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Escolhas e novas opções: os próximos passos de Tite na seleção

MANAUS – Para um treinador, torna-se mais fácil trabalhar quando a prática confirma que suas ideias apontam para um caminho correto. É com estes trunfos, passados os dois primeiros jogos, ambos difíceis e ambos vencidos, que Tite poderá planejar os próximos passos. Para fazê-lo, no entanto, terá que levar em conta novas variáveis. Philippe Coutinho é uma delas, cumprindo o papel do reserva que aportou novas possibilidades ao time. Há, ainda, jogadores não convocados que são candidatos a um lugar. Além de supostos coadjuvantes que exibiram mais protagonismo do que o esperado. O fato é que, encerrado o jogo com a Colômbia, Tite admitiu que o processo de construção do time ainda lhe impõe dúvidas.

Em tese, são notícias boas. Mas todas impõem escolhas, decisões. Coutinho surge como um exemplo muito claro. Entrou contra o Equador, entrou contra a Colômbia e, nos dois jogos, trouxe uma nova forma de jogar. Willian, que começou as partidas, prefere a condução da bola pelo lado do campo, embora em diversas oportunidades tenha buscado o jogo pelo centro, juntando-se aos demais meias do time. Coutinho é especialista neste último movimento, e menos na jogada de ponta, perto da linha lateral. Ao refletir sobre um ou outro, Tite pensará no adversário e na forma de jogar da seleção.

– Há um processo de evolução que vai se mostrar no campo. Não sei se a flutuação (movimento do jogador que atua na ponta e vem armar pelo meio) deve ser com o Neymar, na esquerda, ou na direita, com Willian. Ou se é uma alternância. O importante é ter opções – disse Tite. – O que fiz foi usar jogadores na posição de seus clubes, nas mesmas funções. Para que tivessem memória tática. Coutinho joga pela esquerda no Liverpool. Da esquerda para o meio. Nesta função, aqui é o Neymar. No treino, pedi para ele fazer isso na direita para ver como se sentia. Ele disse: “professor, me senti bem”. Os jogadores também me trazem informações.

Eliminatórias 06-09-2016

Coutinho admitiu que vive uma adaptação.

– É um pouco diferente pra mim, no clube jogo pelo outro lado. Mas Tite nos dá liberdade de falar as dificuldades que sentimos, também me dá a liberdade de flutuar para o meio. É o que tenho tentado fazer. Cada um tenta aproveitar suas oportunidades e estou feliz – disse o meia.

Em outubro, a seleção enfrenta Bolívia e Venezuela. Em tese, volta a jogar com um favoritismo que há algum tempo não ostentava. Vice-líder das eliminatórias, tem a chance de ganhar conforto que lhe permita, no futuro, fazer testes. Para os dois próximos jogos, haverá novas peças na mesa. Recuperando-se de lesão, Thiago Silva deverá estar pronto para ser convocado e está nos planos da comissão técnica. Outro que volta de lesão e que, caso estivesse em condições, terá jogado a Olimpíada do Rio e os jogos de estreia de Tite é Douglas Costa, do Bayern de Munique. Este último, seria mais uma opção na disputa por vagas pelo lado direito do campo, onde estão Willian e Coutinho.

Os dois primeiros jogos com Tite viram a confirmação do papel de protagonista de Neymar, viram Gabriel Jesus aproveitar a chance de se firmar como camisa 9, mas viram supostos coadjuvantes serem exaltados. Quem sai com posição absolutamente consolidada é Casemiro. O volante do Real Madrid ganhou muitos elogios e assuiu de vez a posição à frente da zaga, posto vital no 4-1-4-1 de Tite.

– Não imaginava que pudesse ter tal desempenho e tamanho domínio do setor – disse Tite, que em seguida relatou uma conversa com Zidane, técnico do Real Madrid, clube do volante. – Zidane me falou: “Ele dá o equilíbrio à minha equipe”. Quando o adversário joga com dois atacantes, ele se posiciona bem entre os nossos zagueiros, impedindo que fiquem no mano a mano e cortando opções de passe. Foi assim contra o Equador, mas ainda achou espaço para dar o passe que iniciou o primeiro gol. Se o rival tem só um atacante, sobra mais espaço para Casemiro por ali.

No meio-campo, as duas vitórias brasileiras parecem ter representado a afirmação definitiva de Renato Augusto, com um protagonismo já ensaiado na reta final dos Jogo Olímpicos. Tite enxerga a capacidade de leitura do jogo uma virtude essencial do meia, peça essencial para se apresentar como opção de passe, permitir que o time faça triangulações a saia da defesa para o ataque.

– Este foi um jogo de xadrez no segundo tempo. A gente não podia errar e tinha que aproveitar o erro deles. Precisei ficar mais preocupado com o lado esquerdo, por causa da entrada do Cuadrado. Tite gosta de um jogo de posse de bola, abrindo espaço entre as linhas do adversário. É o que temos feito – disse Renato Augusto.

– A ideia é sempre ter um meio-campo forte, o que te dá consistência e criação. É preciso ter uma ideia, a criação. Grandes times têm esta marca. Não é comparação, é questão são as ideias: a seleção de 82, o Flamengo de Zico, a seleção de 70… Zagallo me disse que tinha cinco camisas 10 – disse Tite.

Brasil x Colômbia