Cotidiano

Ex-secretários de Estado alertam que ordem de Trump põe tropas em perigo

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WASHINGTON ? O bloqueio do novo presidente dos EUA, Donald Trump, a refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos preocupa ex-autoridades do governo americano. Em uma declaração bastante incomum, John Kerry e Madeline Albright, que já foram secretários de Estado, escreveram uma carta para dizer que as medidas do republicano ameaçam a segurança nacional e colocam em perigo as tropas americanas em campos de batalha. O decreto presidencial foi suspenso por um juíz federal e, agora, Trump trava uma batalha contra a Justiça na tentativa de reestabelecer a sua ordem executiva.

A mensagem se destinava à corte de apelações encarregada de analisar o pedido da Casa Branca pela volta da proibição de entrada para os refugiados e cidadão de Irã, Iraque, Somália, Sudão, Iêmen, Síria e Líbia. O documento também foi assinado por Leon Panetta, ex-secretário de Defesa e ex-diretor da CIA; John E. McLaughlin, vice-diretor da CIA entrre 2000 e 2004. Lisa Monaco, assistente do ex-presidente Barack Obama para a segurança nacional e combate ao terrorismo; Michael Morell, ex-diretor da CIA; Janet Napolitano, ex-secretária de Segurança Nacional; e, ainda, Susan Rice, embaixadora de Obama na ONU.

“Todos nós concordamos que os Estados Unidos enfrentam reais ameaças”, disseram os signatários, para ressalvar: “Não há propósito nacional para uma total proibição da entrada de cidadãos dos sete países citados. Desde 11 de Setembro de 2011, nem mesmo um ataque terrorista nos Estados Unids foi realizado por cidadãos destes países. Pouquíssimos ataques no território dos Estados Unidos foram relacionados a cidadãos estrangeiros. A maioria acachapante dos ataques foi cometida por cidadãos americanos. Em nossa opinião profissional, a ordem ferirá os interesses dos Estados Unidos em muitos aspectos”.

A declaração, que os juízes não são obrigados a ler e considerar em sua decisão, claramente tenta rebater as justificativas de Trump para decretar o bloqueio migratório. O governo republicano argumenta que esta é uma medida necessária à segurança nacional. Na contramão, os especialistas afirmam, no documento, que a medida é uma ameaça às tropas americanas que combatem grupos terroristas, como o Estado Islâmico, com aliados fora do país. Segundo a carta, a ordem de Trump vai perturbar parcerias-chave de combate ao terrorismo, política externa e segurança nacional essenciais para as forças americanas.

O decreto de Trump já foi duramente criticado por diversas figuras proeminentes da comunidade internacional. Muitos líderes apontam que a medida é altamente discriminatória e viola o príncipio básico da liberdade religiosa, uma vez que mira especificamente em cidadãos de países de maioria muçulmana.

Na semana passada, a Organização para a Cooperação Islâmica, que reúne 57 nações de quatro continentes, pediu que o governo americano reconsiderasse a sua decisão. Com um alerta, a organização expressou profunda preocupação com as possíveis consequências da medida.

?Esta decisão vai complicar ainda mais os já graves desafios para refugiados. Como resultado da proibição, os que fogem de guerras e perseguições foram adversa e injustamente afetados?, declarou em comunicado a organização. ?Estes atos seletivos e discriminatórios vão apenas servir para encorajar as narrativas radicais dos extremistas e fornecer mais combustível aos promotores da violência e do terrorismo em um momento crítico?.

Por sua vez, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o jordaniano Zeid Ra’ad Al Hussein, chamou o decreto anti-imigração de ilegal e “mesquinho”:

“A discriminação pelo único motivo da nacionalidade é proibida pela lei dos direitos humanos”, escreveu Zied no Twitter. “O veto americano é também mesquinho e desperdiça recursos necessários para lutar de maneira adequada contra o terrorismo”.

O tribunal já rejeitou a primeira apelação do governo de Trump e, por enquanto, a medida permanece suspensa. Após o bloqueio ser levantado, a diplomacia americana anunciou no sábado que já havia revogado a suspensão de cerca de 60 mil vistos. Os voos internacionais para os EUA voltaram a admitir cidadãos dos sete países que constam na ordem presidencial.