Cotidiano

Em Brasília, Moro rebate críticas e defende prisões da Lava-Jato

BRASÍLIA – O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, rebateu nesta quinta-feira as críticas de que a Operação Lava-Jato estaria incorrendo em excesso de prisões cautelares, da colaboração de delatores e de publicidade sobre o andamento das investigações. Segundo ele, todas as ações estão amparadas na lei. Moro disse ainda que a operação desmontou esquema espantoso de corrupção na Petrobras, mostrou que a sociedade não aceita desvios na administração pública e ajudou a criar ambiente propício a mudanças, que não deve ser desperdiçado.

? Esse apoio das pessoas que saem às ruas revelam que a democracia está se mexendo e acho que esse é o ponto mais importante que propicia a adoção dessa necessária agenda de reformas. Este é ponto mais importante. Podemos ver esse quadro com aquele pessimismo da corrupção identificada. Mas nós devemos pensar também na perspectiva otimista. Esse enfrentamento, essas manifestações públicas nos propiciam uma oportunidade única de mudanças e nós devemos aproveitar essa oportunidade ? afirmou o juiz em seminário sobre corrupção e democracia no CEUB, uma das universidades particulares de Brasília.

Moro também disse que não bastam mudanças na administração pública. O juiz conta que quando dá palestras para empresários tenta passar o recado “obvio” de que não bastam mudanças na esfera pública. Os empresários também têm responsabilidade em coibir a corrupção. Basta não pagar suborno.

? Tenho concordado em dar palestras a entidades empresarias. Tem sido um pouco cansativo por conta da agenda, mas acho importante porque dou aquele recado óbvio de que (a corrupção) não é só um problema do governo. É um problema da empresa que paga propina. Se o empresário decide não pagar já é um grande passo ? disse.

No início da palestra, Moro fez um histórico da Lava-Jato para responder às críticas que às investigações vem sofrendo desde o momento em que começou a atingir políticos influentes. Para o juiz, não houve prisões desnecessárias. Ele argumenta que todas as prisões foram devidamente fundamentadas em risco de fuga, de destruição de provas ou de de reiteração de práticas criminosas. Citou como exemplo os casos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e dos doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama.

Paulo Roberto só teve a prisão decretada depois da polícia descobrir que ele tinha orientado familiares a destruir documentos em um de seus escritórios. Youssef foi preso quando levada mala de dinheiro para políticos do Maranhão. Nelma foi detida quando tentava embarcar para a Europa com dinheiro escondido no corpo. Críticos de Moro afirmam que o juiz banalizou as prisões cautelares ao longo da Lava-Jato. As prisões seriam uma forma de forçar os investigados a confessar crimes e delatar cúmplices.

Moro também disse que não é verdade que a Lava-Jato só se apoia em informações fornecidas por delatores. Ele lembra que investigados só decidem delatar quando sabe que, frente às provas colhidas, não há outra alternativa. Segundo o juiz, antes das delações investigadores fazem rastreamento das movimentações financeiras e fiscais dos investigados. O juiz lembrou que Paulo Roberto Costa, um dos principais colaboradores, só decidiu delatar depois da descoberta de contas milionárias dele na Suíça.

O juiz considerou também absurdas as críticas de que dá publicidade ao conteúdo das investigações. Segundo Moro, a transparência é uma exigência da Constituição. Para ele, a sociedade tem o direito de saber o que fazem os administradores, ainda que às escondidas.

? É a Constituição quem determina a publicidade. Numa democracia, com liberdade de imprensa, é um direito da sociedade de saber o que a administração publica faz, ainda que à sombra ? afirmou.