Cotidiano

Empreendedores investiram em meio à crise e tiveram sucesso

63206015_BC Rio de Janeiro RJ 07-12-2016 - Pessoas que empreenderam em meio a crise Os irmaos Ma.jpg Mais RIO – Há quem diga que a economia do país chegou ao fundo do poço e que este ano entrou para o rol dos que merecem ser esquecidos. Mas também há muita gente que nadou na direção contrária: são empreendedores que abriram negócios em 2016 e conseguiram se manter de pé. Eles têm muito a ensinar, afinal, contrariaram muitas previsões negativas e até conseguiram prosperar em meio à crise.

Em geral, a trajetória dessas pessoas guarda um histórico de planejamento e estratégias para não perder dinheiro. É o caso dos irmãos Marcelo e Marcelly de Moraes dos Santos, que apostaram em levar uma unidade da rede de pizzarias Vezpa até a Rua Uruguai, na Tijuca. [É a primeira loja dessa franquia no bairro.

? A ideia veio da minha irmã, após assistir a uma palestra do dono da marca. Estudamos a viabilidade do negócio e abrimos na semana do carnaval ? conta Marcelo.

Para montar o negócio, eles investiram cerca de R$ 700 mil. Desde a inauguração, o movimento se mantém dentro do esperado e, se continuar como está, os sócios esperam recuperar o capital investido em cerca de um ano e meio. O tiro até agora certeiro dado pela dupla guarda algumas razões.

? Sou nascido e criado na Tijuca. Então, conhecia profundamente o ponto escolhido. Sabia que daria certo ali, porque tenho noção do poder de consumo dos moradores e sei como a área é movimentada ? conta Marcelo, que já planeja abrir uma butique de carnes na mesma região.

Outro ponto fundamental foi ter bastante zelo com as finanças e não perder tempo na hora de fazer ajustes. Cuidar bem de aspectos como estoque e consumo de energia foram pontos-chave, segundo Marcelo.

? Logo que abrimos, eu fazia compras exageradas ou insuficientes para o estoque. Agora já me planejo melhor, controlando mais os gastos. No começo também havia posto muitos funcionários devido à alta demanda. Mas consegui diminuir um pouco, depois de observar o funcionamento da loja e entender como poderia otimizá-lo. E como temos oito aparelhos de ar-condicionado, aprendi a controlá-los para economizar energia ? conta ele.

O empresário paulista Ricardo Takayoshi Kusaba também encarou o ano difícil com um investimento. Prevendo que poderia ser alvo dos recorrentes cortes de pessoal feitos pela empresa de seguros onde trabalhava, ele achou prudente pesquisar novos negócios.

? Percebi que a maioria dos meus amigos, quando demitidos, levavam até dois anos para se recolocar e ainda assumiam posições inferiores ao trabalho anterior. Então, comecei a buscar um tipo de negócio que pudesse abrir com os meus recursos financeiros ? conta ele, que optou por inaugurar uma loja da franquia de roupas infantis Kidstok, quando as demissões chegaram até ele.

PESQUISA CRITERIOSA

Ao pesquisar as possibilidades de negócio, Kusaba se preocupou com alguns critérios. Ele queria um modelo que não fosse muito restritivo, ao mesmo tempo que vendesse algo pouco suscetível às oscilações de mercado.

? Investi R$ 220 mil e a previsão é recuperar esse investimento em cerca de dois anos. Operando há um mês e meio, tudo está dentro do planejado ? garante ele. ? Devo isso ao meu cuidado antes de abrir a loja. Escolhi um shopping movimentado e conversei muito com os lojistas para entender a demanda.

De acordo com o CEO da consultoria especializada em executivos Stato, Rubens Prata, o número de profissionais assessorados pela companhia que optam por investir em franquias aumentou 50% nos últimos dois anos. Para ele, essas pessoas têm grande chance de se dar bem neste tipo de investimento, por ser um modelo de negócio baseado em padrões e processos pré-determinados, com desafios comparados aos enfrentados no mundo corporativo. O que difere são os riscos e, por isso, o negócio deve ser avaliado de maneira plena.

? A vida de um executivo pode mudar com a compra de uma franquia, principalmente se ele dedicar boa parte do próprio tempo à gestão do negócio em si. Se for uma atividade essencialmente comercial, por exemplo, o calendário e os horários podem ser bem diferentes da vida anterior no escritório. O convívio diário com colegas de trabalho com formação similar também pode diminuir e a rotina ser mais solitária ? menciona Prata.

PROTAGONISTAS

Para ser protagonista da própria história, os futuros empresários estão planejando muito mais a sua entrada no empreendedorismo. Esta é a percepção de representantes do Sebrae e da Endeavor, instituições que trabalham diretamente na preparação destes personagens.

Marcela Zonis, diretora de Relações Institucionais da ONG Endeavor, analisa que a qualidade desses profissionais vem melhorando muito ao longo dos anos.

? Em um momento de crise o que acaba acontecendo muito é o empregado virar empreendedor por necessidade. O desafio é transformar esta falta de oportunidade em algo grande, que seja mais do que lutar pela sobrevivência ? afirma ela.

Este ano foi bastante desafiador para todos, mas Marcela lembra que algumas empresas conseguiram crescer até 200%. O perfil? São pessoas mais preparadas e com negócios diferentes.

? O mercado carece de empresas qualificadas e inovadoras. Quem tem esta característica consegue crescer mesmo na crise, capturando o market share de quem não faz direito. A competência é uma vantagem competitiva no Brasil ? comenta ela.

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O administrador de empresas Estevon Feil apostou no preço e na qualidade para abrir sua loja de informática no Shopping Crystal Mall, em Curicica, em março. Ele encarou a retração econômica como oportunidade. Isto porque oferece o serviço de manutenção de computadores, impressoras e celulares.

? Atualmente, as pessoas estão deixando de comprar e preferem consertar os equipamentos, nem que seja parcialmente. E na região não havia ninguém que oferecesse este serviço ? relembra ele, que pediu demissão da empresa onde trabalhava em busca do sonho .

Luiz Antônio Martins Coelho também viu na crise um ambiente propício ao crescimento. Dono de duas franquias (Spoleto e Bo?s), ele abriu em fevereiro uma terceira: uma loja do Espetto Carioca dentro do shopping do condomínio Península, na Barra.

? O crise afeta, mas por outro lado as pessoas não saem tanto do condomínio e acabam consumindo perto de casa? analisa ele, lembrando que mais de 20 mil pessoas moram no local.

Para ter êxito, Luiz disse que encara o restaurante como uma grande empresa, focando no controle de custos e valorização dos funcionários.

Cezar Kirszenblatt, gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae-RJ, acredita que a tendência para 2017 é a entrada de novos participantes no jogo do empreendedorismo.

? O empresário deve ser atento ao planejamento e ao conhecimento do negócio, observando mais. Precisa analisar qual é o seu ponto fraco e buscar qualificação ? defende ele.

Para Kirszenblatt, negócios que não exigem alto investimento também têm boas chances de dar certo. Ele cita: food bikes, food trucks, store in store (loja dentro de outras lojas), mercados no estilo atacarejo(atacado e varejo), produção de produtos orgânicos e produção de conteúdo para internet.