Cotidiano

Duo Haicu apresenta CD de estreia inspirado em poesia japonesa

RIO — Foi o trabalho no teatro que aproximou Júlia Shimura e Pedrinhu Junqueira. E se a parceria artística evoluiu para a amorosa, o casal também fez um percurso pelas artes. Acompanhados pelos músicos Gabriel Ballesté, Pedro Dantas, Thomas Harres, Mauricio Calmon e Antonio Neves, a dupla Haicu lança o primeiro álbum homônimo nesta terça-feira, em show no festival A.Nota, no Oi Futuro Ipanema.

— Um belo dia, um amigo falou que as músicas do Pedrinhu tinham uma similaridade com o haicai. Eu comecei a pesquisa e descobri que essa palavra até existe em japonês, mas o certo é haicu. Em nenhum outro lugar do mundo você vai achar “haicai” como sendo essa forma de poema de três versos. Durante uma reforma ortográfica, um funcionário inventou “haicai” para censurar o cu, mesmo. Achou que não iria popularizar o gênero, olha que bizarro. Mas quem sou eu para censurar o cu? — conta Júlia, rindo.

Diferenças ortográficas (e tabus) à parte, uma vez escolhido o conceito a permear o álbum, o casal mergulhou no vasto repertório de Pedrinhu (ele é um “compositor bastante compulsivo”) para selecionar canções que já conversassem com o universo poético japonês. Outras músicas foram compostas especificamente para o trabalho, em um desafio criativo que não necessariamente irá se repetir em álbuns futuros (“Se esse é mais yin, acho que o próximo vai ser mais yang”, diz ela):

— Uma das faixas inclusive é um haicai do Matsuo Basho, que é um dos caras mais clássicos desse formato poético, para o qual fiz uma tradução livre. É a única música do disco que tem alguma coisa em japonês.

De ascendência nissei, o trabalho também acabou sendo uma forma de Júlia resgatar suas raízes e investigar a si mesma. Já para o parceiro, o tipo de aprendizado foi outro. Aos 32 anos, Pedrinhu nunca tinha lançado um álbum com suas composições, apesar de trabalhar como músico há mais de dez.

— O trabalho mais árduo foi tirar as músicas do violão, onde elas foram compostas, e transformá-las em outra coisa. Essa parte de “vestir” a canção é algo de que eu gosto muito, pois é uma forma de criação, e é uma coisa muito nova para mim — conta o violonista, que produziu o álbum com a ajuda dos amigos Pedro, Thomas e Maurício, dono do estúdio onde “Haicu” foi gravado.

Em uma produção “fraternal”, os amigos que já tocaram com Jards Macalé, Negro Leo, Ava Rocha, Céu e Letuce, entre outros, ajudaram a construir a sonoridade e a textura do álbum de estreia:

— Lá no início, pirando com o Pedrinhu, eu tinha imaginado uma coisa bem mais analógica, com menos sintetizadores. No jogo com as propostas dos meninos, o som foi ficando mais contemporâneo — relembra a cantora, que começou a carreira artística como atriz.

Formada em teatro pela escola Martins Penna e com pós-graduação na Angel Vianna, Júlia conheceu o marido em 2009, quando ambos trabalharam no espetáculo “Mundo Grampeado”, dirigido por Marcus Galiña. Seguiram-se várias outras parcerias nas artes cênicas, incluindo “Helio Gabaalo I” e “Helio Gabaalo II”, com a Cia dos Prazeres. Pedrinhu também compôs as trilhas de “Aquário”, da cia. Comboio de Corda, e “Filemon”, primeiras experiências de Júlia como diretora.

Mas não é porque os dois estão se dedicando ao Haicu no momento que a paixão por outras formas de expressão artística arrefeceu. Júlia filmou “Sob pressão” com Andrucha Waddington no final do ano passado e Pedrinhu “caiu de paraquedas” em “Anjos da Lapa”, cinebiografia de Marcelo D2 dirigida por João Araújo e Gustavo Bonafé. Mesmo com toda sua experiência no teatro, interpretar o baterista do Planet Hemp Bacalhau foi o primeiro trabalho dele como ator. O músico ainda aproveitou a formação em montagem cinematográfica pela escola Darcy Ribeiro para produzir o primeiro clipe do Haicu.

— Às vezes, acho que as artes acabam parecendo a mesma coisa, de formas diferentes. As reflexões de uma influenciam a outra — diz Júlia.

— Uma coisa leva à outra. Eu nunca imaginei que fosse fazer cinema como ator. Foi uma coisa muito bizarra, mas muito maneira — completa Pedrinhu. 

SERVIÇO

 

Show de lançamento do CD “Haicu”

Onde: Oi Futuro Ipanema – Rua Visconde de Pirajá, 54 – 3º andar (3131- 9333)

Quando: Terça-feira (26/07), às 21h

Quanto: R$ 30 (inteira)

Classificação: Livre