Política

Ex-superintendente diz que foi pago para proteger Beto

Em colaboração premiada, operador dos desvios da Educação confirma envolvimento do governador

Brasília – Aos poucos a Operação Quadro Negro parece cercar cada vez mais o governador Beto Richa e toda a cúpula tucana que comanda o Estado do Paraná. O Jornal O Globo revelou ontem detalhes da colaboração premiada que Maurício Fanini negocia com a PGR (Procuradoria-Geral da República). Fanini é considerado pelo Ministério Público do Paraná a peça-chave do esquema de desvios da Secretaria da Educação, pois era por suas mãos que tudo passava durante o tempo em que foi superintendente da secretaria, no Governo Beto Richa.

Além de ocupar cargos de confiança desde o primeiro mandato do político de Beto no Executivo, em 2001, Maurício Fanini tinha estreita ligação com o governador. Ambos foram colegas de faculdade e viajaram várias vezes juntos durante o governo. Inclusive, segundo ele, algumas dessas viagens foram pagas com dinheiro de construtoras beneficiadas pelo esquema de corrupção.

Fanini está preso desde setembro, a pedido do Ministério Público, que afirma que era ele quem orientava os fiscais ligados à pasta da Educação para que atestassem evoluções fictícias nas obras de escolas feitas pela Valor Construtora. Assim, o dinheiro era liberado mesmo sem a obra ter sido feita. Calcula-se que, apenas com a Valor os desvios cheguem a R$ 20 milhões. Mas há outras construtoras já investigadas.

O dono da Valor, Eduardo Lopes de Souza, também negocia sua delação. Nela, endossa a narrativa do MP e dá detalhes da sua relação com Fanini. Eduardo também complica a vida do próprio governador Beto Richa e de outros membros do governo do Paraná: chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni, presidente da Alep, Ademar Traiano, deputado Plauto Miró e o secretário estadual de Infraestrutura e irmão de Beto, José “Pepe” Richa (leia mais abaixo).

Mas além de detalhar como funcionava o esquema e para quem e para o que o dinheiro da propina era redirecionado, Maurício traz um fato novo em sua delação. Ele conta que foi pago para proteger o governador Beto Richa.

Para a PGR, Fanini disse que recebeu dinheiro para não comprometer o governador na Operação Quadro Negro.

Segundo ele, recebeu um “cala boca” do empresário Jorge Atherino no valor mensal de R$ 12 mil. Os pagamentos teriam acontecido por ordem do próprio Beto Richa, depois que foi exonerado em junho de 2015, logo após estourar o escândalo da Quadro Negro.

Além de relatar tentativa de obstrução de justiça por parte de Richa, Fanini detalhou viagens que fez com o governador e que teriam sido pagas por empresários que tinham negócios com o Estado.

Dentre elas está a chamada “viagem da vitória”, em novembro de 2014, na qual o dono da Valor teria dado US$ 20 mil em espécie para que Fanini levasse e usasse com Beto Richa em Miame e Caribe, para onde foram para comemorar a reeleição a governador do Paraná. Esses números foram confirmados pelo próprio Eduardo Lopes.

A assessoria do governador nega as acusações e informou que nunca houver autorização para que Atherino fizesse pagamentos em nome de Beto Richa. Quanto a Maurício Fanini, a assessoria disse que “assim que houve suspeitas de irregularidades envolvendo o servidor, foram exonerados os suspeitos e deflagradas medidas administrativas e judiciais para apurar responsabilidades pelos ilícitos praticados”.