessoas que entram no Brasil a comprovação da não infecção por coronavírus, por meio do exame de RT-PCR negativo, realizado nas 72 horas anteriores.

Outra solicitação ao governo federal foi para aquisição de insumos e equipamentos que possibilitem a abertura de dez novos leitos de UTI no Hospital Municipal.

O prefeito ressaltou que a fiscalização na cidade será intensificada para garantir o cumprimento dos decretos municipal e estadual. “A prefeitura aplicará multas tanto ao estabelecimento quanto às pessoas que desrespeitarem os decretos. Estamos em um momento difícil e não podemos permitir que uma parte da população continue se aglomerando e colocando em risco vidas”, ressaltou.