Cotidiano

Duas gerações discutem a relação em ?Até o final da noite?

RIO ? “Os cactos só precisam ser molhados uma vez por semana, e mesmo assim com um conta gotas. Não é genial?”. Genial ou não, a pequena e quase autossuficiente planta torna-se símbolo do espetáculo “Até o final da noite”, que estreou no último sábado no Teatro Ipanema, com direção de Alexandre Mello. Ao representar as urgências de uma geração que precisa conciliar as cobranças da carreira profissional com as da vida pessoal ? nem sempre com sucesso ?, o cacto permeia esse ensaio sobre diferenças geracionais. teatro / Julia Spadaccini

Sua trama, escrita por Julia Spadaccini, faz um trançado sobre relacionamentos, família, responsabilidade e feminismo, no qual um encontro entre um casal mais velho e tradicional, e outro mais novo e moderno ressalta o contraste entre seus valores e interesses, despertando angústias e questionamentos dos personagens e suas relações.

? Quando escrevi o texto, há dez anos, queria contar a história de um casal mais velho, com 50 anos. Percebi que, para falar sobre eles, precisaria de um casal mais novo, na faixa dos 30. À época, com 28 anos, acabei trazendo para o texto minhas próprias dúvidas: ter ou não filhos, parar ou não de trabalhar. Mas sabia que essa não era uma questão só minha, era e continua sendo uma ansiedade contemporânea ? diz Julia.

Atuando pela primeira vez com um texto de Julia, a atriz Angela Vieira dá vida a Ana Lucia, a mulher mais velha que sofre da síndrome do ninho vazio após seu filho de 31 anos ter ido morar em outro país.

? A Ana Lucia não é necessariamente uma personagem cômica. Ela não tem intenção de ser engraçada, mas o exagero do seu apego pelo filho acaba sendo risível para quem está de fora. Por outro lado, uma mulher que não queira ter filhos acaba acentuando esse contraste das pressões sobre a mulher. A visão feminina da Julia traz esse apelo tão interessante ? explica Angela.

No enredo de “Até o final da noite”, em cartaz até 14 de novembro, os homens também se contrastam. Enquanto o experiente Olavo (Isio Ghelman) se mostra realista e desiludido com o amor, o jovem Edu (Rogério Garcia) é um sonhador que escreve uma tese sobre o amor e pressiona Branca para construir uma família.

? São personagens humanos que, mesmo bem-humorados, são defeituosos e contraditórios. É muito fácil nos reconhecermos neles ? afirma Rogério Garcia, responsável também pela produção da peça.

* Estagiária, sob supervisão de André Miranda

Serviço:

“Até o final da noite”

Onde: Teatro Ipanema – Rua Prudente de Morais, 824 (2267-3750).

Quando: Sáb., às 21h, dom. e seg., às 20h; até 14/11.

Quanto: R$ 40.

Classificação: Livre.