Cotidiano

Ensino Médio no país avançou apenas 0,3 ponto em dez anos de Ideb

RIO- Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015 são preocupantes por diferentes motivos, mas, principalmente, porque sublinham a grave situação do ensino médio no país. Pela segunda edição consecutiva, o Brasil só atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Educação (MEC) para os primeiros anos do ensino fundamental. O aprendizado nos anos finais do ensino fundamental avançou em relação ao índice de 2013, mas não o bastante para alcançar a pontuação almejada. Enquanto isso, o ensino médio ficou estagnado, com a mesma nota desde a edição de 2011. Em dez anos, desde o primeiro ano do indicador, a etapa final da formação escolar brasileira foi a que menos evoluiu: apenas 0,3 ponto. ideb

Ao divulgar os números durante uma coletiva de imprensa ontem, em Brasília, o ministro da Educação, Mendonça Filho, reconheceu que o panorama é ?absolutamente negativo?. Segundo ele, as notas obtidas nas duas etapas estão ?muito distantes do que seria o razoável?, ressaltando que as metas estabelecidas não são ?ousadas?.

? Mostra que, infelizmente, o Brasil está mal ? resumiu o ministro.

O ensino médio público e particular do país permanece com 3,7 pontos desde 2011, o que deixa o segmento distante do objetivo para 2015, de 4,3 pontos. Neste ano, apenas dois estados alcançaram suas metas estipuladas para a etapa: Amazonas e Pernambuco. Alguns, como Santa Catarina e Goiás, apresentaram notas menores que as obtidas em 2013. O Rio de Janeiro ficou com os mesmos 4 pontos, que foram suficientes para bater a meta do Ideb anterior, mas ficaram abaixo do novo objetivo: 4,2 pontos.

Para os alunos dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano), o objetivo era atingir 4,7 pontos, mas o país obteve nota de 4,5. Já nos anos iniciais (1º ao 5º), o Brasil conseguiu 5,5 pontos, batendo com folga a meta de 5,2 pontos.

Divulgado a cada dois anos, numa escala de 0 a 10, o Ideb considera o fluxo escolar (taxa de aprovação dos estudantes) e o desempenho dos alunos em testes padronizados de português e matemática. Trata-se do principal indicador da educação básica brasileira, que serve para nortear investimentos e políticas públicas no ensino. O objetivo é chegar a 2021 com nota 6 nos anos iniciais do ensino fundamental, 5,5 nos anos finais do ensino fundamental e 5,2 no ensino médio.

Mendonça Filho apontou a falta de conexão entre o conteúdo do ensino médio e as demandas dos estudantes, bem como a quantidade excessiva de disciplinas, como motivos para os baixos índices. Segundo o ministro, se o Congresso não votar o projeto de lei 6.840/2013, que prevê uma reforma radical nessa etapa, ele pedirá ao presidente Michel Temer a edição de uma medida provisória com o conteúdo da proposta. O projeto propõe uma flexibilização do currículo e a possibilidade de articulação com o ensino técnico profissionalizante.

? Não podemos ficar aguardando uma janela de oportunidade do Parlamento quando já temos o consenso sobre a mudança no ensino médio. Queremos começar 2017 com esse novo desenho ? disse o ministro.

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR TERÁ ATRASO

Sobre mudanças no conteúdo, o MEC já informou que atrasará a entrega da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) referente ao ensino médio para o ano que vem, com o objetivo de formatá-la de acordo com o projeto de lei. As demais etapas escolares devem ter suas bases finalizadas antes disso.

A presidente-executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, pede celeridade na reformulação do ensino médio. Na sua opinião, a atual arquitetura é insustentável. Prova disso, diz ela, é que, ao contrário do esperado, melhorias nos primeiros anos do ensino básico não têm reflexo no fim do ciclo.

? O aumento do Ideb nos anos iniciais é uma boa notícia, que devemos celebrar ? diz Priscila. ? Em 2007, a gente acreditava que essa onda de melhorias chegaria ao ensino médio, mas isso não está acontecendo. Nem vai acontecer se mantivermos este modelo arcaico de educação.

A nota de 3,7 pontos no Ideb diz respeito às redes pública e privada de ensino médio. Isoladamente, o ensino público ficou com 3,5 pontos e a rede particular, com 5,3. Mas o índice das escolas particulares vem caindo. Era de 5,7, em 2011, e de 5,4, em 2013.

Estes resultados indicam que, ao contrário do imaginado, são os colégios privados que estão puxando a queda na qualidade do ensino médio. O indicador piorou em 12 estados, manteve-se inalterado em seis e subiu em nove estados. Na rede pública, apenas quatro estados apresentaram melhora, mas, por outro lado, o indicador piorou somente em cinco.

? O Ideb deixou o alerta de que não estamos prestando atenção nas nossas escolas privadas, que também não entregam o resultado esperado ? afirma Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco. ? Não existe uma bala de prata, mas pontuo três condições necessárias para alavancar a melhoria: a flexibilização do conteúdo, investimento na formação dos professores e gestão voltada para a pedagogia.

Para Eduardo Deschamps, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a queda nos indicadores da rede privada de ensino médio, embora responda por apenas cerca de 12% das matrículas nessa etapa escolar no país, é ?sintomática?.

? Prova que chegamos no limite do ensino médio, até na rede privada. É um modelo estrutural incompatível com século XXI. Há muito o que melhorar, mas sem as mudanças legislativas, ficaremos muito limitados no que podemos fazer ? diz Deschamps, defendendo a aprovação do projeto de lei de reforma do ensino médio.