Cotidiano

Encontro musical entre Gal, Gil e Nando Reis anuncia possibilidades futuras

BRASÍLIA ? O show em homenagem ao centenário de Ulysses Guimarães, realizado nesta quinta-feira no teatro em Brasília que leva seu nome, estava na última música do bis. Nando Reis cantava “Do seu lado” quando improvisou: “Tocando no mesmo palco com Gal e Gil do meu lado/ Mas tudo que acontece na vida tem um momento, um destino”. O compositor marcava ali o caráter especial do encontro do trio, reunido para o tributo – idealizado pelo jornalista Jorge Bastos Moreno, colunista do GLOBO. Especial não só pelos ineditismos envolvidos – Gal nunca tinha cantado músicas de Nando, Gil e Gal nunca tinham cantado “Esotérico” só os dois. Mais que esses destaques, a plateia (formada apenas por convidados) pôde testemunhar o surgimento de uma conexão forte entre Gil e Nando – com a liga de Gal, que entrou na reta final do espetáculo. Um diálogo que tem potencial para se estender por um projeto maior.

– Temos que ver como funciona no palco, mas pelo que estou vendo nos ensaios tem chances de nascer um projeto daí – disse a produtora Flora Gil, antes do show.

Diretor do espetáculo, Rafael Dragaud também aposta no prolongamento do encontro:

– Os sentimentos estão se organizando nesse sentido.

A noite foi aberta por Leilane Neubarth, que lembrou que Ulysses costumava ser chamado de Sr. Democracia e convidou ao palco João Carlos Di Genio, reitor da UNIP (universidade à qual pertence o teatro) e amigo do político. Depois de seu discurso, Cissa Guimarães declamou falas do homenageado – ela voltaria ao palco outras vezes ao longo do espetáculo. Gil foi a primeira atração musical, num roteiro que naturalmente tangenciou a política, fosse pela canções do exílio “Back in Bahia”, na saga sertaneja de “Viramundo” ou mesmo na filosófica “Não tenho medo da morte” (que usa a imagem de um presidente transferindo a faixa ao sucessor para falar do momento da morte).

Depois, foi a vez de Nando Reis assumir o palco sozinho. Ele lançou mão de alguns de seus hits, como “Simplesmente”, “Relicário” e “Cegos do castelo”. Canções de amor que “fazem uma transposição do folk para a música brasileira, com versos e temas ligados a seu tempo”, como elogiou Gil em entrevista mais cedo, durante a passagem de som. No palco, ele voltou a se referir com admiração a Nando, quando os dois já estavam juntos – e logo após o paulistano falar que nunca imaginou que ia viver aquele momento.

– Ali na coxia agora virei para ele e disse: “Queria tocar violão como você” – contou Gil.

Nando emendou:

– Eu respondi na hora: “Quer trocar?”

Enquanto estiveram juntos, em canções como “A novidade” e “Por onde andei”, ficou evidente a admiração de Nando e o prazer de Gil de se lançar sobre as canções do colega de palco – a plenos pulmões no canto ou investigando caminhos no violão. Nando chegou a olhar para Gil sorrindo emocionado quando, em “All star”, cantou o verso “Estranho mas já me sinto um velho amigo seu”.

Foi nesse terreno que Gal se lançou, cantando velhas conhecidas, como “Barato total”, e outras completamente inéditas em sua voz, como “Segundo sol” e “Dois rios” (“É Beatles, é Clube da Esquina”, ela havia dito mais cedo, referindo-se à parceria de Samuel Rosa, Lô Borges e Nando). O bis teve “Esotérico” e “Do seu lado”, fechando uma noite que anunciou possibilidades futuras, sobretudo se apoiadas em canções de Nando, solo fértil e inexplorado pelas vozes de Gal e Gil – e pelo violão do baiano.

* Leonardo Lichote viajou a convite da UNIP