Política

Em delação, ex-diretor do DER cita crimes no pedágio

Nelson Leal Jr. cita a existência de uma associação criminosa com agentes públicos, operadores financeiros e empresários

Curitiba – Preso na Operação Integração deflagrada pelo MPF (Ministério Público Federal) em fevereiro, o ex-diretor do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) do Paraná Nelson Leal Júnior confirmou para investigadores do MPF e para a Justiça Federal do Paraná que existia e integrava uma associação criminosa envolvendo agentes públicos, operadores financeiros e empresários, incluindo pessoas ligadas à Econorte, concessionária de pedágio que atua no Anel de Integração.

A confirmação servirá para engrossar o conteúdo de uma ação penal que agora tramita na 23ª Vara Criminal de Curitiba, depois de o juiz federal Sergio Moro alegar incompetência da 13ª Vara Criminal de Curitiba e sobrecarga de trabalho, abrindo mão do processo.

Nelson Leal Júnior admitiu crimes em função de um acordo de colaboração premiada, homologado em 1º de junho de 2018 pela desembargadora Claudia Cristina Cristofani, do TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre.

Por causa do acordo de colaboração premiada, Nelson Leal Júnior conseguiu deixar a prisão. Mas também há penalidades, como uma multa de R$ 1,2 milhão, que deverá ser paga em três parcelas de R$ 400 mil, até 2020.

O advogado Tracy Reinaldet, que defende Nelson Leal Junior, afirmou que seu cliente continuará colaborando com a Justiça e esclarecendo os fatos, que são objeto do processo, e apresentando provas de corroboração.

O acordo foi homologado pelo TRF-4 porque Nelson Leal Júnior também teria implicado nomes com foro especial por prerrogativa de função na Corte em Porto Alegre. Deputados estaduais estão entre as autoridades com foro privilegiado no TRF-4.

Só que a maior parte do conteúdo da delação permanece sigiloso. Apenas um termo de colaboração, o de número 25, consta no processo que tramita na Justiça Federal do Paraná o qual não envolve nomes com foro privilegiado.

“Os anexos [termos de colaborações] que não envolverem pessoa com foro privilegiado seguirão sob a competência do juízo de primeiro grau. Os demais termos não guardam relação com os fatos da denúncia e não devem ser revelados nesse momento sob pena de prejudicar investigações em andamento”, explicou a desembargadora Claudia Cristina Cristofani.

O esquema

No termo de colaboração número 25, Nelson Leal Júnior afirmou que a associação criminosa durou de 2011 até 2014 e que “acredita que a Triunfo [controladora da Econorte] manteve o relacionamento de pagamentos indevidos com o governo estadual até recentemente”. Nelson Leal Júnior citou Hélio Ogama, presidente da Econorte, como um dos integrantes da associação criminosa.

O delator também disse que “o DER tinha conhecimento do superfaturamento dos itens unitários de insumos das tabelas das propostas comerciais das concessionárias” e que a fiscalização do Ministério dos Transportes era “mera formalidade”. Ao final, ele também confessa que utilizou recursos do esquema criminoso para comprar um apartamento de luxo em Balneário Camboriú (SC).

Operação

Deflagrada em fevereiro deste ano, a Operação Integração resultou na prisão, entre outros envolvidos, de Nelson Leal Júnior, acusado de receber dinheiro de empresas ligadas às concessionárias de pedágio em troca de aditivos contratuais e aumento das tarifas do pedágio. Leal Júnior foi solto no último dia 28, mediante uso de tornozeleira eletrônica, depois de iniciar a colaboração premiada com o Ministério Público Federal.

Pepe Richa

A RPC, na noite de sexta-feira (15), divulgou o conteúdo do que seria o termo de colaboração número 27, ainda em sigilo. Nele, constaria que o delator informou que, após ser preso, o empresário Elias Abdo procurou a esposa dele para uma conversa. No diálogo, o empresário teria dito a ela que Leal Júnior não deveria trocar de advogado nem fazer a delação. Além disso, o empresário teria dito na conversa que José “Pepe” Richa, ex-secretário de Infraestrutura e Logística e irmão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), também queria falar com ela para “demover a ideia de colaboração” do marido.

Outro lado

Conforme a RPC, a assessoria de imprensa do DER-PR informou em nota desconhecer o teor do documento e disse que o governo do Paraná está realizando uma auditoria nos contratos de concessão do Anel de Integração.

Já Elias Abdo afirmou à RPC que conversou várias vezes com a família de Leal Júnior, mas nunca pediu, sugeriu ou comentou que ele fizesse ou não delação e que nunca mandou recado de outra pessoa.

O ex-secretário estadual Pepe Richa negou as afirmações do delator.

A Econorte informou que não teve acesso à delação e por isso não vai se manifestar.

A defesa de Hélio Ogama não foi encontrada.