Cotidiano

Entidades se mobilizam contra corte na duplicação

O trecho que deveria ir até o Centro Tecnológico Coopavel termina seis quilômetros antes

Cascavel – As obras de duplicação em dois trechos da BR-277, um em Cascavel e outro em Guarapuava, revelam uma situação preocupante. Os 9,4 quilômetros anunciados aos quatro ventos pelo governo do Estado para pista dupla da BR-277 entre o Trevo Cataratas até o acesso à Ferroeste, em Cascavel, foram reduzidos para 3,2 quilômetros de duplicação, onde os trabalhos já estão em curso. Mas e onde está o restante? “Os demais quilômetros teriam sido remanejados para a cidade de Guarapuava. Queremos explicações sobre isso”, afirma o presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), Edson José de Vasconcellos.

 

Até pouco mais de um ano, Cascavel ganharia os 9,4 km prometidos durante muito tempo e que desafogariam o trânsito durante o Show Rural. A espera era tão grande que ninguém fez as contas quando a ordem de serviço liberada previa apenas 3,2 km. Assim como os que sabiam não fizeram questão de revelar. A redução consta em aditivo no contrato de concessão disponível no site do DER (Departamento de Estradas e Rodagem) do Paraná, sob o número 073/97.

 

Mas até esse arquivo só apareceu há pouco tempo. E a reação foi imediata: “Na semana passada enviamos um ofício assinado pelo G8 e a Caciopar ao governo do Estado solicitando a visita do secretário de Infraestrutura e Logística, Pepe Richa, e do superintendente do DER em Cascavel, Nelson Leal. Queremos explicações sobre esse aditivo”, acrescenta Vasconcellos.

 

A reportagem procurou o superintendente do DER em Cascavel, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.

De pai para filho

O que chama atenção é que os 6 km faltantes em Cascavel apareceram em Guarapuava. A coincidência é que o presidente da Agepar (Agência Reguladora do Paraná) – que avaliza os aditivos para colocá-los em prática – é o ex-deputado César Silvestre, pai do atual prefeito de Guarapuava, César Silvestre Filho.

O Paraná também procurou a Agepar e quem atendeu foi o diretor de Relações Institucionais e Ouvidoria, João Batista Peixoto Alves.

Ele explicou que chegou à Agência uma proposta para algumas obras citadas em termo aditivo. Para isso, estavam disponíveis R$ 85 milhões para reequilibrar o contrato em detrimento dos usuários da rodovia. “Quando começou a concessão, em 1997, havia a previsão da duplicação de Cascavel a Santa Terezinha de Itaipu, mas a famosa Ata 17, de 2005, retirou todas essas obras”, começa a explicar.

Segundo ele, esse trecho em duplicação em Cascavel jamais foi previsto contratualmente, mas, por outro lado, o trecho de Guarauava já fazia parte do contrato original. “O DER fez um estudo de como aplicar esses R$ 85 milhões e foi sugerido o trecho em Cascavel e o trecho em Guarapuava, dividindo os valores para obras nas duas cidades”.

Alves afirmou ainda que não há qualquer previsão e os 6 km restantes em Cascavel, que iriam até o badalado Show Rural, não há previsão para sair do papel. “Mas se essas obras saírem do papel vão gerar um desequilíbrio [financeiro] no contrato”, lembrou, ao reforçar que isso só seria possível com mais dinheiro à disposição.

Concessionária nega remanejamento

O presidente da Acic, Edson José Vasconcellos, acompanha o caso de perto. “Nós esperamos uma resposta contundente do Estado do que está acontecendo porque em 2015 já perdemos a duplicação de Cascavel a Campo Mourão para o trecho de Paranavaí até Nova Esperança”, lembra, referindo-se à duplicação da BR-369. E segue: “A palavra que encontramos para isso é ‘constrangimento’, porque a promessa de duplicação deste trecho na BR-277 [dos nove quilômetros] foi feita pelo próprio governador”.

Consultado a respeito, o prefeito Leonaldo Paranhos disse que não tinha conhecimento do assunto e mostrou preocupação: “Não vamos admitir isso”.

A Ecocataratas, empresa que administra a rodovia de Guarapuava até Foz do Iguaçu, disse que o remanejamento nunca ocorreu e que as obras “nos perímetros urbanos de Cascavel e Guarapuava estão em andamento. Em Cascavel, o trecho a ser duplicado tem 3,2 quilômetros ao custo de R$ 60 milhões. As intervenções começaram entre os quilômetros 583 (próximo ao posto Sabiá) e 580 (próximo ao posto da PRF)” e que integrariam a primeira etapa do projeto.

Contudo, em fevereiro do ano passado o governador Beto Richa declarou, com todas as letras, que seria duplicado o trecho entre os KMs 574 a 584.
Em Guarapuava, o projeto prevê a duplicação de 6,2 quilômetros, mas nesta etapa estão sendo executados 2,1 quilômetros ao custo de R$ 25 milhões. “Já para a execução total de ambas as obras de duplicação em Cascavel e Guarapuava [9 km em Cascavel e 6 km em Guarapuava] os projetos estão finalizados, no entanto, sem data definida para a conclusão”, informou a concessionária.

Para os trechos cujas obras estão em andamento, a conclusão está prevista para 2018.