Cotidiano

Em um ano, 49 estudantes foram empregados no Oeste

Inclusão depende, entre outros fatores, da adaptação e do apoio da família

Foz  – Quando as limitações físicas e intelectuais se tornam fatores secundários à deficiência, a inclusão social se torna muito mais fácil. Preparar o aluno para enfrentar o mercado de trabalho é um dos desafios dessa inclusão. Apesar de as Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) da região apresentarem um número expressivo de crianças, adolescentes e adultos com grau de deficiência intelectual elevado, uma pequena parcela se destaca e migra para a formalização. E é nesse momento que o empenho dos educadores, da família e do aluno se sobressaem. 

A auxiliar de vendas Francele Neneve Lorenzoni é um exemplo de que a inclusão dá certo. Ela possui deficiência intelectual, o que não impediu sua escolha em entrar para o mercado de trabalho formal. Hoje com 38 anos, ela atua há oito em uma rede de lojas de confecções em Cascavel, e garante que ainda tem muito que aprender. “A minha rotina de trabalho é bem corrida, pois atendo muitas pessoas e as ajudo no que posso. Quando consegui o trabalho fiquei muito feliz e quero continuar aqui por muito tempo”, conta.

Mesmo trabalhando, Francele não largou os estudos e termina o ensino médio no Ceebja (Centro Estadual de Ensino Básico para Jovens e Adultos), com aulas duas vezes por semana. “Trabalho e estudo e me sinto muito bem”, ressalta. A família, segundo Francele, já se acostumou às tarefas do seu dia a dia. “Quando chego do trabalho ou da escola, minha mãe está me esperando para conversar, e isso é muito bom”, diz a auxiliar de vendas.

Números

A diretora pedagógica da Apae de Cascavel, Wagna Sutana, explica que a inclusão no mercado de trabalho depende muito da adaptação do aluno e do aval da família. No Oeste, entre as escolas de Foz do Iguaçu, Toledo e Cascavel, 49 estudantes arrumaram um emprego no ano passado e no primeiro quadrimestre deste ano já foram 20 encaminhamentos, 16 deles em Foz do Iguaçu. Na fronteira, os alunos são encaminhados pela Escola Alternativa de Educação Especial, instituição que não faz parte da rede das Apaes, mas que oferta escolaridade e oficinas profissionalizantes e terapêuticas a pessoas com deficiência, inclusive a alunos da rede municipal de ensino. 

Famílias temem perder benefício

Em Cascavel e Toledo, o número de deficientes com carteira assinada não é maior pelo medo que os familiares sentem em perder o BPC (Benefício de Prestação Continuada), um direito garantido pelo governo federal que permite o acesso de idosos e pessoas com deficiência às condições mínimas de uma vida digna por meio de repasses mensais. “Além da limitação pela deficiência, dificilmente as famílias optam por ingressar o aluno no mercado de trabalho porque temem perder o benefício. Em municípios menores essa prática se torna ainda mais difícil, pois não há vagas”, relata. Para se ter uma ideia, em dez anos a Apae de Cascavel inseriu 36 estudantes no mercado formal, e durante todo o ano passado apenas dois deles estavam aptos a trabalhar, reflexo do controle familiar e das dificuldades em adaptar-se ao trabalho imposto. 

Sondagem de aptidão

Antes de realocar o aluno em um posto de trabalho, as escolas de Educação Especial estimulam os possíveis candidatos a mostrarem as suas aptidões por meio de oficinas, trabalhos em equipe e treinamentos. “Geralmente é a minoria que responde a esse processo devido à deficiência mais acentuada”, explica Wagna. A diretora da Apae de Toledo, Lucimar Recalcatti Vieira, acrescenta que muitos deles não conseguem sequer ser alfabetizados, o que exclui qualquer possibilidade de inclusão no mercado formal.

A resposta dos alunos aos estímulos durante as aulas dá início a outra etapa. Para incentivar a inclusão, equipes repassam informações às empresas que ofertam vagas a este público. Em Foz do Iguaçu, a diretora da Escola Alternativa, Amábilis Regiani Luz, comenta que depois de empregado, professor especialista, psicólogo e assistente social acompanham os alunos contratados, e orientam colegas de trabalho sobre suas condições. “Também orientamos os familiares para que ajudem na rotina de horários, apresentação pessoal, manuseio do salário e boas posturas”.

Nos últimos quatro anos, a Escola Alternativa encaminhou 312 pessoas com deficiência para  empregos formais em hotéis, supermercados, hospitais, lojas, lanchonetes e universidades. “Alguns alunos encaminhados por nós conseguiram promoções como, por exemplo, empacotadores de supermercado que passaram para a função de operador de caixa”, diz Amábilis.