Cotidiano

Ensino X Pandemia: Quatro meses depois, universidades estaduais ainda discutem aula remota

A superintendência afirma que cada universidade possui autonomia para criar o próprio calendário e o modo como será cumprido

Unioeste
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Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – Quatro meses desde o início da pandemia no Brasil e a suspensão de atividades presenciais de ensino, as universidades estaduais do Paraná ainda discutem sobre a realização de atividades curriculares de forma remota, pela internet.

De acordo com informações da Seti (Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná), apenas duas das sete instituições públicas já implantaram o ensino remoto.

A superintendência afirma que cada universidade possui autonomia para criar o próprio calendário e o modo como será cumprido. As decisões relacionadas ao ensino remoto são acompanhadas pela Seti, mas cada instituição define datas e regras, dentro de das particularidades e das características próprias.

A Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e a UEM (Universidade Estadual de Maringá) sequer definiram a adesão à modalidade remota. A UEM suspendeu o calendário acadêmico e o vestibular de inverno e o Conselho Universitário se reúne nesta quarta-feira (22) para avaliar as atividades de graduação na universidade.

Já a Unioeste deve reunir a comissão que trata do tema no dia 29 (quarta-feira da próxima semana), quando deve haver uma decisão sobre a questão.

O reitor Alexandre Webber ressalta que foram suspensas as atividades presenciais, mas que nesse período foram reforçadas as atividades complementares, aquelas não curriculares. “Diante da pandemia e da suspensão das aulas, nós reforçamos as atividades extracurriculares, como projetos de ensino, palestras e seminários, a fim de continuar repassando conteúdo. Todo aluno tem carga horária complementar a ser cumprida e, com essas atividades, ele pode se inscrever e cumprir”, explica.

Já o retorno das atividades curriculares, de modo remoto, esbarra em outras questões. “Nós tínhamos a esperança de retornar as atividades presenciais no segundo semestre, mas, como isso não ocorreu, temos que trabalhar com as possibilidades que temos. Criamos uma comissão para analisar a situação, para ouvir alunos e professores. Mas, no primeiro levantamento realizado com os alunos, 37% nem responderam ao questionário e 10% dos que responderam não têm estrutura nem equipamento para acompanhar as aulas. Então, entramos em contato com a Receita Federal e conseguimos a doação de aparelhos celulares para emprestar a esses alunos e conseguimos um pacote do Estado que permite o ensino sem a utilização de dados de telefonia. Mas, por conta dos 37% que não responderam à pesquisa, tivemos que refazê-la e vamos discutir as novas informações no dia 29”, detalha o reitor.

Segundo ele, de modo geral, a maioria dos alunos não quer o ensino remoto, mas concordou que, diante da situação da pandemia no Estado, “a volta presencial é impossível e é preciso uma retomada de parte da carga horária curricular”.

Alexandre Webber frisa ainda que é preciso deixar claro o fato de que essa é a solução possível no momento, e não uma mudança de curso presencial para EAD (Ensino a Distância). “Nós não abrimos mão do ensino presencial, mas, no momento, temos que usar as armas que temos e depois compensar tudo. Mesmo que haja esse ensino remoto agora, se houver necessidade, até mesmo esse conteúdo será reposto. Nosso foco é a qualidade do ensino, disso não abrimos mão”, garante.

Caso haja a aprovação de resolução para o ensino remoto, cada curso, por meio de seu colegiado, vai definir de que modo isso vai ocorrer, o conteúdo trabalhado e a forma de avaliação.

Ensino em curso

A mais “adiantada” das estaduais é a Uenp (Universidade Estadual do Norte do Paraná), que implantou o chamado Regime Especial em junho, o qual consiste no desenvolvimento de atividades não presenciais de componentes curriculares teóricos, mediados pelos professores das disciplinas que serão ofertadas.

A implantação foi aprovada pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, composto por representantes da Comunidade Universitária. A definição da programação do ensino fica a critério de cada Colegiado de Curso de Graduação.

A UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) iniciou as atividades pela internet ontem (20) e a resolução aprovada pelo Conselho Universitário já regulamenta, além da retomada dos calendários da UEPG, que o retorno das aulas presenciais só ocorre a partir de fevereiro de 2021. Assim, todas as aulas teóricas serão ofertadas de forma remota neste ano. A frequência será registrada a partir da realização de trabalhos e de atividades acadêmicas.

A avaliação ocorrerá por meio do Google Classroom. As aulas práticas, laboratoriais e de estágio aguardam deliberações do Conselho Estadual de Educação e de Ordem de Serviço específica para encaminhamentos e orientações pedagógicas pertinentes.

Implantação em dúvida

A Seti informou que a Unespar (Universidade Estadual do Paraná) desenvolve atividades não presenciais para o ensino “em caráter extraordinário e temporário”. Ou seja, não há obrigatoriedade de os colegiados e os centros realizarem as atividades. Essa decisão deve ser oriunda de discussões coletivas e a partir da realidade de cada curso e turma.

O principal motivo de manutenção das atividades não presenciais é de não gerar o afastamento total da comunidade, especialmente os discentes. O calendário não foi suspenso, o que estão suspensas são as atividades presenciais, portanto, não houve alteração no calendário. Não foi informada a data de início das atividades remotas.

O mesmo ocorre com a UEL (Universidade Estadual de Londrina), que, de acordo com a Seti, aprovou a retomada do calendário acadêmico e o retorno das atividades de graduação, por meio de ensino remoto emergencial, a partir de 29 de junho, com um prazo flexível para implantação por parte dos colegiados de cursos. Não há informações sobre qual seria o prazo e se a modalidade já foi implantada. A reportagem tentou contato com a universidade, mas ninguém atendeu às chamadas.

As informações da Seti ainda dão conta de que, na UEL, além das normas que preveem o retorno seguro das atividades em etapas, os conselheiros também aprovaram o novo calendário acadêmico da graduação. Dessa forma, o ano letivo terá 276 dias e não 200, conforme estão previstos nos calendários regulares.

O objetivo é conceder um prazo ampliado para que Colegiados e Departamentos e Centros possam se adequar ao trabalho remoto, possibilitando acesso para 100% dos estudantes. O primeiro semestre letivo teve início no dia 29 de junho e termina em 18 de dezembro e o segundo começa em 18 de janeiro de 2021 e será concluído em 25 de junho do próximo ano.

 

 

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Unicentro retorna em breve

 

A Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), em Guarapuava, retoma as atividades, agora de forma remota, na próxima segunda-feira (27). A Pró-Reitoria de Ensino informa que o retorno é referente ainda ao primeiro semestre letivo e ocorre conforme definição dos departamentos pedagógicos acerca das disciplinas e do percentual de carga horária.

As datas de término do primeiro semestre e do início do segundo semestre letivo ainda serão deliberadas pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Pós-Graduação mantida

De acordo com a Seti, as atividades de pós-graduação, mestrado e doutorado na rede pública foram mantidas. Atividades e orientações remotas permitiram que o calendário fosse seguido.

Assim como as defesas de teses e trabalhos também ocorreram de forma remota e, segundo o órgão, a continuação das defesas nessa modalidade deve ser uma tendência, permitindo inclusive bancas interestaduais sem locomoção.

Além disso, as pesquisas, especialmente na área da saúde, foram intensificadas desde o início da pandemia do novo coronavírus e cada área buscou não perder o vínculo com os estudantes.