Cotidiano

?Ele ia matar ela?, diz mãe de torturada por ex em Guarulhos

SÃO PAULO ? Basta perguntar para a cozinheira Ângela Maria Veroneze dos Santos o estado de saúde da filha, mantida refém por três dias pelo ex-marido, em Guarulhos, na grande São Paulo, que o choro é logo ouvido do outro lado da linha. ?Ele ia matar ela?, repetia a paulistana, referindo-se ao ex-genro Rodrigo Groggia Martins, de 32 anos, preso após o crime. Sem manter contato com a primogênita por medo de rastrearem a ligação, a cozinheira, que já perdeu uma filha, ainda tenta entender o que levou o agressor a machucar a mãe de seus dois filhos.

Com a voz embargada, Ângela lembra que estranhou o desaparecimento repentino da filha, que não mantinha contato desde a última quinta, quando capturada pelo ex. Na manhã de sábado, o agressor fez a mulher ligar para Ângela para dizer que ia viajar, mas desconfiada, ela foi até a casa da filha ter notícias suas, e se deparou com a mulher machucada. A cozinheira afirma que na hora quis levá-la para sua casa, mas a vítima implorou para que a deixasse lá, pois seu patrão, com quem Rodrigo achava que a ex estava tendo um caso, também estava sob cárcere privado, e ela temia por sua segurança. A cozinheira então trancou o quarto da filha e decidiu buscar ajuda.

? Foi martirizante. Depois ele foi na minha casa e tive a frieza de perguntar a ele como minha filha estava. Ele disse que ela tinha ido para o interior após ele pedir a separação, e que voltaria em dez dias, mas ele ia matar ela ? conta. ? Graças a Deus tive coragem de denunciá-lo. Já enterrei uma filha não ia enterrar outra ? continua a mulher, que chora ao lembrar-se da perda de Cibele, de 19 anos. A jovem morreu em casa, há três anos, vítima de pancreatite hemorrágica. Ângela é ainda mãe de um menino de 9.

Da casa da filha, Ângela dirigiu-se à delegacia mais próxima. Rodrigo foi preso em flagrante. Abalada, a filha decidiu se hospedar com as crianças na casa de amigos, sem pretensões de voltar. Já Ângela segue apreensiva, já que afirma estar recebendo ameaças, sem explicar de onde elas vêm:

? A gente está sendo vigiado, nota que tem gente seguindo. Mas fiz meu papel de mãe. Fiz o que foi justo. É minha filha, meu sangue. Não me arrependo.

AGRESSÕES CONSTANSTES HÁ PELO MENOS SETE MESES

Vítima e agressor conviveram juntos por 12 anos, sete entre grades. Rodrigo foi condenado por tráfico, mas a vítima, com quem tem dois filhos, quis insistir na relação. Quando ele foi solto, porém, há sete meses, a mulher decidiu colocar um fim na história, e ele passou a agredi-la, segundo Ângela.

? A gente não se conforma. Ela movia mundos e fundos por ele. Ia visitar na prisão, fazia comida. Quando saía do presídio, ficava aqui em casa. Nós o acolhemos, para ele mudar de vida e cuidar da minha filha e dos meus netos, mas já nas duas últimas saídas, minha filha me contou que já não o queria mais. Foi quando ele passou a bater nela. Infelizmente só soube disso nesse fim de semana. Agora vivemos com medo, recebemos ameaças. Preciso sair para trabalhar de madrugada, e não passa uma viatura aqui. Estão esperando uma tragédia acontecer? ? questiona.