Cotidiano

Estudante supera depressão e perde peso após aderir à meditação

RIO – Três remédios diferentes diariamente e um a mais em caso de crise de pânico. Este era o cardápio farmacológico da estudante de publicidade Christiana de Oliveira, de 24 anos, até um ano atrás. Imersa na depressão, a jovem sofria com a fobia social e chegou a engordar mais de 35 quilos. A vida começou a mudar quando Christiana recorreu a uma prática milenar, aparentemente simples: a meditação. Ao se dedicar à técnica mindfulness, ela se valeu dos exercícios de respiração lenta para tentar ?esvaziar a cabeça? e atingir o tão desejado estágio de relaxamento.

? Nada me satisfazia, já não via mais motivos para ficar viva, cheguei a tentar suicídio. Quando encontrei a meditação, estava no fundo do poço, tomando muitos remédios ? conta a universitária, que já não precisa mais de medicamentos antidepressivos. ? Quando a psiquiatra me indicou a meditação, aprendi o poder da respiração. E por ser, no meu caso, uma meditação em grupo, também me ajudou a perder o medo de conversar com as outras pessoas.

Indicadas por estudos recentes como um importante aliado no tratamento de depressão, distúrbios de ansiedade e até doenças cardiovasculares, entre outras condições, o mindfullness e as técnicas de meditação em geral foram o tema da última edição do Encontros O GLOBO Saúde e Bem Estar. O evento teve como palestrantes o pesquisador Bernard Range, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ e especialista em terapia cognitiva pelo Beck Institute, nos EUA, e o meditoterapeuta Yair Rosenfeld, com mediação do jornalista William Helal Filho, do GLOBO, e coordenação do cardiologista Claudio Domênico.

? A Sociedade Brasileira de Cardiologia já coloca nas suas diretrizes de abordagem do tratamento da hipertensão arterial as chamadas técnicas de respiração lenta. Meditação, musicoterapia e ioga são técnicas que ajudam a controlar o estresse. E nunca estivemos em um mundo tão estressante ? observou Domênico durante o encontro, na Casa de Saber O GLOBO.

Atenção ao presente

Além da respiração lenta, a técnica do mindfulness prega a atenção plena ao momento presente, ou seja, a concentração, muitas vezes automática, na tarefa que se está desempenhando naquele momento. Seus adeptos defendem que qualquer atividade, por mais simples que seja, é uma boa oportunidade para praticar o método. Um exemplo clássico é o ato de observar e degustar uma uva-passa como se nunca tivesse visto algo igual na vida, atento às texturas e sabores da fruta.

? É o exercício de prestar atenção total nas suas experiências, nos pensamentos e sentimentos que você está experimentando ? ensina Bernard Range. ? Pode ser enquanto você lava a louça, come ou escova os dentes, por exemplo, ou ainda durante a meditação. O mindfulness pode reforçar a capacidade de concentração em determinadas experiências e ajudar a ter uma postura de maior aceitação e tolerância ao que se passa em volta.

Há diferentes técnicas de meditação, assim como especialistas para orientar sobre cada uma. Mas qualquer pessoa pode experimentar uma pausa em seu dia para controlar a respiração e relaxar a cabeça, evitando o estresse. Basta sentar-se confortavelmente, com a coluna ereta, fechar os olhos e respirar com bastante calma. Em pouco tempo, percebe-se que a inspiração e a expiração diminuirão de ritmo. Em vez de brigar com as ?mil coisas? que passam na cabeça, ?observe? os pensamentos sem se apegar, permitindo que eles deixem a mente. Para tanto, o foco no ritmo da respiração é fundamental. No caso da mindfulness, há ainda a técnica do body scan na qual é necessário se concentrar em cada parte do corpo: na cabeça, no pescoço e assim sucessivamente.

? Com o tempo, descobri que existe um princípio ativo em todas as técnicas de meditação: o silêncio interior. Já perceberam que quando vocês estão nervosos, ansiosos, a respiração muda? O que precisamos é aprender a baixar os ritmos internos, que são três: o respiratório, o cardíaco e o cerebral? explicou,Yair Rosenfeld, criador do Método Alpha de Meditação, durante sua palestra no encontro.

Um estudo recente da Universidade de Oxford, no Reino Unido, efeitos no controle da depressão e verificou que meditar funcionava tanto quanto o uso de medicamentos para esses casos. Segundo a pesquisa, os pacientes que praticavam a meditação eram 23% menos propensos a ficarem deprimidos novamente no período de, pelo menos, cinco meses ? mesmo se esses pacientes parassem de tomar remédio.

A pesquisa resgatou testes clínicos feitos em cinco países e constatou que 38% dos pacientes que fizeram terapia e praticaram mindfulness tiveram recaída da depressão em cinco meses. Já entre os que não fizeram a meditação o índice foi maior, chegando a 49%.

foco na saúde

Outro estudo, dessa vez feito pela Universidade de Brown, nos Estados Unidos, revelou que o hábito de exercitar a atenção plena no presente e em cada atividade desempenhada pode ser um comportamento importante para manter saudáveis as taxas de açúcar no sangue e, consequentemente, evitar, entre outras doenças, a obesidade. Nesse estudo, os cientistas mediram indicadores de saúde de 399 pessoas e chegaram à conclusão de que aqueles que prestam mais atenção na rotina têm mais motivação para se exercitar, resistir à comidas gordurosas e seguir dietas e recomendações médicas.

Coincidentemente, ou não, esses foram exatamente os efeitos experimentados por Christiana desde que fez um programa de oito semanas de meditação. Ex-atleta, ela já chegou a nadar profissionalmente e participar também de competições de nado sincronizado, mas desde a depressão tinha deixado de lado as atividades que lhe davam prazer. Com a recuperação, ela voltou a praticar esportes aquáticos e ir ao mar, hábito que havia abandonado por medo.

? Sempre fui atleta de esporte aquático, mas com a fobia e o aumento de peso, que tirou minha autoestima, comecei a ter medo de entrar no mar. Depois da meditação voltei a a praticar tudo que amo ? comemora. ? Já emagreci 12 quilos desde que comecei a meditar e acho que vou perder mais peso.