Cotidiano

Estácio troca de presidente pela terceira vez desde junho

2016 920759080-2016 916983324-2016 914524468-2015 869488363-2015 862185539-2.jpgRIO – A Estácio divulgou nesta terça-feira a terceira troca no comando da companhia em menos de três meses, como antecipou o Lauro Jardim, colunista do GLOBO. Gilberto Castro, renunciou à presidência da empresa, cargo que assumiu no início de julho. Ele será substituído por Pedro Thompson, que acumulará a nova função à de diretor Financeiro. A decisão de Castro, que segundo comunicado foi motivada por razões pessoais, acontece duas semanas após a aprovação pelos acionistas da fusão do grupo carioca com a Kroton Educational.

Os papeis das duas companhias foram os de maiores quedas nesta quinta-feira na Bolsa de São Paulo. As ações da Estácio recuaram 4,76%, para R$ 16,61. Já as da Kroton caíram 3,69%, a R$ 13,85. Juntas, subirão a líder no setor de educação privado no mundo, com 1,6 milhão de alunos, segundo a CM Consultoria. O negócio depende agora de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Este mês, a Estácio divulgou prejuízo de R$ 19,9 milhões no segundo trimestre, ante um lucro de R$ 133,33 milhões de abril a junho de 2015. Informou ainda ter registrado lançamentos financeiros decorrentes de transações entre partes privadas irregulares no valor de R$ 108,1 milhões. A provável fraude afetou o o balanço.

O entra-e-sai no comando da Estácio teve início em meados de junho de 2016, quando Rogério Melzi renunciou à presidência em meio à disputa travada entre a Kroton e a Ser Educacional pela Estácio. Ele acabou substituído por Chaim Zaher, maior acionista individual do grupo e membro do Conselho de Administração.

? É preciso lembrar que no fim de abril entrou o novo Conselho de Administração. Houve uma série de mudanças na diretoria executiva. O Melzi renunciou à presidência, entrou o Chaim e, depois, o Gilberto (Castro), que está saindo por questões familiares ? diz Thompson. ? Mas ele ajudará na transição até o fim de setembro, quando deixará a companhia.

Ainda em junho, em entrevista ao GLOBO, Zaher explicou que no caso de Melzi, o pedido para deixar a presidência partiu do próprio executivo. “Ele teve uma conversa com o conselho. O pedido partiu dele. Houve muitos desgastes. Os acionistas não estavam satisfeitos. Então o pessoal (do conselho) optou pelo meu nome nesse momento, pela experiência na área acadêmica e em negócios”, declarou Zaher.

No mercado, a percepção é de que existe um desencontro entre o Conselho e os executivos da companhia.

? A descontinuidade administrativa mostra que internamente deve haver problemas de relacionamento na Estácio. Isso pode depreciar o valor da marca e da empresa. A companhia precisa focar em gestão e na qualidade acadêmica ? avalia Carlos Monteiro, presidente da CM.

MENOS BOLSAS E DESCONTOS PARA ALUNOS NOVOS

Fonte próxima à gestão da empresa reconhece haver desgastes, mas considera a queda no valor das ações e a percepção de que pode haver desentendimento dentro da companhia como “naturais”.

? Não há conflito interno do Conselho com executivos. Mas é claro que o momento atual desgasta a todos. Em poucas semanas, houve negociação de fusão, ajustes contábeis, muitas coisas ? comentou essa fonte.

Para Adeodato Netto, da Eleven Financial Research, o presidente executivo tem posição difícil em companhias em processo de fusão.

? Numa fusão em que deverá haver obrigação de venda de ativos (pela sobreposição principalmente na área de Ensino à Distância) e de se abrir mão de valores em prol de uma transação que pode beneficiar os acionistas em detrimento à companhia, há muitos conflitos. O presidente fica numa posição difícil. Ele tem de trabalhar como se o negócio (a fusão) não existisse, mas, ao mesmo tempo, atendendo a condições já negociadas e em linha com o interesse do acionista ? avalia ele.

Thompson afirma que a companhia trabalha focada em melhorar a qualidade acadêmica, lembrando que o cenário econômico atual é desafiador para o setor de educação privada como um todo:

? Os impactos no balanço do segundo trimestre são contábeis e não comprometeram o caixa da companhia. Vivemos um ambiente desafiador na economia, com as reduções do Fies. Temos foco 100% na operação, procurando maximizar a entrada de caixa, otimizar as margens, reduzir inadimplência sem abrir mão de qualidade no ensino.

Com o resultado do segundo trimestre, para ampliar o valor da mensalidade média, a companhia vai reduzir o percentual de bolsas e isenções concedidas para novos alunos neste segundo semestre de 2016, além de rever o preço de cursos em praças mais consolidadas. Deve haver ainda reajuste nos valores cobrados de veteranos e corte criterioso de bolsas para inadimplentes, seguindo regras previstas em contrato.

? Precisamos combinar a qualidade acadêmica com uma base de operação adequada e números financeiros sólidos para fazer a máquina girar. Os aumentos de mensalidade estão em linha com o que é feito no mercado. O que faremos nesse semestre é sermos mais criteriosos na concessão de bolsas e descontos ? explicou Thompson.

Monteiro destaca que os efeitos das mudanças nas regras do Fies, programa de financiamento educacional do governo federal, o desemprego e a inflação são entraves ao negócio enfrentados por todo o segmento. Na Estácio, por exemplo, a fatia de estudantes no Fies encolheu para 37% de abril a junho de 2016, contra 45% no segundo trimestre de 2015.

? Uma das causas dos bons resultados da Estácio recentemente foi o excesso de bolsas e descontos oferecidos a novos alunos, para compensar as perdas com o Fies. Mas agora, eles precisam mexer nisso. Mas quem entrou com desconto, não vai querer abrir mão do benefício. Não será fácil rever isso ou fazer reajustes agora ? avalia o presidente da CM Consultoria.

A Kroton não comentou.