Cotidiano

Documentos sobre ditadura argentina revelam tentativa de aproximação com governo Carter

BUENOS AIRES — Novos documentos liberados pelos Estados Unidos sobre a ditadura na Argentina revelam uma tentativa do ditador Jorge Videla de se aproximar do governo de James Carter, além do ocultamento de informações por parte de funcionários americanos sobre o que se passava durante o regime militar argentino (1976-1983). Os 1.081 arquivos confidenciais foram distribuídos a organizações de Direitos Humanos e à imprensa na tarde de segunda-feira na Casa Rosada.

Casos emblemáticos como o sequestro e tortura sofridos pelo político socialista Alfredo Bravo e pelo jornalista Jacobo Timerman são descritos no material, podendo servir em processos judiciais contra os militares por violação de direitos humanos.

De acordo com o jornal “Clarín”, funcionários americanos ocultavam informações recebidas sobre a Argentina: partes de um relatório da subsecretária de Direitos Humanos de Carter, Patricia Derian, foram apagadas por ordem do então secretário de Estado Henry Kissinger.

Nos textos, constam o testemunho de Alfredo Bravo, que em uma conversa com o então embaixador em Buenos Aires, Raúl Castro, em 28 de agosto de 1978, detalha “o horror de sua detenção e tortura e denunciou a técnica conhecida como afogamento simulado”.

Sobre Jacobo Timerman, há uma carta do embaixador em Tel Aviv a Patricia Derian. Nela, é relatada que o repórter se reuniu com jornalistas na cidade israelense e afirmou que “ainda não iria escrever sobre sua experiência na Argentina por medo de represálias”. Em 1977, Timerman foi sequestrado e brutalmente torturado. Ele foi libertado três anos depois.

Há ainda uma carta de Videla a Carter justificando a detenção de Alejandro, sua mulher Elena Deutsch e suas três filhas, de quem o presidente dos Estados Unidos havia mostrado interessado.

“Membros ativos do Partido Comunista Revolucionário, integrantes do grupo terrorista e desenvolvem tarefas de inteligência”, descreve o ditador.

Nos documentos, também tem uma carta de Carter para Videla se desculpando por não ter ido ao casamento de um dos filhos do militar, num convite que demonstraria o interesse da ditadura na Argentina em se aproximar do governo dos Estados Unidos.

Em sua visita a Buenos Aires, em março passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comprometeu-se a abrir novos arquivos em poder do governo americano que contenham informações sobre ações da última ditadura argentina.

Os novos documentos foram entregues na quinta-feira passada pelo secretário de Estado americano, John Kerry, ao presidente da Argentina, Mauricio Macri.