Cotidiano

Duas horas para comprar Nutella? Em Hong Kong, sim

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RIO – Por que Lorraine Lam está esperando em uma fila de duas horas em um shopping chique de Hong Kong para comprar a mesma Nutella que os supermercados vendem por muito menos? Porque ela quer imprimir o nome de um amigo dela na etiqueta. A loja temporária da Nutella no shopping Pacific Place está repleta de consumidores dispostos a gastar 80 dólares de Hong Kong (US$ 10) por um pote de 350 gramas do doce de avelã com um toque personalizado. A marca da Ferrero está vendendo quase 1.000 potes por dia no balcão.

? Eu raramente venho ao shopping porque preciso gastar uma hora de ônibus para chegar aqui ? disse Lam, uma estudante universitária de 21 anos. ? Mas, desta vez, valeu a pena.

Como as vendas do varejo em Hong Kong estão caindo há 16 meses consecutivos, marcas como Nutella e Havaianas estão aproveitando a queda de preço dos aluguéis para abrir lojas temporárias em alguns dos luxuosos distritos de compras da cidade. Ao mesmo tempo, as grandes lojas, como a Nike, estão tentando gerar mais fluxo chamando atenção dos frequentadores de shoppings para produtos novos ou edições limitadas.

? Os lojistas estão fazendo um esforço mais agressivo para se adaptar às mudanças da demanda de consumo oferecendo produtos mais especiais e de melhor qualidade ? disse Angel Young, diretora administrativa da empresa de pesquisa de mercado Nielsen Hong Kong and Macau. ? As lojas temporárias dão um novo entusiasmo aos consumidores.

Shoppings como o Pacific Place em Admiralty e o Harbour City, que se parece com uma caverna e pertence à Wharf Holdings, em Kowloon, contaram por muito tempo com um fluxo constante de compradores da China continental ávidos por bolsas Louis Vuitton e relógios Cartier.

Mas agora esses grandes esbanjadores estão trocando Hong Kong por Tóquio e Paris, e os consumidores menos endinheirados estão preocupados com a desaceleração da economia chinesa e com as tensões sociais e políticas da cidade, que culminaram com os violentos protestos Occupy. O número de visitantes da China continental na cidade caiu pelo 13º mês consecutivo em junho, para 3,2 milhões, de acordo com o Conselho de Turismo de Hong Kong.

Isso está desencadeando um declínio nas vendas do varejo, que caíram quase 11% durante os primeiros seis meses do ano, de acordo com o governo de Hong Kong. As vendas em junho caíram 8,9%, mais que o estimado pelos analistas.

Para amortecer este impacto, donos de imóveis comerciais estão buscando novas formas de gerar mais tráfego nos shoppings. Eles estão concedendo espaço a marcas que normalmente não atendem aos consumidores de artigos de luxo e estão permitindo que as marcas já presentes façam experimentos.

? As lojas temporárias oferecem algo novo ? disse Kitty Choy, diretora da unidade de varejo da Hysan Development. ? O elemento-surpresa faz com que os consumidores fiquem ansiosos para descobrir: O que vai acontecer depois?