Cotidiano

Documentário leva história do Brasil para a sala de aula

GetContent[3].jpgRIO ? Cinquenta crianças negras escravizadas não chocavam a pequena Campina de
Monte Alegre, interior de São Paulo, na década de 1930. Levadas de um orfanato
do Rio por uma família rica, elas foram submetidas a trabalho forçado. É este o
triste passado do Brasil descrito no documentário ?Menino 23?, que será o ponto
de partida para um debate sobre novas formas de utilização de recursos
audiovisuais em sala de aula durante o encontro Educação 360. Realizado pelos
jornais O GLOBO e ?Extra?, em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio e com apoio da TV Globo
e do Canal Futura, o evento acontecerá nos dias 23 e 24 de setembro, na Escola
Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá.

Além de ?Menino 23?, a iniciativa Criativos da Escola e
o projeto social da Escola Sesc serão
apresentados no mesmo módulo do encontro. O debate terá a presença do sociólogo
Cesar Callegari, diretor da Faculdade Sesi-SP de Educação e membro do Conselho Nacional
de Educação (CNE), e da professora Jaqueline Moll, da Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), com mediação do jornalista Antônio Gois, colunista do GLOBO.

? Vamos falar sobre a expansão do processo de educação
para além da sala de aula. Serão dois focos: um nas plataformas multimídias,
como cinema e redes sociais, e outro na valorização da memória ? adianta o
historiador Sidney Aguilar Filho, autor da tese de doutorado em História da
Educação que serviu de base para a o filme de Belisário Franca, em cartaz nos
cinemas.

Aguilar defende que a memória histórica é fundamental para se pensar, através
dos recursos audiovisuais e mídias sociais, a atual educação brasileira. O
processo deve levar em consideração o que deu certo e o que deu errado.

? O filme trata justamente de um projeto educacional da década de 1930 que
produziu resultados vitoriosos para uma determinada parcela da sociedade, que
não foram as crianças ou os que defendem a democracia ? afirma Aguilar: ? Há uma
interseção entre as plataformas multimídias e a produção educacional básica,
principalmente do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e no ensino médio.

O pesquisador dava uma aula em 1998 sobre a Segunda
Guerra Mundial quando uma aluna disse que conhecia uma fazenda feita de tijolos
com o símbolo do nazismo. A investigação do professor levou à história dos 50
meninos que foram escravizados pela família Rocha Miranda, influente na região e
no Rio, então a capital do Brasil. O historiador conseguiu encontrar duas
vítimas ainda vivas: Aloísio Silva e Argemino Santos.

? Esse trabalho teve o poder de me transformar. Passei a ser mais cuidadoso
na relação com meus alunos. O que encontrei nessa pesquisa foi uma sociedade que
julgava aquilo aceitável e até desejável. Isso me traz uma preocupação em sempre
ter cuidado e refletir sobre nosso comportamento ? afirma.

Os garotos viveram quase dez anos na fazenda. Lá, eram tratados apenas como
números. Aloísio Silva foi o menino 23, que dá nome ao documentário. O cárcere
terminou quando o presidente Getúlio Vargas se aliou aos Estados Unidos, na
Segunda Guerra, e passou a ser crime fazer menção ao nazismo. ?Eles (os
fazendeiros) abriram a porteira e mandaram a gente embora. Simplesmente, que nem
gado?, lembra, na obra, Aloísio Silva, que morreu em 2015.

? Quando seu Aloísio contou sua história, a narrativa que ele apresentava
coincidia com os documentos que eu tinha encontrado. Ele falava, por exemplo,
que tinha saído de uma tal Casa da Roda no Rio de Janeiro, e eu já tinha
encontrado a Casa da Roda, que era o orfanato Romão de Mattos Duarte. Tinha também encontrado os livros
de entrada e saída dos órfãos, conhecia o nome da maioria dos meninos, inclusive
de Seu Aloísio. Então, tinha tudo nas mãos, e conforme ele ia contando, aquilo
ia se encaixando ? diz o pesquisador.

OUTRA DIMENSÃO DE ESTUDO

GetContent[2].jpgToda uma campanha de impacto foi montada para transformar ?Menino 23? num
dispositivo pedagógico para instituições de ensino e ONGs voltadas aos mais
variados públicos.

? Devido às temáticas espinhosas dentro de um contexto
histórico, estruturamos a campanha em torno de ?Menino 23? para promover a
reflexão sobre temas como racismo, exploração do trabalho infantil negro,
trabalho escravo e direitos humanos. Organizamos o debate de acordo com o
público, e cada aluno responde de acordo com o contexto cultural em que vive ?
conta Rossana Giesteira, responsável por levar o filme para as escolas e
promover os valiosos debates.

Participaram do projeto 34 instituições educacionais, impactando 3200
pessoas.

? Assuntos difíceis dentro do audiovisual podem e devem ser explorados de
forma mais profunda e estruturada para impactar as pessoas de forma que elas
reflitam mais sobre o tema ? acredita Rossana.

* Do Extra.