Cotidiano

Embate entre Moro e a defesa de Lula torna audiências longas e polêmicas

SÃO PAULO. Mais três delatores da Lava-Jato foram ouvidos nesta sexta-feira em audiência na ação contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, na qual ele é acusado de receber vantagens indevidas da OAS com o tríplex do Guarujá e com pagamentos de armazenagem do acervo presidencial. Alberto Youssef, Fernando Soares e Milton Pascovitch negaram ter conhecimento sobre essas operações.

A audiência foi marcada mais uma vez por desentendimentos entre a defesa de Lula e o juiz Sérgio Moro, que chegou a responder uma pergunta no lugar do doleiro Alberto Youssef. A defesa de Lula quis saber se Youssef estava negociando acordos de delação no exterior e se havia feito viagens para negociar acordo.

– Ele está preso desde março de 2014. Vou responder porque eu sei – disse Moro.

A defesa de Lula tem perguntado a todos os delatores que se apresentam como testemunha de acusação do ex-presidente se eles assinaram acordos internacionais de delação. As testemunhas alegam sigilo paraa não responder. Para os advogados de Lula, testemunhas não podem deixar de responder a qualquer pergunta.

O juiz Sérgio Moro tem autorizado o silêncio e chegou a chamar a estratégia dos advogados de “mero capricho”.

– Doutor, eu não vou colocar em risco uma eventual tratativa que a testemunha tem com algum acordo no exterior por um mero capricho – afirmou Moro, ao recebeu críticas dos advogados do ex-presidente.

– É que Vossa Excelência já usou nessas audiências retórica, Vossa Excelência já usou que não tem argumentos e agora um capricho. Se Vossa Excelência vê a defesa dessa forma, eu lamento muito – disse o advogado de Lula.

Youssef não respondeu às perguntas sobre acordos internacionais, alegando sigilo neste tipo de negociação. A defesa quis saber ainda o que o doleiro sabia sobre o tríplex no Guarujá e o pagamento de armazenagem do acervo presidencial, feito pela OAS. Youssef afirmou que não sabia absolutamente nada sobre os dois temas e negou ter tido contato com o ex-presidente Lula.

O advogado de Lula perguntou quem estava mentindo – Youssef ou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa – em relação a um pedido de R$ 2 milhões para a campanha da ex-presidente Dilma Roussef. Paulo Roberto Costa afirmou que o pedido foi feito pelo ex-ministro Antonio Palocci. Para a defesa de Lula, o doleiro disse que Costa não disse a verfdade.

– Excelência, eu não seria leviano em acusar ninguém que não tenha participado desse assunto (..) Estou afirmando que ele (Paulo Roberto Costa) não disse a verdade – afirmou Youssef, que na semana passada passou a cumprir prisão domiciliar.

O advogado perguntou ainda se Youssef havia entregado o dinheiro num hotel em São Paulo. O doleiro confirmou, mas afirmou que não sabia para quem era o dinheiro.

– Ele (Costa) não me disse para quem era, se era para Zé, João ou Mané. Como eu não sabia e não sei, quem tem que dizer é o Paulo Roberto – disse Youssef.

A defesa de Lula mencionou numa pergunta que as delações premiadas eram feitas “à la carte”, o que levou Moro a dizer que era um tom “calunioso” ao Ministério Pùblico Federal. O representante do MPF também entrou na discussão, afirmando que havia se sentido ofendido.

José Roberto Batochio, advogado de Lula, rebateu:

– Muito mais ofensiva é uma acusação que não tem a menor razão de ser, manifestamente improcedente e ilegal.

Moro acabou permitindo a pergunta mas quis que o advogado esclarecesse quem dizia que as delações eram “à la carte”. Batochio respondeu que leu num site jurídico na internet. Moro questionou a fonte.

– Vamos discutir as fontes? – perguntou o advogado.

No depoimento do delator Milton Pascovich, a defesa de Lula questionou as perguntas do Ministério Público, que tentava obter informações sobre a existência de um “caixa geral” de propina.

Moro defendeu o MPF. Houve novo bate-boca e o juiz suspendeu a gravação da audiência, que só foi retomada depois que o embate já havia sido encerrado.

Ao fim das perguntas do MPF, Moro quis saber de Pascovitch se José Dirceu “não tinha receio” de ser descoberto. A defesa de Lula questionou a pergunta e houve novo embate:

– Doutor, respeite o juízo – disse Moro.

– Tenho todo respeito, vossa excelência é severo e rigoroso, mas não pode revogar o Código do Processo (Penal) – retrucou o advogado, insistindo que o juiz não pode apresentar novas perguntas à testemunha; apenas esclarecer fatos já mencionados.