Agronegócio

Dólar dispara, mas vendas de soja despencam em maio

Cascavel – Apesar de o dólar ter alcançado sua maior cotação em dois anos, chegando aos R$ 3,61 ontem, as exportações de soja em grãos deram uma estacionada neste mês de maio, depois de viverem um março e abril com recordes.

Na prática, isso não significa que o caminho rumo ao Porto de Paranaguá está livre ou vazio, até porque o que está sendo escoado agora foi vendido nos meses anteriores, mas o movimento de comercialização freou expressivamente por influência de algumas variáveis.

Uma delas é que a cotação da oleaginosa na Bolsa de Chicago vem caindo nos últimos dias. De US$ 10,85 o bushel – medida para cotação a cada 21 quilos -, ontem chegou a US$ 10,15. Não que esse valor seja ruim, muito pelo contrário, era o sonho de cooperativas e produtores chegar aos US$ 10. Ocorre que existe outro fator que está segurando os preços, que é o chamado prêmio pago por quem compra. “Com o dólar mais alto, quem está comprando enxerga isso e reduz o prêmio. É evidente que pode ter uma valorização da soja se o dólar subir muito e o prêmio terá que chegar a um patamar de estabilização e aí de fato a saca pode se valorizar mais”, reconhece o especialista de mercado Camilo Motter.

Mas essa é uma reação que o mercado só poderá sentir ao longo deste e dos próximos meses e os fatores que estão influenciando na valorização da moeda americana, como o aumento dos juros nos Estados Unidos.

Enquanto isso por aqui as chamadas trades de embarque estão bastante alongadas. “Tem quem esteja vendendo a soja agora para embarcar só em agosto, então quem está comprando com essa margem de tempo espera as reações do mercado para ver o momento ideal para fechar negócio”, reforça o especialista.

Assim, compradores esperam recuo nos preços e vendedores as novas valorizações.

De olho no mercado

Quem planta está sempre de olho no mercado. Aquela ideia do verdadeiro empreendedor rural para saber que momento é o ideal para vender e se capitalizar. Por isso, além das condições internas para abastecimento da indústria nacional, existem os fatores externos que são os grandes influenciadores dos preços. Ontem, por exemplo, a soja no balcão estava cotada a R$ 75 (saca de 60 kg). Com o prêmio chegava a R$ 78,50 e, para embarque em junho, R$ 80. Mas esse vem sendo um cenário que se modifica todos os dias e não deve alterar sua volatilidade tão cedo.

O bom aproveitamento das vendas, de mais de 60% dos estoques brasileiros, está pautado nas políticas protecionistas do mercado americano, na briga comercial travada entre Estados Unidos e China e na promessa do país asiático em sobretaxar a soja norte-americana, medida que tem favorecido o mercado brasileiro. “A China tem comprado muita soja do Brasil por conta dessa briga comercial com os EUA”, explica analista Camilo Motter, ao avaliar que isso deverá se manter pelos próximos meses.

Na região essas vendas chegaram a volumes ainda maiores. Segundo balanço de cooperativas e armazéns, em torno de 30% do que foi colhido na safra passada – cerca de 1,1 milhão de toneladas – segue estocado. “E essa freada vertiginosa nas vendas neste mês de maio também sofreu influência no interior, porque o frete subiu bastante para chegar até o porto”, acrescenta o especialista.

Perda argentina, lavouras americanas e grãos brasileiros

Na outra ponta, os estoques mundiais também não estão elevados como em 2017, por exemplo. A quebra da safra argentina resultou em um baque de 18 milhões de toneladas e a conta das perdas ainda não acabou, podendo chegar a 20 milhões de toneladas. Os olhos do mundo comercial se voltam agora para os Estados Unidos que, pela primeira vez em 30 anos, plantam mais soja do que milho e já têm quase 40% de suas lavouras cultivadas. “Ocorre que qualquer interferência climática pode resultar em perdas por lá também e o mundo está de olho nisso. Por enquanto o comportamento do clima está normal”, destacou o analista de mercado Camilo Motter.

Há indícios, no entanto, que essa marcha mais lenta nas vendas de soja na região e no Brasil neste mês não deve prosseguir por muito tempo. “As novas pegadas de alta [nas vendas] só acontece, na minha visão, depois que embarcar boa parte do volume já negociado”, completa o especialista.

Ao que tudo indica, portanto, o retorno das negociações mais aceleradas, se muitos fatores externos não pesarem, deve ser retomado só a partir do mês que vem.