Política

Em crise econômica, haitianos vão às ruas contra presidente Jouvenel Moïse

Eleito com promessa de combater corrupção, ele é acusado de se apropriar de dinheiro venezuelano enviado há uma década

Em crise econômica, haitianos vão às ruas contra presidente Jouvenel Moïse

O presidente do Haiti, Jouvenel Moïse, fez seu primeiro pronunciamento público desde que protestos inundaram as ruas do país caribenho no início de fevereiro, dizendo em uma transmissão nacional que não vai deixar o cargo – uma das bandeiras dos manifestantes. Os críticos do mandatário afirmam que seu governo é pouco transparente e inefetivo.

“Eu escuto vocês”, disse ele durante o discurso, que também foi transmitido via Facebook. “Vocês são a razão pela qual eu concorri ao cargo de presidente. Estou trabalhando por vocês”, continuou. Desde fevereiro, manifestantes tomam as ruas da capital, Porto Príncipe, além de outras cidades, denunciando a corrupção no governo do país.

Jouvenel Moïse está no poder desde sua vitória nas eleições de novembro de 2016. Antes um pequeno empresário, ele venceu prometendo acabar com a corrupção e direcionar o país para uma economia sustentável, modernizando a indústria agrícola e, assim, gerando mais empregos.

Oficiais do atual e do antigo governo são acusados de se apropriar de recursos emprestados pela Venezuela depois de 2008, de acordo com jornais locais. A alta inflação e a desvalorização da moeda também pioram as condições de vida da população – 60% dos locais vivem com menos de R$ 8 por dia. Jouvenel Moïse disse que já tomou medidas para melhorar a vida dos haitianos, pedindo paciência para que as reformas tenham efeitos. Ele também pediu que a oposição sente para dialogar com ele, em vez de apenas criticar.

O discurso não foi bem aceito em muitos lugares, que registraram novos atos logo após o fim da transmissão. A polícia haitiana reprimiu os protestos com bombas de gás e balas de borracha – em Porto Príncipe, uma operação policial interrompeu uma carreata que levava o corpo de um homem morto nas manifestações.

“Hoje nós paramos o país de novo”, disse o líder da oposição, Schiller Louidor, em um protesto no final de fevereiro, diante de uma multidão posta diante de uma igreja para os funerais de outros dois mortos nos atos. O governo não confirma o número de mortes, enquanto a imprensa local fala em sete pessoas mortas.

“Nós estamos pedindo por justiça. Vamos continuar nas ruas. Jouvenel pode manter quantas pessoas ele quiser, mas ele ainda terá que sair”, disse Josef Dicles, primo de um dos mortos já registrados, Onique Gedeus – ele tomou um tiro na cabeça por um disparo desconhecido na metade de fevereiro enquanto levava a bandeira do país em um ato.

Prédios semidestruídos que restaram do terremoto que devastou o Haiti em 2010 ainda bloqueiam várias ruas do centro de Porto Príncipe. As pessoas usam alguns deles para jogar lixo ou para as necessidades – um deles pegou fogo no final de fevereiro. O governo anunciou no começo de março o cancelamento do tradicional carnaval haitiano de Gonaives, cidade a 143 km da capital, que costuma aumentar as vendas de bilhetes aéreos para o Haiti, alegando que não há tempo suficiente para organizar o evento depois dos atos.

O Haiti foi a primeira nação formada por ex-escravos, em 1804, e é o país mais pobre das Américas, com um progresso econômico marcado por uma longa história de instabilidade política, desastrosas intervenções estrangeiras e falta de controle do Estado.

Ainda não é claro quantas pessoas atenderam os chamados dos últimos dias, mas pequenas multidões reunidas em avenidas da capital para os atos são registradas semanalmente. De acordo com o jornal Haitian Times, os partidos de oposição preparam novas rodadas de protestos nas próximas semanas.