Cotidiano

Efeitos negativos do Brexit ficam cada vez mais claros

Em menos de um mês, os britânicos irão às urnas decidir sobre a permanência ou não do Reino Unido na UE. Políticos e analistas, como se viu na reunião do G-7 esta semana, especulam sobre as consequências do Brexit (como a saída está sendo chamada) para o país, o bloco europeu e a economia mundial. O FMI e a OCDE também fizeram alertas, mas o assunto divide os britânicos ? segundo o medidor da revista ?Economist?, referente à última quinta-feira, 40% são a favor da permanência; 39% contra; e 16% não sabem ? e o premier David Cameron, contrário à saída, enfrenta resistência na base do próprio Partido Conservador.

Alguns economistas criticam o que veem como amarras ao pleno desenvolvimento do Reino Unido, mas a maioria dos agentes econômicos teme a ruptura. Analistas independentes reforçam esses temores, alertando sobre os impactos na economia, caso o país deixe a UE. Pesquisa do Instituto para Estudos Fiscais (IFS, na sigla em inglês), uma instituição apartidária, mostrou que o endividamento do governo britânico crescerá e o déficit fiscal poderá chegar a US$ 44 bilhões, obrigando o ministro de Finanças, George Osborne, a rever a projeção de superávit no ano fiscal 2019-2020, e manter o programa de austeridade até a próxima década.

O estudo foi divulgado dois dias depois de o Tesouro britânico avisar que a saída do bloco poderá empurrar o Reino Unido para uma recessão. Além disso, a agência de classificação de riscos Standard & Poor?s alertou que o Brexit não apenas enfraqueceria a libra, como ameaçaria seu status como moeda de reserva internacional, ao lado do dólar, do iene e do euro. Segundo o analista da S&P Global Ratings Frank Gill, ?a saída do Reino Unido da UE colocaria o status de reserva da libra esterlina sob risco, ao derreter o investimento externo direto e outros influxos de capital?. Ele acrescentou que a medida também colocaria em risco o rating AAA do país.

O especialista econômico do ?Financial Times? Martin Wolf já havia alertado no mês passado que o Brexit faria o país perder vantagens comerciais importantes, lembrando que o comércio com os parceiros europeus cresceu 55%, após a adesão dos britânicos ao bloco europeu, graças sobretudo ao acesso privilegiado aos mercados dos sócios. Ao mesmo tempo, lembrou o economista, os britânicos dispõem de inúmeras salvaguardas e regimes de exceção, que os permitem se beneficiar das vantagens do bloco, com ônus menor do que seus vizinhos.

Se o efeito econômico para britânicos e seus sócios na UE é negativo, o Brexit também pode afetar a economia global, ainda em frágil recuperação. Isto sem mencionar os riscos geopolíticos que uma potencial desintegração europeia produziria ao Ocidente.