Cotidiano

EDITORIAL: O Brasil vai parar?

Caminhoneiros deflagraram mais uma mobilização nacional, desta vez em protesto à alta desenfreada do preço do óleo diesel. Responsáveis hoje pelo transporte da maioria da produção do País, eles podem, sim, parar o Brasil. Já fizeram isso uma vez.

A mobilização revela o estopim da crise que assola o setor, sobrecarregado com a alta do preço do combustível e o achatamento dos valores dos fretes provocado pela redução da oferta devido à recente recessão econômica. Muitos deixaram a atividade por falta de condições. Na região oeste, um dos celeiros do Estado, quatro em cada dez transportadoras fecharam as portas. E isso às vésperas do início do escoamento da safra agrícola. No Paraná, a situação se agrava com os altos preços dos pedágios, que nem sempre conseguem ser repassados na íntegra ao valor do frete. A consequência é o estrangulamento do segmento.

A política de reajustes quase que diários adotada pela Petrobras ano passado elevou sobremaneira os combustíveis. Uma das reivindicações dos caminhoneiros é que o governo retire a incidência da Cide do diesel. O governo foi alertado do protesto mas pagou para ver. Na sexta-feira ignorou as solicitações da categoria e ontem, após ver mais de 50 pontos de protesto País afora, o presidente Michel Temer convocou uma reunião de emergência com ministros para discutir uma saída à crise. Se a situação for resolvida logo, os prejuízos quase não serão sentidos pela população. Mas, se a greve continuar, tudo indica que a adesão aumente e em poucos dias alguns setores já comecem a sentir os efeitos, inclusive da falta de produtos nos mercados e de matéria-prima na indústria. O Brasil já viveu isso. E a conta foi alta.