Política

Ex-diretor diz que Rossoni indicou empresa que desviou milhões

MP ajuizou sete ações civis públicas e pede bloqueio e ressarcimento de R$ 41 milhões

Curitiba – Já considerado um dos maiores escândalos políticos do Estado do Paraná, a Operação Quadro Negro colocou no centro das investigações um dos principais nomes do governo estadual: o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB). Isso porque, segundo um dos investigados e réu da ação, partiu de Rossoni a indicação da empresa que participou do desvio milionário de recursos da Secretaria Estadual de Educação: “Olha, eu tenho uma empresa que está fazendo um bom trabalho lá em Bituruna e quer participar das obras do Estado”. A declaração é do ex-diretor da Secretaria de Educação Maurício Fanini, já denunciado na Justiça.

A revelação consta nas sete ações civis públicas ligadas à Operação Quadro Negro ajuizadas na quarta-feira pelo Ministério Público do Estado do Paraná (MP-PR). As informações foram reveladas pela RPC.

Até então fora da lista dos principais citados publicamente nas investigações, o nome do deputado federal licenciado e braço-forte do governador Beto Richa (PSDB) aparece ligado à Valor Construções, a empresa acusada de um desvio de quase R$ 20 milhões a partir de contratos com a Secretaria da Educação para obras em escolas, entre 2011 e 2014.

Nas sete ações civis públicas, o MP pede bloqueio de bens e ressarcimento por danos morais no valor de R$ 41 milhões.

Revelações

Conforme as ações civis, o próprio ex-diretor da Secretaria de Educação Maurício Fanini admite que foi Valdir Rossoni o responsável por “indicar” a Valor. Fanini contou aos investigadores que recebeu uma ligação da presidência da Assembleia Legislativa para que ele fosse até o gabinete de Rossoni, que comandava a Casa na época. E lá, o então deputado estadual teria lhe dito o seguinte sobre o interesse da Valor em participar das obras do Estado.

Ela estaria “fazendo um bom trabalho em Bituruna”, a principal base eleitoral de Rossoni. Inclusive, os contratos efetuados pela Valor Construções com a administração pública de Bituruna foram assinados durante a gestão de Rodrigo Rossoni, que é filho do deputado federal licenciado. Para o MP, tais “interferências políticas seriam determinantes para que a empresa Valor Construções fosse admitida nos processos de licitação, no âmbito da Secretaria de Educação, mesmo tendo apresentado um acervo técnico precário”.

Contudo, mesmo com essa observação dos promotores nas ações, Rossoni não é alvo dessas ações civis públicas já ajuizadas. O Ministério Público informou que não dará entrevistas a respeito.

Ao jornal “Gazeta do Povo”, o advogado de Rossoni, José Cid Campelo Filho, disse que o MP não tem como sustentar as denúncias contra o secretário. “Por que não acusaram? Esses promotores de Justiça são fofoqueiros. Ficam fazendo acusações indiretas. Não tem nada contra o Rossoni”, acrescentou.

A assessoria de imprensa de Rossoni informou em nota que “Rodrigo não era mais prefeito da cidade [Bituruna] quando as obras foram iniciadas e concluídas. Portanto, não realizou nenhum pagamento. A execução e aditivos ficaram sob responsabilidade do prefeito que o sucedeu. As obras estão lá concluídas para quem quiser fiscalizar”. Na nota, Rossoni reforça que “não é réu” e que “renuncia imediatamente ao cargo público, se houver qualquer prova de envolvimento em irregularidades nessas obras”.

Alvos das ações civis públicas

O ex-diretor da Secretaria de Educação Maurício Fanini e outras 16 pessoas físicas e jurídicas são alvos das sete ações civis públicas ajuizadas pelo MP relativas à investigação da Operação Quadro Negro. Dentre as pessoas jurídicas estão empresas ligadas a Fanini que já haviam aparecido em outro escândalo, a Operação Sinapse. O ex-diretor também já é réu da Operação Quadro Negro em uma ação penal que tramita há um ano e meio.

Deputados e secretários citados

O chefe da Casa Civil Valdir Rossoni não é o primeiro político citado nas delações e investigações da Operação Quadro Negro. A suspeita sobre o destino de parte do dinheiro desviado já recai sobre outras autoridades.

O presidente do TCE-PR (Tribunal de Contas do Estado do Paraná), Durval Amaral, já está sendo investigado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), assim como os deputados estaduais Plauto Miró (DEM) e Ademar Traiano (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa, e o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, irmão do governador do Paraná, todos citados em um inquérito da Polícia Federal do Paraná, que tramita no TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

Inquérito sigiloso no STF tem Rossoni

Conforme reportagem do jornal “Gazeta do Povo”, a ex-funcionária da Valor Construções Vanessa Domingues de Oliveira, ré na ação penal da Operação Quadro Negro desde o início de 2016, citou o braço-direito do governador Beto Richa ao longo dos depoimentos que prestou à PGR (Procuradoria-Geral da República). Inclusive, os fatos relatados pela ex-funcionária e que ligam o tucano Valdir Rossoni à Quadro Negro já geraram a abertura de um inquérito no STF, em trâmite de forma sigilosa na Corte.

Ainda segundo a Gazeta, o advogado Cid Campêlo Filho disse que fez uma petição para ter acesso ao inquérito do STF e aguarda retorno.

 

*Texto editado às 16h18 do dia 04 de agosto de 2017, para especificar a autoria da frase que cita Valdir Rossoni.