Cotidiano

Educadores e gestores debatem sobre promoção de ensino integral

201609231235191423.jpgRIO ? Ao pensar sobre o futuro das escolas no país, não são raros aqueles que voltam o olhar para o ensino integral, que é inclusive uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) e foi priorizado na reforma do ensino médio proposta pelo governo. Na visão de especialistas, no entanto, mais que se preocupar com o turno da escola, é necessário promover um ensino integral em um sentido amplo, capaz de unir diversos campos e, principalmente, a educação e a cultura. As ideias foram discutidas durante o evento internacional Educação 360, realizado pelos jornais O GLOBO e ?Extra?, em parceria com o Sesc. O seminário, que tem apoio da Coca-Cola Brasil, da TV Globo e do Canal Futura, acontece nesta sexta e sábado, na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá.

? O que é essa integralidade? Estamos falando de outros aspectos que sentimos falta na educação e que almejamos ver integrados de maneira completa. Quando a gente fala de ensino integral estamos falando de muito mais. Muitas vezes há uma certa mentalidade que separa: uma coisa é educação e outra é cultura. Quando na realidade estamos falando da mesma coisa quando imaginamos um educação integral ampla e completa ? analisou Danilo Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo.

Durante a mesa de “Educação e cultura” foram expostos três estudos de caso que pretendem trabalhar o ensino de maneira diferenciada, integrando, entre outros aspectos, música, pintura e esporte.

? A gente imagina que o espontâneo, o livre e o criativo é o lugar da escola, que deve dar prazer. Mas não vai dar prazer o tempo todo. Tem uma hora que tem que sentar e estudar. Tem hora que tem que investir profundamente no que está aprendendo. Há a ideia de imaginar que de um lado está a criatividade espontânea e de outro a organização civilizatória. Não está do outro lado, está no mesmo lado. Ou aprendo com prazer, debate e empenho ou não terei prazer em aprender ? argumentou Fernando José de Almeida, educador e filósofo.

A união entre a eficácia no aprendizado e o prazer em estudar é o que busca a secretaria municipal de educação do Rio. Para viabilizar o projeto, o município tem feito a progressão para turno único em algumas escolas da rede. Nessas unidades, o tempo de aula passou a ser de sete horas e as crianças tem algumas disciplinas eletivas como “Projeto de vida”, onde os estudantes traçam caminhos para o futuro e são orientados sobre suas escolhas.

? A gente não pode fazer uma coisa para um grupo pequeno de escola que depois não possa ser expandido para toda rede- explica Helena Bomeny, secretária municipal de educação. ? Vimos que a gente tinha que mudar a organização das escolas e propor turno único de sete horas. Estamos nesse processo e para organizar a rede inteira dessa forma precisamos construir mais escolas.

De acordo com a secretária, as turmas reorganizadas em turno único têm correspondido às expectativas.

? Começamos com 53 turmas de 6 ano experimental e hoje temos mais 800 turmas, um terço das turmas de 6 ano da rede. As notas do 6 ano regular experimental são muito acima do regular. A aprovação é muito maior e o aprendizado mais consistente ? afirma.

Há ainda os ginásios experimentais para o segundo segmento do ensino fundamental. Algumas unidades são focadas em outras atividades além do ensino regular, como a música, artes plásticas e os esportes. O que, segundo a secretária, engaja ainda mais os alunos.

? Normalmente o aluno encontra uma escola e tem que se adaptar a ela. Então fizemos um modelo voltado para esse aluno adolescente.

Outro exemplo apresentado durante a palestra foi o do Coletivo Escola Família Amazonas (Cefa), um grupo de pais e amigos que decidiram se engajar na promoção de uma educação pública inovadora e de qualidade. O Cefa possui articulação direta com três escolas da rede e auxilia na formação de professores da prefeitura de Manaus. Na metodologia do projeto, destacam-se algumas premissas como o envolvimento da família, a participação dos alunos nas decisões da escola, com a promoção inclusive de assembleias estudantis, entre outras.

? Começamos em abril do ano passado com um grupo de pais e mães inquietos em busca de alternativa escolar para seus filhos. Na rede particular a gente via um padrão de escolas conteudistas, escola mercantilizada, na rede pública um padrão caótico da escolas municipais e estaduais. A gente se encantou com as escolas democráticas e a concepção de educação integral. Então, começamos a convidar as pessoas a romper com a escola tradicional? contou Ana Bocchini, uma das fundadoras do projeto.

A quebra do modelo conservador é justamente uma das marcas do Espaço Cria/ Pólen, do Rio de Janeiro. A proposta é que as crianças consigam otimizar seu aprendizado na educação infantil por meio de um mecanismo bastante simples: o livre brincar. O aluno passa a descobrir o conhecimento a partir de seus impulsos criativos e os professores respondem às curiosidades e estímulos que chegam a eles por parte das crianças. A atividades vão acontecendo livremente, por exemplo, se a criança manifesta seu interesse sobre uma planta, os educadores orientam o desenvolvimento de atividades a partir do que a criança manifestou. Nas palavras dos organizadores, “uma educação para crianças e adultos se conectarem”.

? Estamos falando de novas atitudes. Há uma educação onde as crianças têm que chegar a algum lugar, cumprir algum objetivo, têm uma meta a alcançar. Uma meta normalmente extrínseca, onde as crianças não participaram da construção e os educadores estão pressionados tendo que cumprir o que o cronograma diz. Precisamos atualizar nossa cultura. Acreditamos que não podemos padronizar as crianças. Por exemplo, crianças da mesma idade não precisam ficar na mesma sala, aprendendo a mesma coisa.