Cotidiano

Em autobiografia, Bryan Cranston escreve sobre seus pensamentos mais obscuros

NOVA YORK ? Bryan Cranston parece tão distante do assassino Walter White que é difícil entender como ele conseguiu canalizar a ferocidade digna de quatro Emmys em “Breaking Bad”. Mas em seu livro de memórias, ?A life in parts?, ele detalha um incidente de sua vida que ajudou a criar o personagem: uma ex-noiva transtornada que o ameaçou de morte e o levou a ter pensamentos violentos contra ela.

?Ela ameaçou me matar, era algo constante e houve momentos em que pensei estar enlouquecendo?, disse Cranston, que um tempo depois se casou com a atriz Robin Dearden, com quem permanece junto há 27 anos.

Esse é um dos momentos mais reveladores do livro, publicado nos EUA no início do mês. O ator fala de tudo, desde a infância até o emblemático papel em ?Breaking bad? e seus desafios pessoais. Cranston, de 60 anos, conversou sobre alguns desses momentos em uma entrevista recente com a Associated Press.

Você escreve que quis matar sua ex-namorada. O que te levou a isso?

Eu estava com medo, me sentia como um animal preso e percebi que era capaz de matar alguém. A experiência me ajudou a desenvolver Walter White em sua transição, pois Walter teve que aceitar exatamente isso. Ele era realmente um bom sujeito, mas ao fazer a transição para um sujeito não tão bom… pôde ser honesto consigo mesmo e dizer: “Sim, eu posso tirar a vida de alguém”, isso é algo difícil de dizer para si mesmo no espelho.

Por que você quis escrever um livro nesse ponto da carreira?

Tenho consciência de que a tsunami de “Breaking Bad” também criou uma grande oportunidade para mim. Há um pico e um vale nas carreiras e isso inclui a fama; se você tiver sorte o suficiente para ficar sobre a onda da fama até estagnar, não vai durar muito tempo. … Eu acho que é apenas a ética de operário com a qual fui criado.

No livro você diz que seu pai não se sentia satisfeito com o trabalho de ator. Por que seguiu seus passos?

Estava em meu DNA. Meus pais foram ambos atores, então acho que é em parte isso. Nesse sentido eu estava realmente entrando no negócio da família, o que é muito comum. A tormenta que meu pai atravessou, e por extensão seus filhos, foi profunda e desastrosa para o matrimônio, para a família.

Na segunda temporada de “Breaking Bad”, Walter vê a morte da noiva de Jesse Pinkman. Por que essa morte te afetou?

Tive essa experiência transformadora, quase alucinógena, na qual vi o rosto de minha filha, Taylor. Seu rosto tomou o lugar de Krysten Ritter e me fez, você sabe, duvidar. E meu Deus, cada vez que volto a contar essa história sinto um desassossego no peito e penso em meu maior medo. Que algo aconteça a um filho, a seu próprio filho, é inconcenbível.

Por quanto tempo pretende trabalhar?

Enquanto o sol estiver brilhando, vou aproveitar. Porque em algum momenyo será o fim de minha carreira e, quando isso acontecer, quero estar exausto. Quero estar pronto e dizer, ?foi uma boa corrida, não me arrependo de nada, estou pronto para me aposentar?.