Opinião

Estive na Venezuela. Ela pede socorro! (parte 1 de 2)

Fui à Venezuela fazer trekking no Monte Roraima. E o que era para ser uma viagem de autoconhecimento, superações, transposições e crescimento espiritual, acabou sendo também uma perturbação na alma, pela dor do ser humano que luta pela vida em situações degradantes e ignóbeis que um governante autoritário, na sua hipocrisia, impõe.

(…)

  • Um único canal de notícias, do próprio governo. Por acaso estavam
    transmitindo um evento em uma praça pública, onde um homem defendia
    Nicolás Maduro, dizendo que quem precisa de alimento é a Colômbia, e questionando “quem os brasileiros pensam que são, para enviar ajuda humanitária? Não precisamos, podemos comprar o que quisermos, não precisamos de nada…”

Isso me deixou enlouquecida. Comentei com o grupo: “É, eles não precisam, eles que estão no poder, porque o resto do povo…”

Ao ver e ouvir tudo isso e mais, tive certeza de que nós não sabemos o que de fato acontece naquele país. Há muito mais crueldade no “regime” político do Governante da Venezuela do que supomos.

Sobre o regime político na Venezuela, oficialmente é um regime democrático, mas na prática não é bem assim. Com características fortes de comunismo, o sistema autoritário/ditatorial, implantado por Hugo Chávez e mantido por Nicolás Maduro, transforma a democracia em selvageria, deixando o povo desesperado e impotente.

Eu me coloquei no lugar deles e percebi que, na verdade, eu era uma deles naquele momento. Estava lá, com mais 19 brasileiros (mais quatro turistas que estavam sem agência de turismo se juntaram a nós), sentindo a dor deles; vivendo a situação deles; esperando por uma solução como eles; pensando no que seria depois de alguns dias se não nos autorizassem a sair (a cidade tinha somente mais nove dias de suprimentos nos supermercados); fazendo as contas de quanto dinheiro o grupo tinha para planejar os gastos e dar prioridade para alimentação; negociando as diárias na pousada que conseguimos; economizando cada centavo para uma necessidade; entre outras coisas.

A única diferença entre eu e os venezuelanos naqueles momentos era que eu tinha um lugar para voltar, eles não.

Em uma situação extrema, ou você enlouquece ou você se mantém lúcido para pensar e agir. Eu decidi pela lucidez, por “matar” as emoções e pensar estrategicamente. Mas quando um venezuelano conversava comigo, tudo mudava. As emoções fluíam e a lucidez se esvaía, dando lugar a um sentimento de raiva, desespero por não poder ajudar e dor, muita dor. Nunca a dor de alguém doeu tanto em mim. O que mais perturba é que são inocentes pagando um preço altíssimo, às vezes pagando com a vida, uma luta de sobrevivência, em um país cujo presidente mata seu povo de fome alegando defender seu petróleo. Na real, defender seu petróleo é só uma desculpa para impor sua insanidade brutal.

E o que mais choca é que há muitas pessoas intelectuais, professores, artistas, que defendem Mauro e sua ideia absurda de comunismo. E talvez isso ocorra porque eles nunca passaram fome; não estão lá para ver e sentir (como eu estive); têm seu rico dinheiro, seus bens materiais (carros importados, casas superconfortáveis); têm abundância de água, combustível, comida, tudo; amam a riqueza que possuem; ostentam suas roupas de marca, caríssimas, pagas por seus altos salários e cachês; e por aí vai. Gostaria de ver essas pessoas vivendo lá, nas condições que o povo venezuelano vive, onde um professor tem um salário de R$ 40,00 mensais, onde 10 mil litros de água custa R$ 200,00, onde o leite é artigo de luxo, onde a quantidade de combustível é limitada a 30 litros por pessoa por semana (quando estas têm dinheiro para comprar, e quando há combustível). Essas pessoas… nunca a hipocrisia foi tão absurda…

Outra coisa que me choca é que a história conta os horrores de regimes
autoritários/ditatoriais, como o Stalinista, que matou 7 milhões de ucranianos de fome, um genocídio contra a humanidade. Stalin sequestrou toda a comida dos ucranianos e fez um cerco nas fronteiras para matar o povo de fome, e assim executou um dos maiores horrores contra a humanidade. Mas o poder e a ganância falam mais alto né…

Não vamos longe. No Brasil, embora sejamos oficialmente um país democrático, nossos governantes fazem o que bem querem para eles mesmos: aprovam aumentos salariais absurdos; benefícios como auxílio-paletó, auxílio-moradia, seguranças e motoristas particulares, ajuda de custo para viagens etc e tal… E a saúde, a educação e a infraestrutura do País pedindo socorro; famílias passando fome; frio e sede. Ou seja, o que assistimos constantemente é que a maioria dos governantes não
trabalham pelo povo, não se importam. Defendem seus próprios interesses. Isso também é uma forma de autoritarismo. Eu me pergunto: quando foi que perdemos nossa humanidade? Quando foi que perdemos o pensamento coletivo? Quando foi que perdemos o respeito pela vida?

Sejamos mais humanos e pratiquemos a empatia. Se praticarmos a empatia, se nos colocarmos no lugar do outro, sentir suas dores, suas necessidades, suas alegrias, suas tristezas, talvez a gente consiga salvar a humanidade.
E, sobre a Venezuela, eu estive lá, e sim, o povo venezuelano pede socorro!

E antes que me julguem por qualquer palavra que tenha dito, eu afirmo: Sou a favor da igualdade, na riqueza e não na pobreza!

PS: Não sou historiadora nem cientista política nem nada disso. Sou um ser humano, curioso, que busca sempre a verdade dos fatos, e que viveu uma experiência incrível e dramática.

Mari Presrlak mora em Cascavel e foi personagem do Jornal O Paraná na reportagem “Cascavelense retida na Venezuela relata medo” do dia 27 de fevereiro – a íntegra do artigo disponível no oparana.com.br