Cotidiano

Em último debate, Trump ataca Hillary e ameaça rejeitar resultado de eleição

Campaign 2016 Debate-GJU2VB5FF.1.jpgWASHINGTON – O terceiro e último debate entre Hillary Clinton e Donald Trump, em Las Vegas (Nevada), começou sem interrupções ou ataques e com um debate sobre temas que diferenciam fortemente democratas e republicanos. No entanto, o tom foi ficando mais agressivo, com Trump interrompendo Hillary continuamente e chamando-a de “desagradável”, além de insinuar que pode não aceitar o resultado das urnas. Como sinal da tensão, os rivais não se cumprimentaram nem na chegada nem na conclusão do debate.

Com a primeira pergunta sobre o futuro da Suprema Corte ? cabe ao presidente indicar os juízes, que depois são apreciados pelo Senado ? o encontro começou de forma mais tradicional, com discussões sobre aborto e o direito ao porte de armas. Evitando ataques pessoais diretos, ambos os candidatos, porém, foram ficando cada vez mais contundentes nas críticas às propostas do outro, por vezes esbarrando na falta de polidez.

No início, Trump mostrou-se calmo e sem interromper a oponente. Afirmou que é orgulhoso de receber o apoio da Associação Nacional de Rifles e afirmou que é contra qualquer restrição às armas ? citou o caso de Chicago, cidade que tem algumas das leis mais restritivas para armas e que, mesmo assim, é uma das mais violentas do país. Hillary, por sua vez, disse que apoia a segunda emenda ? que garante o direito ao porte de armas ?, mas que não se pode esquecer que há, por ano, 33 mil mortes por tiros nos EUA, e que precisa se criar algum tipo de restrição, como melhorar a pesquisa sobre antecedentes criminais e proibir a venda para pessoas que estejam na lista de suspeitos de ligação com o terrorismo.

Com o aborto como segundo grande tema ? que não havia sido discutido nos outros dois debates ?, houve mais enfrentamento, mas em num tom muito mais civilizado e calmo que nos debates anteriores, marcados pelas fortes acusações. Trump disse que indicará dois ou três juízes pró-vida e que, assim, o direito ao aborto no país poderia acabar sendo revisto. Hillary defendeu o direito de escolha da mulher.

? Se você seguir o que Hillary está dizendo, você pode pegar o bebê no nono mês e rasgar para fora do útero da mãe. Não é certo para mim ? disse Trump.

No que Hillary contra-atacou:

? Isso não é o que acontece nestes casos, e utilizar este tipo de retórica do medo é terrivelmente infeliz.

O debate, de uma hora e meia, sem intervalos, começou a ficar mais intenso quando se tratou de imigração. Trump voltou a defender a construção de um muro na fronteira com o México e afirmou que Hillary, indiretamente, o defende, por ter votado, em 2006, como senadora, por um reforço de fronteira. Hillary disse que defende uma separação mais inteligente.

Então o mediador, Chris Wallace, da FoxNews, perguntou a Hillary sobre o vazamento de suas palestras, feitas pelo Wikileaks. Numa delas, a democrata disse que sonhavam com um continente americano sem fronteiras ? na campanha, ela tem se posicionado contra tratados comerciais.

? Eu estava falando de energia. Nós comercializamos mais energia com os nossos vizinhos do que o resto do mundo inteiro ? respondeu ela, criticando a espionagem que permitiu a divulgação de seus textos.

Trump, então, afirmou que Hillary ?quer as fronteiras abertas?, e que todo tipo de ?pessoas ruins? poderia entrar no país. Em seguida, foi a hora de tratar da relação com a Rússia, e Hillary partiu para o ataque, afirmando que Trump elogia o líder russo, considerado por muitos um ditador:

? Você é um fantoche de Putin.

Na réplica, Trump afirmou que o russo ?enganou? Hillary sobre a guerra na Síria:

? Eu nem conheço Putin, nunca me encontrei com ele, mas posso dizer que ele é mais esperto que você e que (o presidente Barack) Obama. Vladimir Putin não tem respeito por esta pessoa.

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Democratas temem ?já ganhou?

As horas que antecederam o debate foram de boas notícias para os democratas. Novas pesquisas indicavam que a vantagem de Hillary sobre Trump cresceu, tanto em nível nacional quanto nas simulações em estados até então indefinidos, além das projeções do Colégio Eleitoral. Nacionalmente, Hillary apareceu no levantamento da Bloomberg com 47% das intenções de voto, nove pontos a mais que Trump (38%), seguidos pelo libertário Gary Johnson (8%) e pela verde Jill Stein (3%). A Universidade Quinnipiac deu vantagem de sete pontos para a democrata. Na média de pesquisas calculadas pelo Realclearpolitics, ela tem 6,2 pontos sobre o magnata.

Mas as sondagens estaduais foram mais comemoradas. No Arizona, tradicionalmente republicano, Hillary apareceu 5 pontos à frente de Trump. Na Carolina do Norte, duas pesquisas davam a ela dois pontos de vantagem. Em New Hampshire, a democrata tem oito pontos a mais; sete em Wisconsin; e quatro na Pensilvânia. Segundo a CNN, Hillary teria, hoje, 307 delegados, 37 a mais que os 270 mínimos para eleger-se. E Trump, apenas 179 votos do Colégio Eleitoral. Ainda há 52 em disputa, em Ohio, Arizona, Utah e Carolina do Norte. À exceção do primeiro estado, os outros três eram considerados votos certos para os republicanos no início da campanha.

Estes resultados têm ampliado o clima de ?já ganhou?, que assusta e preocupa o Partido Democrata. Como o voto não é obrigatório nos EUA e o índice de rejeição a Hillary é de mais de 50%, há o temor de que muitos, ao acreditarem que Trump está fora do jogo, não compareçam às urnas. O que pode ser decisivo em estados onde a margem da candidata não é tão grande. As pesquisas mostram, ainda, que os eleitores de Trump são mais empolgados, com mais chance de irem votar, do que os de Hillary. Em entrevistas, a democrata afirma que a eleição ainda está aberta e pede aos americanos que votem. O mesmo têm feito os integrantes de peso do partido, como o presidente Barack Obama.

Trump passou o dia de ontem tentando fazer pegar, pelo Twitter, seu novo bordão: ?Vamos drenar o pântano?, referência à ?reforma ética? que promete fazer, controlando o lobby em Washington e criando um limite de mandatos que um congressista pode ter. Nesta reta final, além de se declarar vítima, ele tem se colocado, novamente, como um outsider, estratégia que funcionou no ano passado, no início do processo de primárias republicanas.