Cotidiano

Ex-ministra chavista diz que Maduro ?deu as costas para a realidade?

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CARACAS ? Ana Elisa Osorio, ex-ministra de Hugo Chávez, disse em entrevista à AFP que o governo venezuelano está dando as costas para a realidade do país. Ela critica Nicolás Maduro por não enfrentar as dificuldades, mas não acredita que revogar seu mandato seja a solução.

? Maduro e alguns funcionários falam como se estivéssemos em ?Alice no País das Maravilhas?, e isso é muito grave, porque o povo está vivendo em outras condições ? opinou Osorio, que foi ministra do Meio Ambiente entre 2000 e 2005 e fez campanha para Nicolás Maduro nas eleições de 2013.

A Venezuela está enfrentando a escassez de alimentos e remédios, além de uma inflação que poderá chegar, este ano, segundo o FMI, a 720%. Maduro, que assumiu o poder depois da morte de seu mentor Hugo Chávez (1999-2013), alega que o país é vítima de uma guerra econômica provocada pela queda dos preços do petróleo.

? Não há razão para que o país esteja em crise. O problema é que não há uma liderança que confronte as dificuldades e, às vezes, o governo dá as costas para a realidade do país ? afirmou a ex-ministra.

Osorio, no entanto, não acha que o referendo revogatório contra Maduro, promovido pela oposição, vá resolver os problemas do país.

? Revogá-lo para quê? Quem vai substituí-lo? ? questiona, acrescentando que um governo de oposição seria pior que o atual ? A solução está em tentar reagrupar o chavismo e abrir espaços de discussão para construir melhores lideranças coletivas.

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) sempre se apresentou como um bloco sem fissuras em torno de Chávez, mas Osorio faz parte de um pequeno grupo de ex-influentes ministros que acreditam que Maduro desvirtuou o legado chavista. Entre eles, o ex-ministro do Planejamento e arquiteto do sistema econômico Jorge Giordani, o ex-ministro da Educação, Héctor Navarro, e do Comércio, Gustavo Márquez.

No entanto, Osorio reconhece que um ambiente político altamente polarizado dificulta uma terceira via formada por chavistas descontentes com o governo Maduro.

? Não temos nenhum interesse neste momento em participar de um processo eleitoral. Não temos nenhuma força para assumi-lo, e achamos que seria inclusive irresponsável.

?TRAIDORA?

As críticas da ex-ministra não foram bem recebidas por chavistas: ela foi isolada no PSUV depois de ter feito parte de sua direção por anos. Maduro a chamou de traidora.

? Eu acho que os traidores estão do outro lado ? observa Osorio.

Indagada se acredita que Chávez teve alguma responsabilidade na situação do país, Osorio é muito menos crítica:

? Chávez morreu há quatro anos. Não podemos continuar jogando nele a culpa de tudo que acontece.

No entanto, admite que a “hiperliderança” impediu Chávez de pensar em sua sucessão. Seu desejo de passar o poder para Maduro lançou uma discussão dentro do partido.

? O desenrolar dos acontecimentos demonstrou que o presidente Maduro não estava à altura porque, ante o calibre de Chávez, a comparação é injusta. Chávez se sacrificou muito por esse processo e me entristece pensar que foi em vão ? conclui.