Cotidiano

Estreia do diretor Villamarim no cinema, 'Redemoinho' foca em amizade partida

64783177_SC - São Paulo SP - Em Redemoinho Luzimar Irandhir Santos e Gildo Júlio Andrade são dois am.jpgSÃO PAULO – Estreia de José Luiz Villamarim na direção de longas-metragens, ?Redemoinho? percorreu um extenso caminho antes de chegar aos cinemas, hoje, no Rio e em mais 11 capitais. Vencedor do prêmio especial do júri no Festival do Rio do ano passado, o filme mostra o turbulento reencontro de dois amigos de infância, Luzimar (Irandhir Santos) e Gildo (Júlio Andrade), que cresceram juntos em Cataguases (MG).

O diretor e a produtora Vânia Catani nutriam há quase três décadas o sonho de fazer um filme juntos e, pelas contas da dupla, levaram cerca de 12 anos entre a escolha do romance ?O mundo inimigo?, de Luiz Ruffato, e as filmagens no mesmo município da Zona da Mata mineira em que o escritor nasceu e a história original se passa, a 320 km de Belo Horizonte.

No longa, Luzimar é um operário têxtil que não saiu de Cataguases e se casou com Toninha (Dira Paes). Gildo vem de São Paulo para ajudar a mãe, Marta (Cássia Kis), a vender a casa. E exibe o carro comprado com o dinheiro de seu trabalho como se fosse um troféu. Os amigos guardam segredos que, mais cedo ou mais tarde, virão à tona em forma de catarse.

? Sempre me conecto com essas figuras espaçosas, que não têm filtro. Ele volta para a cidade e se irrita com o fato de que nada mudou ? diz Andrade, gaúcho de Porto Alegre que se estabeleceu em São Paulo, sobre o personagem que lhe valeu o prêmio de ator no Festival do Rio.

‘POESIA ABSURDA’

Luzimar encontra Gildo ao passar na frente da casa da mãe do amigo. Os dois iniciam uma jornada dia e noite adentro, na qual acertam contas com o passado, embora sempre escondendo o jogo um do outro. Segundo Dira Paes, Toninha, a esposa do operário, também guarda seu segredo, e funciona como uma espécie de referência temporal para acompanhar os dois.

64785648_SC - São Paulo SP - Diretor do filme Redemoinho José Luiz Villamarim orienta Dira Paes no s.jpg? A Toninha que me foi apresentada não tinha muitos diálogos, era tudo muito no gesto, no olhar. Nesse sentido foi desafiador ? afirma a atriz. ? Não conhecia a obra de Ruffato e fiquei encantada com aquela poesia absurda.

A tal ?poesia absurda? era o que Villamarim procurava quando decidiu retomar os planos de focar na adaptação da obra de Ruffato, após anos dedicados à TV, onde dirigiu projetos como a novela ?Avenida Brasil? (2012) e a série ?Justiça? (2016). Vânia Catani detalha o processo:

? A nossa história, minha e do Zé, começa em Belo Horizonte, nos anos 1990. Éramos muito amigos e queríamos fazer cinema. Ele veio para o Rio antes e foi trabalhar na Globo, já que quase não havia filmes em produção. Eu vim algum tempo depois e fundei a minha produtora. Mas só voltamos a mexer nisso quando ele disse que ia procurar alguma coisa que o emocionasse.

Queria falar desses tipos que não são muito contemplados nem pela literatura nem pelo cinemaLogo após a virada do século, Villamarim leu (e se encantou com) ?Eles eram muitos cavalos?, de Ruffato, que, por meio de pequenas histórias de pessoas comuns, descreve o dia 9 de maio de 2000, em São Paulo. A primeira aproximação foi feita por Vânia, que ofereceu a possibilidade de adaptar seu livro para o cinema. No segundo contato, entrou em cena o cineasta:

? E foi uma surpresa ? conta Villamarim, de Belo Horizonte, onde participou de uma pré-estreia do filme, ontem. ? Porque Ruffato ficou lisonjeado com a escolha, mas me sugeriu um outro romance, ?O mundo inimigo?, que ainda nem tinha sido publicado (a obra foi lançada em 2005). Hoje, é o segundo volume da pentalogia ?Inferno provisório?.

Redemoinho – Trailer OficialO livro oferecido por Ruffato a Villamarim segue a mesma técnica narrativa de ?Eles eram muitos cavalos?: forma uma grande fotografia por meio de pequenos contos, quase sempre protagonizados por pessoas simples.

? Ruffato falava com carinho desses personagens, porque ele mesmo foi um operário e saiu de onde estava para tentar a sorte em outra cidade grande. Para mim, foi ótimo porque queria falar desses tipos que não são muito contemplados nem pela literatura nem pelo cinema. Eu digo que eles são do contracampo, aquelas pessoas invisíveis na tela ? compara Villamarim.