Cotidiano

Ex-ministro da Cultura, Calero acusa Geddel de pressioná-lo para liberar obra, o que ele nega

201605181913287006.jpgRIO ? Após pedir demissão do cargo de ministro da Cultura no fim da tarde dessa sexta-feira, Marcelo Calero atribuiu sua decisão a pressões políticas para favorecer integrantes da base do governo. Em entrevista para a “Folha de S. Paulo”, Calero acusou o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, de tê-lo pressionado para favorecer seus interesses pessoais. Links Calero

Segundo Calero, Vieira Lima o procurou, em ao menos cinco ocasiões, em busca de conseguir, junto ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a liberação de um projeto imobiliário em área tombada de Salvador, na Bahia. Vieira Lima afirmou para Calero ser dono de um apartamento no prédio, que dependia de aprovação federal, após ter sido liberado pelo Iphan da Bahia, comandado por seus aliados.

Em entrevista a Gerson Camarotti, do “G1”, Geddel negou. “A última vez que nos encontramos, falamos rapidamente. Estava saindo do jantar com senadores no Palácio da Alvorada e ele estava chegando. Não há qualquer desentendimento”, disse. Questionado sobre o episódio envolvendo o Iphanm Geddel fez críticas. “Em um momento de crise econômica, não dá para o Iphan ficar barrando obras que estimulam a economia”.

“Quando eu cheguei no governo, a presidente do Iphan, Jurema Machado, me alertou que existia um empreendimento na Bahia que despertava interesses imobiliários. E me recomendou especial atenção a mobilizações políticas que pudessem ocorrer”, disse Calero à “Folha”. “A partir disso, eu de fato recebi ligação do ministro Geddel dizendo que aquele empreendimento empregava muitas pessoas e que o Iphan da Bahia havia dado uma licença de construção que fora cassada pelo Iphan nacional”.

O ex-ministro disse também ter recebido “ligações bastante insistentes” de interlocutores de Vieira Lima. As conversas com Vieira Lima teriam começado logo que ele tomou posse, há cerca de seis meses, e se estenderam por todo seu mandato, de forma “muito truculenta e assertiva”.

“Até que, no dia 28 de outubro, uma sexta-feira, por volta de 20h30, recebo uma ligação do ministro Geddel dizendo que o Iphan estava demorando muito a homologar a decisão do Iphan da Bahia. Ele pede minha interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança jurídica, mas também porque ele tem um apartamento naquele empreendimento. Ele disse: ‘E aí, como é que eu fico nessa história?'”, conta. “Eu fiquei surpreendido, porque me pareceu ? não sei se estou sendo muito ingênuo ? tão absurdo o ministro me ligar determinando que eu liberasse um empreendimento no qual ele tinha um imóvel. Você fica atônito. Veio à minha cabeça: ‘Gente, esse cara é louco, pode estar grampeado e vai me envolver em rolo, pelo amor de Deus'”.

Calero então disse ter pensado em procurar o Ministério Público, reafirmando que a decisão do Iphan deveria ser técnica, em vez de obedecer a interesses pessoais.

“Geddel disse que havia rumores na Bahia de que o Iphan nacional iria negar a construção. Ele disse: ‘Então você me fala, Marcelo, se o assunto está equacionado ou não. Não quero ser surpreendido com uma decisão e ter que pedir a cabeça da presidente do Iphan. Se for o caso eu falo até com o presidente da República’. As coisas já haviam passado do limite. Kátia (Bogéa, presidente do Iphan) é uma pessoa corretíssima. Avisei que se ela saísse eu saía também. E disse: ‘Mas sairemos com a cabeça erguida'”.

E continuou:

“Entendi que tinha contrariado de maneira muito contundente um interesse máximo de um dos homens fortes do governo e que ninguém iria me apoiar. Vi que minha presença não teria viabilidade. Jamais compactuaria com aquele compadrio. Não”.