Cotidiano

Ex-refém das Farc, Ingrid Betancourt diz que guerrilha também merecia Nobel

PARIS ? Ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Ingrid Betancourt disse que a guerrilha também merecia ter sido contemplada pelo Nobel da Paz. Nesta sexta-feira, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, recebeu o prêmio pelos suas negociações de paz para pôr fim a meio século de conflitos entre o governo e os rebeldes. Já o líder da guerrilha, Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko, no entanto, foi excluído do título.

Em uma entrevista pelo telefone com Betancourt, o canal de notícias francês I-Télé perguntou à ex-candidata presidencial se os que a sequestraram também mereciam ter recebido o Nobel da Paz. Ela foi sequestrada pelas Farc em 2002, quando era candidata à Presidência da Colômbia, e permaneceu em cativeiro na selva até 2008.

? Sim. Para mim é muito difícil dizer que sim, mas acredito que sim ? respondeu Betancourt ao canal francês, acrescentando que estava muito feliz pela premiação de Santos: ? Acredito que não apenas é merecido, mas que também convida a um momento de reflexão na Colômbia, de esperança de paz, da alegria de dizer que, efetivamente, a paz não volta atrás.

O comitê responsável pela entrega do prêmio elogiou Santos por seus “esforços determinados para acabar com mais de 50 anos de guerra civil em seu país.” O anúncio foi feito pelo comitê que entrega o prêmio na manhã desta sexta-feira.

O pacto com a guerrilha, contudo, foi rejeitado em referendo no domingo, o que levou a Colômbia a sair da lista de favoritos ao Nobel. Timochenko e Santos estavam entre os mais cotados para receber o prêmio antes da derrota no referendo. Depois do “não” ao acordo, pesquisadores de iniciativas de paz retiraram a Colômbia de uma lista de favoritos.

? O prêmio também deve ser visto como uma homenagem ao povo colombiano ? disse a chefe do comitê Kaci Kullmann, ao anunciar a honraria. ? Os eleitores não disseram ‘não’ à paz, mas ao acordo.

A premiação foi concedida muitas vezes a processos de paz promissores, como o da Irlanda do Norte em 1998, entre israelenses e palestinos em 1994 e até no Vietnã em 1973, mas jamais indo de encontro a uma votação popular.

No valor de (US$ 930 mil), o prêmio será entregue em Oslo em 10 de dezembro.

NEGOCIAÇÕES CONTINUAM

Apesar da rejeição ao acordo, as negociações para a paz continuam na Colômbia. O presidente Santos e o ex-presidente Álvaro Uribe, líder da campanha pelo ?não?, se reuniram nesta semana para tentar salvar o pacto. Uribe defende que alguns pontos sejam revistos.

Os líderes das Farc também se mostraram determinados a continuar as conversas e prometeram não voltar à guerra.

O resultado apertado no referendo ? 50,21% para o “não” e 49,78% para o “sim” ? evidenciou um país dividido sobre como alcançar a paz.

O conflito na Colômbia provocou a morte de 260 mil pessoas e deixou quase 7 milhões de deslocados internos e 45 mil desaparecidos.