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Esquiva e Yamaguchi, os irmãos invictos do boxe

Enquanto o campeão olímpico Robson Conceição prepara a sua estreia na categoria profissional no próximo sábado contra o americano Clay Burns, em Las Vegas, nos Estados Unidos, o boxe brasileiro pode voltar a ter um campeão mundial já em 2017. Quatro anos depois de terem conquistado suas medalhas de prata e de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres, os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão vivem uma nova e bem sucedida realidade ajudada pelo sucesso olímpico.

Robson

Invictos no boxe profissional, os pugilistas capixabas dos pesos médio (até 72 kg), viram suas vidas mudarem completamente com a migração para o profissional. E agora sonham em conquistar um cinturão de campeão de uma das quatro organizações de boxe que o Brasil não fatura desde o baiano Acelino Popó Freitas em 2006.

– Meu plano é ser campeão do mundo. Quando eu tiver 18 ou 19 lutas já terei um cartel que todos os lutadores têm quando começam a disputar lutas importantes e o título mundial. Pelo meu contrato, ano que vem chego a esse número e acredito 2017 seja um ano de disputar um cinturão mundial. Já posso falar que estou pronto e meu treinador diz que estou pronto para qualquer adversário que vier – disse Esquiva, que tem 14 vitórias, sendo 11 por nocaute, na carreira.

Este também é o desejo de Yamaguchi, que tem 11 vitórias, sendo cinco por nocaute no profissional.

– Como hoje sou o atual campeão latino-americano, primeiro brasileiro ranqueado, número 1 do Brasil e 25 do Conselho Mundial de Boxe em um ranking que vai até 40, acredito que o ano de 2017 pode ter surpresas. Estou esperando disputar o título mundial. Estou confiante e trabalhando forte para isso.

Depois da medalha na capital britânica, Esquiva se mudou para Las Vegas assim que assinou contrato com a Top Rank, mesma empresa que acertou com Robson Conceição. Hoje vive na cidade que é a meca do boxe e onde é treinado pelo argentino Miguel Diaz.

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Yamaguchi segue no Espírito Santo, mas hoje consegue viver apenas do boxe, o que era impossível quando era atleta do boxe olímpico, e também prepara a sua mudança para os Estados Unidos, onde voltará a lutar no próximo dia 17 de dezembro, na Califórnia, contra um adversário ainda indefinido.

– O boxe profissional abriu muitas portas para mim. Estou começando a conquistar as minhas coisas. Ainda não consegui tudo o que queria financeiramente, mas estou conseguindo sobreviver do boxe. No (boxe) olímpico eu tinha que fazer uns quebrados por fora – diz Yamaguchi, lembrando os bicos que fazia dando aulas de boxe e treinando atletas.

Luta de Esquiva Falcão

MÃE NÃO QUER LUTA ENTRE ELES

Esquiva e Yamaguchi seguem ligados, mas conversando menos por conta da distância geográfica de ambos. Contudo sempre que podem, trocam impressões sobre lutas e seus rivais a cada combate.

Ao contrário de Londres, quando estavam em categorias diferentes, os dois irmãos hoje competem no mesmo peso. O que faz muitos imaginarem se seria possível um duelo entre os irmãos no futuro, caso a carreira de ambos continue indo bem. Quem sabe até, numa disputa cinturão.

Uma luta dessas não acontece por causa da família. Minha mãe não autoriza

Apesar do potencial sucesso comercial que seria para o boxe dois irmãos lutando no ringue, esse combate já foi vetado por alguém que nem o lendário Don King, famoso empresário que promovia lutas de grandes nomes do boxe como Muhammad Ali, George Foreman e Mike Tyson, conseguiria convencer. Dona Maria Olinda Falcão, mãe dos dois pugilistas, não quer nem ouvir falar dessa possibilidade.

– Uma luta dessas não acontece por causa da família. Minha mãe não autoriza. Eu, como atleta, se subir no ringue comigo estou lutando. Pode até ser o meu pai. Mas pelo amor da minha mãe isso não aconteceria – diz Esquiva.

– Acho muito difícil. Pode acontecer de um dia sermos campeões de uma das quatro principais organizações do mundo e as empresas tentarem promover essa luta, mas já conversamos isso em família e decidimos que nós dois não aceitaríamos lutar um contra o outro. Meu pai (Touro Moreno) aceita. Para ele, luta é luta. Mas a minha mãe não aceita. Não quer ver os dois irmãos lutando – completou Yamaguchi.

Esquiva e Yamaguchi, portanto, sonham em repetir nos pesos médio o que fizeram os irmãos ucranianos Vitaly e Wladimir Klitschko nos pesos pesados. Unificar os quatro cinturões das diferentes associações de boxe profissional na família Falcão. Os Klitschko, aliás, nunca se enfrentaram também por causa de uma promessa feita para a mãe.

– Tenho total segurança de que isso irá acontecer. Meu irmão tem um talento incomparável. É muito bom no que faz e estou seguindo o caminho da vitória. Daqui a mais uns dois ou três anos, a casa do Touro Moreno pode estar com os quatro cinturões mundiais. Tudo para a família – afirmou Esquiva.

TORCIDA POR ROBSON

Esquiva, que ontem enfrentou o mexicano Josué Obando, vê a ida de Robson Conceição para o profissional como benéfica para ele e o boxe brasileiro. Ele contou que o baiano encontrará outra estrutura no profissional e tem tudo para ter sucesso.

– É um atleta muito experiente, já foi para três Olimpíadas. É importante ir lá e mostrar que está preparado. De preferência, ganhar por nocaute, pois isso ajuda muito no boxe profissional. É mais importante, pois mostra que você tem uma diferença grande sobre o seu adversário.

No profissional, ele vai crescer muito rápido. Ele está no caminho certo

Yamaguchi também confia no sucesso do pugilista baiano.

– O boxe dele é muito agressivo. No profissional, ele vai crescer muito rápido. Ele está no caminho certo.

Ambos reconhecem que o boxe andou perdendo espaço entre o público nos últimos anos para o MMA, categoria que o Brasil teve muitos campeões. Mas os irmãos Falcão acreditam que isso pode mudar se o Brasil voltar a ter um campeão mundial.

– O que falta no boxe é um ídolo, um campeão. Todos estamos lutando e trabalhando para que isso aconteça. Se só um de nós, eu, meu irmão ou o Robson, for campeão mundial, acredito que isso vai abrir a mente de muita gente e vão olhar com outros olhos para o boxe – encerrou Esquiva.