Cotidiano

Ex-presidente do BC: recuperação vai ser mais lenta que o esperado

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RIO – O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni afirmou nesta segunda-feira que o Brasil voltou ao radar dos investidores internacionais, mas a recuperação da economia brasileira será mais lenta que o estimado anteriormente. Nesta retomada, o país terá que lidar ainda com um contexto internacional mais delicado, diante do que ele classifica como ?irmãos siameses?: a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit.

? Até o impeachment, o risco Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) era dominado pelo componente político. Passada a transição de governo, houve um certo sentimento de alívio na sociedade, e esse risco cedeu de forma imediata. Mas questões como a qualidade da equipe econômica e a perspectiva de maior governabilidade foram talvez antecipadas de forma excessivamente otimista. Pensava-se que a mudança de expectativa, por si só, tiraria o país do atoleiro. Tudo indicava que a retomada estaria à vista, mas ela vai ser mais lenta e mais frágil do que a gente antecipava ? afirmou o presidente do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), em evento sobre o risco Brasil organizado em parceria com a Firjan e o jornal ?Valor Econômico?. ? Os desafios são ainda maiores, mas continuo com a visão que o Brasil vai encontrar seu caminho.

De acordo com Langoni, os índices de confiança apontavam para uma recuperação da economia brasileira já no terceiro trimestre deste ano, mas ela não ocorreu.

? Os dados mais recentes, como o IBC-Br, do BC, e os da indústrias, sugerem que mesmo neste terceiro trimestre estamos em terreno negativo ? disse o economista.

De acordo com o ex-presidente do BC, a aprovação da PEC do Teto de Gastos é importante mas não foi suficiente para resolver as incertezas. Segundo ele, o país precisa fazer novos avanços no terreno fiscal, como a reforma da previdência, e de mudanças em marcos regulatórios, como o que determina a utilização de conteúdo local na indústria de petróleo.

? A retomada não virá com o consumo das famílias. A saída terá que ser liderada pelo investimento. O investimento privado está amarrado à indefinição de vários marcos regulatórios. O setor de óleo e gás é emblemático. Estamos há anos com regras de conteúdo local absurdas e de operador compulsório que não faz o menor sentido ? disse. ? Sem dúvida, o Brasil voltou ao radar. Está sendo considerado atraente. Mas a relação risco retorno continua indefinida. O Brasil precisa agora ser supercompetitivo.

Langoni lembrou que o Brasil demorou para iniciar suas reformas, e agora vai ter que arcar com um cenário externo mais negativo:

? Brexit e Trump são irmãos siameses. São resultado de um sentimento de esgotamento sobre o processo de globalização, que viabilizou a criação de tantas riquezas e de tanto crescimento em países emergentes. O comércio mundial já está crescendo igual ou até menos do que o PIB. Além disso, a globalização não resolveu a questão da desigualdade, daí a situação dos refugiados. Isso tudo dificulta o ajuste brasileiro. Nosso timing demorou. Estamos longe de sermos uma economia estabilizada, e vamos ter que conviver com ambiente externo tenso.

? A deterioração fiscal esteve na base da crise de confiança, e o ajuste fiscal é pré-requisito para sairmos dela ? disse Carlos Bittencourt, vice-presidente da Firjan.