Cotidiano

Emissões de metano ameaçam esforços contra as mudanças climáticas

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RIO ? O metano proveniente da produção de alimentos coloca em risco as iniciativas globais para conter as mudanças climáticas, alertaram cientistas nesta segunda-feira. Em artigos paralelos, publicados nos periódicos ?Earth System Science Data? e ?Environmental Research Letters?, os pesquisadores alertam que as emissões de metano aumentaram drasticamente nos últimos anos e se aproximam do ?pior cenário? reconhecido internacionalmente para emissões de gases-estufa, com risco de elevação das temperaturas médias globais em até 4 graus Celsius.

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A agropecuária é o setor que mais contribui para as emissões de metano, principalmente por causa do gado, que emite o gás por meio de suas funções corporais. Os pesquisadores recomendam atenção especial para estratégias de redução na emissão do gás, com foco especial na produção de alimentos, que representa um terço do total das emissões humanas.

As políticas de combate às mudanças climáticas focam no dióxido de carbono, o mais comum dos gases-estufa, mas o potencial de aquecimento do metano é cerca de 28 vezes superior num horizonte de 100 anos, e sua sobrevida na atmosfera é muito menor. Em outras palavras, ele pode provocar danos maiores, mas o seu controle pode balancear a equação das mudanças climáticas mais rapidamente.

? O metano apresenta a melhor oportunidade para desacelerar as mudanças climáticas rapidamente ? disse Rob Jackson, pesquisador da Universidade Stanford e diretor do Global Carbon Project, que organizou os estudos. ? O dióxido de carbono tem um alcance maior, mas o metano ataca mais rápido.

ACELERAÇÃO EM 2014 e 2015

O que chamou a atenção dos cientistas foi o aumento abrupto das concentrações de metano na atmosfera. Os dados indicam que a presença do gás começou a aumentar em 2007, mas apresentou um pico nos anos 2014 e 2015. Apenas neste período de dois anos, as concentrações de metano subiram rapidamente em dez ou mais partes por bilhão (ppb) anualmente, alcançando índice acima de 1.830 ppb. É um contraste com o início dos anos 2000, quando as concentrações subiam em média apenas 0,5 ppb por ano.

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E a maior parte das emissões são provocadas pela ação humana, que responde por 60% de todas as emissões globais. A agropecuária é a principal responsável, sobretudo pela criação de gado e pelos campos de arroz, que emitem metano quando alagados.

? A indústria de combustíveis fósseis tem recebido a maior parte da atenção nos anos recentes. As emissões agropecuárias precisam do mesmo tratamento ? disse Jackson.

As fontes naturais de metano, que representam cerca de 40% do total, são mais incertas que as promovidas pelo homem. As fontes incluem o vazamento de gás em falhas naturais e do solo do oceano, e a potencial liberação de gases pelo degelo do permafrost, no Ártico. Por causa dessas incertezas, o Global Carbon Project irá monitorar as concentrações do gás a cada dois anos.

E as soluções apontadas para a agropecuária são a adoção de tipos de arroz que não necessitem de alagamento, a alteração da alimentação do gado, a promoção de dietas com menos carne. Oportunidades em outras áreas incluem a queima de metano nas minas de carvão, a remoção de gás natural em operações de exploração de óleo e a cobertura de aterros sanitários com reaproveitamento do gás liberado.