Cotidiano

Ex-zelador do tríplex se irrita com advogados de Lula em audiência: ?Bando de lixo?

SÃO PAULO ? O ex-zelador do tríplex cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente Lula se irritou com uma pergunta dos advogados do petista sobre sua candidatura a vereador na cidade de Santos. José Afonso Pinheiro, que trabalhava no condomínio durante as obras e foi demitido em abril. Questionado sobre como se deu o ingresso na política, Pinheiro chegou a afirmar que os advogados de Lula eram um ?bando de lixo?.

? Você não sabe o que é uma pessoa estar desempregada, passando por uma dificuldade terrível, o desmprego está altíssimo. Porque eu fui envolvido numa situação que eu não tenho culpa nenhuma. Eu perdi o meu emprego, perdi minha moradia e aí você vem querer me acusar, falar alguma coisa contra mim? O que você faria numa situação, como é que você sustentaria sua família? ? perguntou José Afonso.

Um dos advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins, negou que estivesse acusando José Afonso, que continuou:

? Você nunca passou por isso, quem é você para falar alguma coisa contra mim? Vocês são, posso falar o que vocês são? Um bando de lixo, lixo! Isso que vocês são! ? disse Pinheiro, que foi interrompido por Moro, que pediu para que o zelador se acalmasse.

A partir de então, Moro considerou que as perguntas feitas pela defesa estavam sendo ofensivas a José Afonso Pinheiro e indeferiu todas as questões feitas por Zanin Martins em relação à participação de José Afonso Pinheiro.

Demitido em abril do condomínio Solaris, José Afonso Pinheiro candidatou-se pelo Partido Progressista a vereador de Santos. Quando de sua demissão, Pinheiro afirmou qeu a perda do emprego fora uma represália por seu depoimento aos procuradores da Lava-Jato em que relatou visitas de Lula e Marisa Letícia ao imóvel. Em depoimento na audiência de hoje, o zelador afirmou que a ex-primeira-dama se portava como proprietária do imóvel.

Em nota, a defesa de Lula citou o episódio. Confira o trecho:

?Quando questionado sobre o tema, também o ex-zelador do edifício Solaris, José Afonso Pinheiro, não foi capaz de apresentar nenhum dado que comprovasse ser de Lula o apartamento. Firmando seu depoimento em impressões pessoais e mesmo tendo o juiz Sérgio Moro indeferido as perguntas da defesa relativas ao tema, o depoimento de Pinheiro tem uma vinculação à questão alvo da ação que, sem dúvida, compromete sua narrativa. A fama que o triplex conquistou estimulou a nascente carreira política de Pinheiro, que fez o registro de sua candidatura pelo PP como ?Afonso, zelador do tríplex?, evidenciando interesse no desfecho da causa.

Descontrolado, Pinheiro chegou a ofender Lula e seus advogados, os qualificando de ?lixo?, não sendo repreendido pelo juiz. Muito ao contrário. Ao término da audiência, o juiz Moro pediu ?desculpas? ao depoente sob o pretexto de que foi Pinheiro o ofendido, em manifesto descompasso com a realidade.

O fato soma-se ao rol dos demais episódios que evidenciam a parcialidade do juiz Moro no julgamento do ex-Presidente e que integram o Comunicado feito ao Comitê dos Direitos Humanos da ONU, em julho. Suas provocações e exaltações no curso desta audiência foram enfrentadas com muita serenidade, especialmente considerando que o juiz apresentou ao longo da sessão fatos estranhos ao objeto da ação, como a queixa-crime subsidiaria em que figura como querelado ? proposta pelo ex-Presidente Lula e seus familiares diante de graves fatos que denotam, em tese, abuso de autoridade ? e a ação de reparação por danos morais proposta em face do procurador da República Deltan Dallagnol pelos ilícitos configurados durante a entrevista coletiva realizada em ?14/09. Moro chegou a atacar a ?qualidade da advocacia? da defesa de Lula.?

*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire