Cotidiano

Em depoimento a Moro, Gim Argello chora e diz ser alvo de retaliação

SÃO PAULO ? Preso há cinco meses em Curitiba, o ex-senador Gim Argello chorou em depoimento dado ao juiz Sérgio Moro na ação em que é investigado por ter favorecido construtoras na condução da CPMI da Petrobras, em 2014. Nas respostas a Moro, Argello falou que, após a prisão, virou ?cachorro morto? na política e alvo de uma retaliação de alguns executivos de empreiteiras investigadas pela força tarefa. Ao final do depoimento, questionado por Moro se gostaria de dizer algo, o ex-senador se emocionou ao reafirmar que é inocente.

Moro chegou a interromper a gravação para que o Argello se acalmasse. O primeiro sinal de instabilidade emocional do acusado apareceu ao falar que “não é o monstro” que é “pintado” pelo Ministério Público Federal (MPF). Argello disse ainda que “nunca tinha ido a uma delegacia” e afirmou que, apesar de estar preso há cinco meses, apoia a Lava-Jato.

? Eu sempre apoiei a Lava-Jato e continuo apoiando porque não sou desonesto ?disse Argello caindo no choro.

O ex-senador terminou afirmando que confia no julgamento do Moro.

– A unica chance que eu tenho é o senhor, é a sua inteligência e o senso de justiça ? afirmou.

Durante o depoimento, Gim Argello negou que as doações que recebeu tenham sido com o propósito de evitar que os executivos de empreiteiras investigadas pela Lava Jato fossem convocados pela CPMI. De acordo com Argello, o único executivo que conhecia antes do início da CPMI era Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Otávio foi o primeiro a fazer contato com Gim para questionar sobre o andamento da comissão e o encontrou com Léo Pinheiro, da OAS. Nessa reunião, Gim afirmou que disse que a CPMI não tinha interesse em prejudicar empresários.

Em ocasiões posteriores, Gim encontrou-se com Léo Pinheiro, Júlio Camargo, da Toyo Setal, Ricardo Pessoa, da UTC e José Antunes Sobrinho, da Engevix. Esses executivos teriam prometido doações eleitorais, mas desistiram. Perguntado por Moro se não percebia um conflito de interesses, Gim respondeu que hoje enxerga os problemas, mas afirmou que, à época, durante as eleições de 2014, não era conhecido o grau de participação das empreiteiras no esquema que desviava recursos da Petrobras.

– Ninguém sabia que existia cartel, que existia clube de propina. Esse povo doou mais de R$ 700 milhões, para mim foi menos de 1% – afirmou.

Sobre à doação ao padre Moacir Anastácio, da Paróquia São Pedro, em Taguatinga, ele afirmou que pediu doação para a festa de Pentecostes depois que Leo Pinheiro, em uma das reuniões em sua casa, viu um oratório com santos e uma foto de Gim com o padre. Uma semana depois, um dos executivos da OAS ligou afirmando que a doação havia sido feita.

Segundo Gim, a ação movida contra ele é consequência da retaliação dos empreiteiros porque, ao final da CPMI, todos foram indiciados.

? Eu acredito que eles estão mentindo porque é um processo de retaliação porque não faz sentido, eu não combinei nada disso com eles ? disse Gim.

O filho do ex-senador, Jorge Affonso Argello Júnior, também prestou depoimento e disse a Moro que nunca participou da vida política do pais e negou participação no esquema.

(*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire)