Esportes

E-mails sugerem direcionamento para empresa investigada pela PF vencer concorrência

RIO – E-mails obtidos pelo GLOBO sugerem ter havido direcionamento para que a empresa SB Marketing e Promoções Ltda, do Rio, vencesse concorrência para fiscalizar a aplicação de R$ 3 milhões repassados pelo Ministério do Esporte à Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD). A correspondência envolveu diretores da SB Marketing e o comando da CBTK. Eles mostram agentes da SB orientando funcionários da confederação de como deveria organizar o edital da concorrência que acabou vencido pela SB Marketing.

A PF investiga no Rio, em dois inquéritos, o envolvimento da confederação em fraudes, superfaturamento e até uso de empresas de fachada para desviar recursos do governo federal destinados ao desenvolvimento do esporte amador, visando aos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio.

A Operação Nemeus, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira, envolveu a prisão preventiva de Sérgio Borges, sócio-diretor da empresa SB Marketing, acusada de ser peça-chave de um esquema de fraudes envolvendo recursos destinados pelo Ministério do Esporte a pelo menos duas confederações esportivas. Borges foi gerente de relações institucionais da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) na gestão de Ary Graça, encerrada em 2014.

Borges é investigado por quatro crimes: formação de quadrilha, peculato (desvio de recursos públicos), falsificação de documentos e fraude de licitações. A primeira fase da Operação Nemeus teve como foco justamente a SB Marketing. Além da prisão de Borges, realizada no Rio de Janeiro, a Operação Nemeus cumpriu na cidade oito mandados de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva, todos tendo como alvo escritórios, residências e dirigentes da SB Marketing e de empresas parceiras, além das sedes das confederações investigadas.

PROJETOS FINANCIADOS COM VERBAS FEDERAIS

Concorrendo sempre com as mesmas empresas, todas do Rio, a SB Marketing venceu ainda concorrência para ser a fiscal de contrato nas confederações de Esgrima, Tiro com Arco e para o Grêmio de Porto Alegre. Todos os projetos foram financiados com verbas federais do Ministério do Esporte.

A empresa Renascer, que venceu concorrência para fornecer placas de tatames à Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), disputou concorrência com duas empresas que vendem produtos de informática, revela investigação em curso na Polícia Federal. A Tecrool Tecnologia e Serviços Ltda e a empresa Dom Mar Comércio Atacadista se credenciaram e apresentaram propostas para fornecer tatames. A Tecrool nunca vendeu material esportivo. É especializada em venda de equipamentos e suprimentos de informática e sistema de monitoramento de segurança, assim como a Dom Mar Comércio Atacadista.

Como O GLOBO já revelou, a Renascer, que venceu a concorrência para fornecer placas de tatame à CBTKD, é especializada na distribuição de bebidas e alimentos. Na sede da empresa, repórteres encontraram uma residência simples. Ela é investigada pela Polícia Federal suspeita de envolvimento em fraudes no fornecimento de equipamentos esportivos à Confederação Brasileira de Taekwondo. Policiais federais investigam, em dois inquéritos, suspeitas de fraudes, superfaturamento e até uso de empresas de fachada para desviar recursos do governo federal destinados ao desenvolvimento do esporte visando aos Jogos do Rio.

O Ministério do Esporte concedeu R$ 3 milhões à CBTKD para modernização de equipamentos e materiais para treinamentos e competições visando à preparação dos atletas para os Jogos, que acontecem no Rio dentro de um ano e meio. Entretanto, empresas que não comercializam material esportivo teriam supostamente recebido recursos da confederação para vender tatames, luvas de boxe e até placar eletrônico.

Mesmo sem autorização para fazer operações de importação e exportação, a empresa Renascer teria, de acordo com as investigações da PF, importado placas de tatame repassadas à CBTKD ao preço unitário de R$ 96, quando o mesmo produto pode ser adquirido no mercado brasileiro por cerca de R$ 40. Na Coreia, país com muita tradição no esporte, o valor é US$ 8 (R$ 18,24 na cotação de ontem). As denúncias de supostas fraudes na compra de material pela CBTKD foram apresentadas pela Federação de Taekwondo de Minas Gerais.

Em nota, a Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) negou qualquer envolvimento em irregularidades. Com relação à empresa Renascer, a entidade informou que “a mesma participou do certame para aquisição de 4.500 placas de tatames de marca homologada pela Federação Mundial de Taekwondo, e na época, apresentou os documentos necessários para participar do referido processo licitatório, tendo vencido o pleito por apresentar o menor preço”. Ainda segundo a confederação, ?o material foi entregue e já está em pleno uso para o desenvolvimento da modalidade taekwondo?.

Em 2013, o Ministério do Esporte repassou um pacote inicial de R$ 182,9 milhões em convênios para confederações, federações, comitê Paralímpico Brasileiro e clubes, como forma de apoio a modalidades olímpicas e paralímpicas em preparação para a Rio-2016. Os projetos aprovados incluem desde treinamento de equipes de base no Brasil e no exterior até estruturação de centros de treinamento e compra de equipamentos.