Cotidiano

Esquema gigante de corrupção fez Cabral procurar apoio no Uruguai

O esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral era tão grande que o peemedebista se viu obrigado a buscar apoio de um operador fixado em Montevidéu para lavar dinheiro sujo. Cabral já tinha uma fortuna de US$ 6 milhões, escondida no exterior, em 2007, quando assumiu o governo fluminense. Desde então, com o volume de propinas tendo alcançado ?valores surreais?, como afirma o Ministério Público Federal, teve de pedir ajuda a um doleiro internacional para lavar o dinheiro.

Foi neste momento que o esquema ganhou um novo personagem, ainda misterioso para os investigadores: ?Juca Bala?, um operador brasileiro que vive em Montevidéu, no Uruguai. Dele, os irmãos Renato e Marcelo Hasson Chebar, os delatores da Operação Eficiência, sabem apenas que se chama Vinícius Claret, conforme mencionado em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira. Sem ele, Cabral não teria viabilizado transferências ilegais que somaram US$ 100 milhões.

Até 2007, Renato e Marcelo usavam operações dólar-cabo (entrega de valores em reais no Brasil para que fossem creditados recursos em dólar no exterior) usando a própria clientela. Com o gigantismo do esquema comandado por Cabral, foram obrigados a procurar outro doleiro que possuísse maior porte e estrutura para as operações. Foi assim que ?Juca Bala? passou a gerenciar do Uruguai o esquema de lavagem. Os delatores garantiram que não tinham nem sequer o telefone de Juca, pois falavam com ele através do Messenger, usando para isso um sistema criptografado de troca de mensagens.

Renato disse que, durante as operações, se encontrou com Juca em pelo menos três ocasiões, mas sempre no hotel onde se hospedava em Montevidéu. Juca, segundo ele, tinha uma estrutura no Rio de Janeiro para o recebimento em espécie dos valores da propina de Cabral. O esquema de lavagem, segundo os delatores, ocorrida da seguinte forma: de posse dos reais enviados por Cabral através de Carlos Miranda, Renato e Marcelo entravam em contato com Juca pelo MSN, por meio do programa PIDGIN, para fechar a taxa de câmbio. O megadoleiro, segundo eles, também utilizava os codinomes Ana Holtz e Peter.

Uma vez definidos os valores, uma equipe composta normalmente por um liquidante e dois seguranças, que se dirigiam ao escritório dos delatores e usavam uma senha, como, por exemplo, ?melancia?, para retirar os valores que deveriam ser posteriormente creditados no exterior. Havia outra senha para identificar também o nome do portador dos valores.

A descoberta de Juca reforça as suspeitas de que o Uruguai figura como a principal porta de passagem do dinheiro sujo brasileiro para o exterior.