Cotidiano

Escola Parque vende fatia de 5% a fundo de participações

INFOCHPDPICT000061677555RIO – A Bahema S.A., holding de participações ? que compra fatias societárias de empresas ? criou um braço específico para atuar no segmento de educação básica, a Bahema Educação. Deu os primeiros passos com a aquisição de uma fatia de 5% da carioca Escola Parque e de 80% da paulistana Escola da Vila. O aporte nas duas, que juntas somam 5,300 alunos, chega a R$ 42,23 milhões. A empresa anunciou ainda que está aprofundando as conversas para comprar também um percentual da Balão Vermelho, de Belo Horizonte. As três partilham linhas pedagógicas que valorizam a autonomia dos alunos, desenvolvendo a cooperação e o pensamento crítico.

A operação é exemplo da força da educação básica privada como o novo objeto de desejo de investidores, após um recente boom no ensino superior. Não à toa, a Bahema já estima fazer um aumento de capital de até R$ 35 milhões nos próximos 12 meses. Também esta semana, foi anunciada a compra da operação no Brasil da rede canadense de escolas bilíngues Maple Bear pelo Grupo SEB, um dos líderes no setor privado em educação básica.

? A urgente melhora necessária no ensino básico brasileiro passa também por um setor privado mais eficiente e dinâmico, capaz de entender a revolução pela qual a educação está passando e de encontrar as melhores respostas para os desafios de metodologia que são cada vez mais latentes ? explica Guilherme Affonso Ferreira Filho, diretor de Relações com Investidores da Bahema. ? Acreditamos que a consolidação e profissionalização que já aconteceu no ensino superior vai chegar ao ensino básico, auxiliando na perenização dos bons projetos pedagógicos.

Outros grupos vêm direcionamento robustos investimentos ao setor. A Gera Venture Capital, fundo que tem Jorge Paulo Lemann como maior investidor, criou a Eleva. A marca conta com uma plataforma na internet voltada para o Enem, sistema de ensino (as antigas apostilas), além de uma escola inaugurada este ano no prédio histórico onde funcionou a Casa Daros, no Rio. A Concept, marca do SEB, chegou ao mercado também este ano com foco no mercado classe A, com unidades em Ribeirão Preto e Salvador, prometendo inaugurar escolas em Rio e São Paulo em 2018.

? O aumento dos investimentos na educação básica privada vem ao encontro de uma demanda dos segmentos de maior renda por escolas de abrangência curricular mais ampla. É tendência em linha com o que é feito nas nações mais fortes em educação no mundo, em direção a projetos que integram várias disciplinas, competências e áreas do conhecimento ? conta Cesar Callegari, presidente da Faculdade Sesi-SP e membro do Conselho Nacional de Educação.

O revés desse movimento, continua ele, está no aumento da distância que separa o ensino público do privado:

? A educação básica está estruturada no Brasil em diversos aspectos, mas demanda ainda muito investimento. Existe um fosso abissal entre o que é oferecido pelas escolas públicas e as escolas privadas.

ESCOLAS MANTÊM OPERAÇÕES INDEPENDENTES

A Bahema visitou mais de 70 escolas ao longo de 2016 até chegar ao trio selecionado. Os termos finais da negociação com a Balão Vermelho ainda não foram fechados. O arranjo atual formaliza uma aliança entre escolas que já mantinham parcerias.

? As três escolas são parceiras há anos porque as sócias se conhecem há quatro décadas. Elas se aproximaram por essa afinidade da linha pedagógica. A Escola Parque procurou a Bahema, que já mantinha conversas com a Escola da Vila. Agora, as sinergias que já tínhamos poderão crescer, sobretudo em experiências para os alunos, mas mantendo a autonomia de cada escola e o modelo de ensino ? destacou Pedro Lyra, diretor financeiro da Escola Parque.

Comunicados divulgados pela escola carioca e pela Escola da Vila enfatizam que a operação é uma via para garantir a perenidade das operações. E que é preciso considerar os desafios que as mudanças nos cenários social, político e econômico mundial, além do desenvolvimento das tecnologias digitais, impõem ao debate sobre o modelo de educação para as futuras gerações.

A proposta da Bahema é que as escolas mantenham suas marcas e projetos próprios. A interação será promovida entre os grupos:

? Vamos tentar servir como intermediário para troca de boas práticas pedagógicas. Um plano de carreira para os professores envolvendo as escolas é um projeto que parece ser bastante positivo para todos os envolvidos. Outro é um intercâmbio de férias entre os alunos, para eles se conhecerem e conhecerem outras cidades ? diz Ferreira Filho.

Para Paulo Presse, coordenador Estudos de Mercado da consultoria Hoper Educação, as três escolas têm perfis parecidos e considerados como referência em educação:

? São escolas com metodologias bem inovadoras, inclusive no processo de avaliação dos alunos. É como uma escola conceito, um nico do mercado, com posicionamento claro, onde atendem o público A ? diz ele. ? A Escola da Vila e seu Centro de Formação de Professores são referência considerando processos de inovação em metodologias de ensino.

Com a negociação, a Escola Parque recebe um aporte de R$ 7,75 milhões. Deste total, R$ 6,43 milhões serão pagos em dinheiro, enquanto o restante será pago em ações da Bahema, garantindo um assento no Conselho de Administração. O contrato oferece a opção de compra dos outros 95% do capital social em três anos.

No caso da Escola da Vila, o aporte é de R$ 34,48 milhões de forma parcelada, com uma parcela de R$ 6 milhões condicionada a um número de alunos matriculados e a um valor médio de mensalidade em 12 e 24 meses, R$ 4,08 milhões trimestralmente, com bônus para as vendedoras caso se cumpram metas de transição, e o restante em três parcelas. Também prevê a opção de compra dos 20% restantes após três anos.